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Análise semanal do mercado da soja

Comentários referentes ao período entre 20/07/2012 a 02/08/2012


Comentários referentes ao período entre 20/07/2012 a 02/08/2012

Por *Prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
        Emerson Juliano Lucca²

Nestas duas semanas em que ficamos ausentes, as cotações da soja tiveram fortes variações. Saindo de um recorde histórico de US$ 17,57/bushel no dia 20/07, as mesmas recuaram dois dias após para US$ 16,49. Posteriormente voltaram a subir, atingindo a US$ 17,25/bushel no dia 30/07, fechando esta quinta-feira (02/08) em US$ 16,53. O fato é que todo o mês de julho, em função da seca nos EUA, Chicago trabalhou em forte alta, terminando com a média mensal de US$ 16,58/bushel, contra US$ 14,21 na média de junho. Isso representa, na comparação entre as médias, uma elevação superior a dois dólares por bushel.

Os recuos eventuais ocorridos nestes últimos 14 dias se devem particularmente a tomada de lucro por parte dos operadores na Bolsa, em especial os especuladores, diante de anúncios de retorno de chuvas ainda esparsas nas regiões produtoras dos EUA. Nesse sentido, o mês de agosto passa a ser decisivo para definir um rumo nos
preços mundiais. E, no contexto, o novo relatório de oferta e demanda do USDA, previsto para o dia 10/08, contará muito, pois deverá dar um quadro bem mais exato das reais perdas na produção estadunidense. Por enquanto, os números anunciados para a soja não são muito expressivos, apesar das elevações das cotações. Fala-se numa colheita abaixo de 80 milhões de toneladas, contra uma estimativa de 83 milhões anunciadas em julho pelo USDA. Mas o mercado vem apostando em quebra maior nesse momento.

Nesse sentido, estimativas privadas vêm cortando a produtividade, particularmente do milho, mas também parcialmente da soja. Nesse último caso, até esse início de agosto estimava-se uma safra de soja de 78,7 milhões de toneladas, contra 82 milhões na estimativa anterior desses mesmos analistas.

O fato é que as lavouras de soja nos EUA entraram agora em seu ciclo decisivo. Como a seca não cede, as condições das lavouras locais vêm caindo a cada semana. Assim, até o dia 29/07 as mesmas indicavam 37% entre ruins a muito ruins, 34% regulares e somente 29% entre boas a excelentes. Nessa situação, é bem provável que o número final a ser colhido seja ainda menor do que o indicado acima. Para o milho o quadro indica 48% entre ruins a muito ruins, 28% regulares e tão somente 24% entre boas a excelentes. Na soja, 88% das lavouras estão em floração e 55% em frutificação. Quanto a umidade dos solos, dos 11 principais estados produtores da oleaginosa, 10 continuavam, nesse início de agosto, em condições muito secas.

Já os embarques semanais de soja pelos EUA, na semana encerrada em 26/07, atingiram a 421.800 toneladas, acumulando desde setembro passado um total de 34,9 milhões de toneladas, contra 39,4 milhões em igual período do ano anterior. Por sua vez, os registros de exportação, na semana encerrada em 19/07 apontaram um volume de 710.500 toneladas, ficando acima das expectativas do mercado.

Pelo lado da demanda, a China anunciou importações de 5,62 milhões de toneladas de soja em junho passado, volume esse 31% acima do registrado em mesmo mês do ano passado. Em relação a maio, o aumento foi de 6%. No acumulado do ano os chineses teriam importando 29,05 milhões de toneladas, com aumento de 22,5% sobre o mesmo período do ano anterior. Paralelamente, diante dos altos preços mundiais, a China anuncia que irá retomar a venda de seus estoques de soja no mercado interno para evitar o aumento da inflação interna. O país asiático está vendendo estoques da safra 2009/10. Esse comportamento tende a frear as altas em Chicago, pelo menos no curto prazo, caso igualmente o clima nos EUA se acomode. (cf. Safras & Mercado)

Na Argentina, o governo local anunciou que a colheita da soja se encerrou oficialmente em 26/07, com 17,4 milhões de hectares e uma produção final de 39,9 milhões de toneladas, após as suas regiões produtoras igualmente serem atingidas pela forte seca do verão 2011/12.

