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Análise semanal do mercado do trigo

O fator especulativo foi o elemento principal das altas


Prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
Emerson Juliano Lucca²

Comentários referentes ao período entre 16/12 a 21/12/201
 
As cotações do trigo, em Chicago, se recuperaram um pouco, na esteira do comportamento altista da soja e do milho, tendo por motivo os mesmos elementos destes outros grãos, embora a produção geral de trigo esteja em crescimento. O fator especulativo, portanto, foi o elemento principal das altas da última semana. Com isso, o fechamento do dia 21/12 ficou em US$ 6,17/bushel, contra US$ 5,79 no dia 15/12.

Dito isso as vendas líquidas estadunidenses de trigo, referentes à temporada comercial 2011/12, que teve início em 1º de junho, ficaram em 318.400 toneladas na semana encerrada em 08 de dezembro, contra 427.200 toneladas na semana anterior. O Japão, que adquiriu 78.700 toneladas, foi o principal comprador do produto estadunidense. A forte competitividade estabelecida no mercado internacional nesta temporada comercial vem dificultando as exportações norte-americanas de trigo. (cf. Safras & Mercado)

Já as inspeções de exportação de trigo, por parte dos EUA, chegaram a 444.300 toneladas na semana encerrada em 15 de dezembro. No acumulado do ano comercial, iniciado em 1º de junho, as inspeções somam 15,4 milhões de toneladas, contra 17 milhões no mesmo período do ano anterior.
 
Por sua vez, na União Europeia, as exportações estão em recuo, ficando em 14,9 milhões de toneladas no acumulado até o momento.

Na Argentina, a Bolsa de Buenos Aires aumentou para 13,6 milhões de toneladas a estimativa de colheita de trigo no país, sendo que 52% já foi colhido até meados deste mês de dezembro. O Brasil é o principal comprador do trigo argentino.

Quanto aos preços no Mercosul, os mesmos continuam recuando. Na Argentina, o mercado livre praticou US$ 210,00/tonelada na compra e US$ 215,00/tonelada na venda no Up River e em Necochea. Em relação ao mês passado as cotações nestas regiões apresentam uma retração de 8,7% e 6,7%, respectivamente. Comparado à igual momento do ano passado a queda é de 30%, enquanto o recuo na Bolsa de Chicago foi de 19%. Ou seja, o trigo do Mercosul está muito competitivo. Por exemplo, na última semana a indicação de preço no porto de Baia Blanca ficou em US$ 220,00/tonelada. A este preço o cereal argentino estaria, no CIF de São Paulo, a US$ 270,00/tonelada. Com o câmbio a R$ 1,84 por dólar isso corresponde a R$ 500,00/tonelada. Para chegar ao mesmo preço na capital paulista o trigo paranaense, por exemplo, teria que ser vendido a R$ 415,00/tonelada no FOB. Isso mostra que a paridade de importação continuará pressionando preços no Brasil e somente a intervenção do governo poderá aliviar esta pressão. No Uruguai a tonelada é indicada a US$ 210,00/tonelada. O trigo paraguaio, com embarque em Nova Palmira/Uruguai, ficou a US$ 225,00/tonelada. Enquanto isso, o trigo brasileiro para dezembro/janeiro ficou com indicação de preço a US$ 210,00/tonelada no porto de Rio Grande. (cf. Safras & Mercado)

No Brasil, os preços continuam desastrosamente baixos e o cancelamento dos leilões da Conab só piorou a situação. Para que o trigo paranaense chegue ao mercado de São Paulo (cif), com o mesmo preço do argentino, ele teria que baixar de R$ 450,00 para R$ 415,00/tonelada. Isso impede o fechamento de negócios. Em praticamente todos os estados produtores os preços de mercado estão abaixo do preço mínimo estabelecido para esta temporada comercial, o que confirma a necessidade de que os leilões da Conab sejam retomados.

Neste sentido, enquanto o balcão gaúcho recua, na média, abaixo de R$ 24,00/saco, os lotes giram entre R$ 415,00 e R$ 420,00/tonelada. Já no Paraná, os lotes ficam em R$ 455,00/tonelada, na média da semana.
No geral, a perspectiva continua sendo de preços mais baixos, inclusive no cenário internacional.

Enfim, no Paraná a produção deste ano de 2011 recuou 30%, ficando em 2,4 milhões de toneladas. Além do recuo de 11% na área semeada, houve igualmente frustração climática importante. No Rio Grande do Sul, segundo maior produtor nacional, a safra bateu um recorde histórico, chegando a 2,42 milhões de toneladas, segundo a Emater. O recorde anterior era de 2004, com uma produção de 2,4 milhões. Em 2011, ao contrário do Paraná, a área gaúcha aumentou em 10,6% nesta última safra, enquanto a produtividade cresceu 25,6%, se estabelecendo em 2.746 quilos/hectare, em média.
 
Diante deste quadro de oferta, e sem os leilões de PEP e PEPRO do governo, as indústrias estão praticamente ausentes do mercado, fato que eleva o excedente do cereal na ordem de 700.000 toneladas no Estado gaúcho. (cf. Safras & Mercado)

Abaixo segue o gráfico da variação de preços do trigo no período entre 25/11/2011 e 21/12/2011.
 
 
 
1 Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2 Economista, Analista e responsável técnico pelo Laboratório de Economia Aplicada e CEEMA vinculado ao DACEC/UNIJUÍ.

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