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Análise: Dados mostram nova geografia da devastação


O ministro do Meio Ambiente chamou uma entrevista coletiva para comemorar a previsão de queda no desmatamento em 2009. Mas omitiu que os dados divulgados pelo Inpe são quase todos negativos: o desmatamento em 2008 foi quase 1.000 km2 maior do que se estimava; Pará e Maranhão estão fora de controle; e a devastação está cada vez mais espalhada pela Amazônia.

O dado do Prodes (sistema que calcula efetivamente a taxa de desmatamento), divulgado ontem sem alarde pelo Inpe, mostra que a devastação em 2008 foi de 12.911 km2, não de 11.968 km2. O governo vinha se fiando nesse dado para dizer que houve "empate técnico" entre 2008 e 2007. Ou seja, para todos os efeitos, havia queda no desmatamento por quatro anos seguidos.

O novo dado, obtido a partir de 334 imagens de satélite, mostra que a curva virou em 2008 e a devastação voltou a crescer. A tendência para 2009 é de queda.

Mas é na análise da série histórica de dados do monitoramento por satélite que está a notícia mais problemática: o padrão geográfico do desmatamento mudou.

A devastação saiu do chamado Arco do Desmatamento (sudeste do Pará, norte de Mato Grosso e Rondônia) e se concentrou no coração do Pará e no Maranhão. O desmate parece ter se estabilizado em Rondônia e em Mato Grosso. Para o diretor do Inpe, Gilberto Câmara, a destruição está "mais difícil de combater e prever".

Os dois principais focos da "metástase" do desmate são a Terra do Meio e o eixo da BR-163 (Cuiabá-Santarém). O fato de o desmatamento persistir ali significa que as medidas de "governança" adotadas a partir de 2005 -criação de unidades de conservação e interdição de áreas- fracassaram.

Um alerta sombrio para um governo que se prepara, usando as ações na BR-163 como exemplo, para rasgar mais um eixo de devastação na Amazônia, a BR-319.

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