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Análise semanal do mercado do trigo

O mercado se mantém pressionado pelo aumento da safra mundial e dos estoques


Comentários referentes ao período entre 10/02/2012 a 16/02/2012

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum1
Emerson Juliano Lucca2
 
As cotações do trigo em Chicago igualmente cederam durante a semana, saindo de US$ 6,46/bushel no dia 09/02 e fechando a semana (16/02) em US$ 6,28, após US$ 6,26 no dia anterior. Um ano antes as mesmas registravam US$ 8,37/bushel, enquanto o último dia de 2011 ficou em US$ 6,52.

O mercado se mantém pressionado pelo aumento da safra mundial e dos estoques em geral, diante de uma demanda normal. Nestas condições, nem mesmo a pressão no mercado da soja e a presença dos especuladores financeiros estão dando sustentação ao cereal.

Por sua vez, as inspeções para exportação do produto dos EUA alcançaram o volume de 449.090 toneladas na semana encerrada em 09/02. No acumulado do ano comercial, iniciado em 01/06/2011, o volume chega a 18,8 milhões de toneladas, contra 22,1 milhões em igual período do ano anterior. Ou seja, assim como o milho, o trigo dos EUA encontra maiores dificuldades de escoamento neste novo ano comercial.

Paralelamente, na Austrália as exportações do produto subiram para 2,06 milhões de toneladas em dezembro passado, com alta de 17% sobre novembro e 65% sobre o mesmo mês de 2010. O total de embarques australianos, no ano comercial iniciado em 01/10/2011, é maior em 31% em relação ao mesmo período do ano anterior. Ainda na Austrália, a projeção da safra 2011/12 foi elevada para o recorde de 29,5 milhões de toneladas.
No Mercosul, os preços da tonelada de trigo nos diferentes portos se mantiveram ao redor dos valores já conhecidos neste mês de fevereiro, porém, em alta em relação a janeiro. O Up River argentino ficou em US$ 260,00 para compra, sendo 22,1% acima do registrado em janeiro passado. No Uruguai, o valor ficou em US$ 255,00 para compra, com 17,5% acima do valor médio registrado em janeiro. Já no Paraguai, a tonelada para compra ficou em US$ 245,00, com aumento de 15,6% sobre o valor de janeiro passado. (cf. Safras & Mercado)
No Brasil, enquanto o balcão gaúcho se mantém na média de R$ 23,90/saco e, em muitas regiões, não há compradores para o trigo, os lotes melhoraram um pouco, passando para valores entre R$ 418,00 e R$ 427,00/tonelada. No Paraná, os mesmos ficaram em R$ 467,00/tonelada.
 
Essa melhoria se deve a novos leilões do governo. No dia 10/02 foram realizados dois leilões de PEP e um de Pepro. Nos leilões de PEP, de um total de 320.000 toneladas ofertadas, foram negociadas 218.000 toneladas ou 68,1%. No leilão de Pepro, das 35.000 toneladas ofertadas, 11.000 foram negociadas ou 31,4%.

Já nesta quinta-feira (16) estavam previstos leilões de venda dos estoques públicos, com oferta de trigo pão tipo 1 ao preço de R$ 535,00/tonelada e o trigo pão tipo 2 a R$ 491,00/tonelada.

Vale destacar que os moinhos estão com os silos cheios, não interessando aquisições imediatas, o que freia bastante o mercado. Os mesmos levantam a preocupação de que o excesso de leilões possa reduzir muito a oferta de trigo na entressafra. Isso pode ser visto também como uma preparação de terreno para o aumento futuro dos preços dos derivados de trigo aos consumidores, já que há trigo sobrando no país.

Pelo sim ou pelo não, o fato é que a CONAB anunciou um leilão de Pepro e mais dois leilões de PEP para este dia 17/02, com oferta total de 410.000 toneladas.

Esse movimento oficial trouxe o mercado do trigo, na primeira quinzena de fevereiro, para níveis um pouco melhores, com maior presença de compradores. Isso permitiu que o preço mínimo, nos lotes, fosse alcançado, com o trigo de boa qualidade ficando entre R$ 477,00 e R$ 480,00/tonelada no interior do Paraná na ponta vendedora. No Rio Grande do Sul, todavia, a situação é um pouco mais difícil. Todavia, espera-se que o início dos leilões de trigo para ração animal ajude a melhorar o quadro difícil deste mercado nacional.

Enfim, a semana fechou com o anúncio de que o governo destinaria, para a safra de inverno brasileiro, R$ 3 bilhões, sendo R$ 1,2 bilhão para custeio. Espera-se o anúncio oficial até o dia 15/03. Circulam notícias de que o preço mínimo de garantia seria elevado em 5%, se aproximando de R$ 512,00/tonelada, contra os atuais R$ 477,00. O estímulo oficial à produção vem de encontro à difícil realidade de comercialização do produto nacional, diante das importações facilitadas pelo câmbio e a redução dos preços mundiais do cereal. Tanto é verdade que, segundo a OCEPAR, existe ainda 1,5 milhão de toneladas da última safra para serem colocadas no mercado, sendo um milhão no Paraná e 500.000 toneladas no Rio Grande do Sul, número esse que nos parece subestimado perante a excelente colheita verificada no Estado gaúcho.

Abaixo segue o gráfico da variação de preços do trigo no período entre 20/01 e 16/02/2012.
 
 

1 Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2 Economista, Analista e responsável técnico pelo Laboratório de Economia Aplicada e CEEMA vinculado ao DACEC/UNIJUÍ.

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