Enfim, os prêmios nos portos brasileiros cederam um pouco, girando entre US$ 1,70 e US$ 2,20/bushel no momento. Para abril do próximo ano Paranaguá trabalha agora com prêmios entre zero e cinco centavos positivos. Já no Golfo do México (EUA), diante da iminência de quebra na safra estadunidense, os prêmios oscilam entre 75 e 85 centavos de dólar enquanto em Rosário, na Argentina, os mesmos ficam entre US$ 1,20 e US$ 1,40/bushel. (cf. Safras & Mercado)

No Brasil, onde a oferta de soja é cada vez mais escassa, as fortes elevações de preços, puxadas pela quebra da safra e pelas altas em Chicago, estão colocando as empresas compradoras em geral em dificuldade para conseguirem liquidez imediata a fim de pagarem a soja vendida pelos produtores. Além disso, com o pouco volume de soja ainda disponível da última safra o mercado começa a travar.

A média gaúcha, no balcão, chegou a R$ 70,00/saco nesta semana, enquanto os lotes oscilam entre R$ 81,50 e R$ 82,25/saco. Nas demais praças nacionais, os lotes oscilam entre R$ 71,25/saco em Sapezal (MT) e R$ 84,00/saco no oeste e norte do Paraná. Preços sem dúvida muito altos e que comprometem a estabilidade da cadeia produtiva da oleaginosa, sem falar nos custos de produção junto as cadeias das carnes e derivados animais. Na BM&F/Bovespa o contrato para setembro/12 ficou em US$ 39,90/saco, enquanto o maio/13 fechou a semana em US$ 30,70/saco.

Quanto ao mercado futuro, os preços continuam excelentes e acima de qualquer normalidade, caso tenhamos safra cheia no próximo verão. No Paraná os mesmos estão em US$ 31,40/saco posto em Paranaguá, para março/13. Ao câmbio de hoje isso indica preços no interior bem menores do que os atuais evidentemente, porém, mesmo assim elevados.No Rio Grande do Sul, para maio/13, o saco esteve cotado a R$ 62,00 no interior, para compra. No Mato Grosso do Sul, o valor para março/13 ficou em R$ 57,00/saco. Em Goiás, para fevereiro/13, o saco esteve a R$ 60,00. Em Minas Gerais, o produto ficou cotado a R$ 56,00/saco para abril/13, enquanto na Bahia atingiu a R$ 55,60/saco para maio/13. No Maranhão o valor do saco para maio/13 é de R$ 55,00, enquanto no Piauí fica em R$ 55,50. As diferenças entre os preços atuais e os preços futuros já alcançam R$ 20,00/saco para menos em muitas praças. E a tendência, em safra cheia, é de o preço baixar ainda mais, embora muita coisa dependa de Chicago.

Todavia, igualmente nessa Bolsa, as cotações para maio/13 são menores, ficando nesse início de agosto ao redor de US$ 14,50/bushel. (cf. Safras & Mercado)

Ou seja, Chicago, embora possa ainda subir, dependendo da seca nos EUA, está no limite de alta, onde na ponta compradora já não haveria mais espaço para absorver tamanhas altas. Assim, salvo um desastre, a tendência é que esse mercado se reestruture e volte a patamares racionais, entre US$ 10,00 e US$ 14,00/bushel em
2013, fato que, em se mantendo o câmbio atual no Brasil e ocorrendo as reduções esperadas nos prêmios portuárias, traria os preços da soja, em nossa futura safra, se ela realmente alcançar 83 milhões de toneladas (projeções iniciais) a preços entre R$ 48,00 e R$ 52,00/saco. Apesar do recuo em relação aos atuais preços, ainda assim excelentes preços médios em se considerando safra cheia.

Abaixo seguem os gráficos da variação de preços da soja e seus derivados no período
 
 
 
1_Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris-França,
coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.

2_Economista, Analista e responsável técnico pelo Laboratório de Economia Aplicada e CEEMA
vinculado ao DACEC/UNIJUÍ.
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