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Aquecimento global ameaça agricultura brasileira

O aquecimento global vai ter um impacto drástico na agricultura brasileira


O aquecimento global vai ter um impacto drástico na agricultura brasileira. Num estudo recém-concluído, pesquisadores da Embrapa Informática, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostram que o café, o arroz, o feijão, o milho e a soja terão suas áreas aptas ao cultivo reduzidas praticamente pela metade, assim que a temperatura média da Terra estiver 5,8°C acima da atual.

Esse aumento da temperatura deve ocorrer num prazo de 50 a 100 anos, conforme previsão do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês). "É preciso ressaltar, no entanto, que já há cientistas que dizem que a temperatura do planeta vai aumentar na verdade 11°C nos próximos 100 anos", diz o coordenador do trabalho sobre as conseqüências desse aquecimento global na agricultura brasileira, Eduardo Assad, da Embrapa Informática. "O que é certo é que nos próximos 15 anos a Terra vai ficar 1°C mais quente."

Assad e Hilton Silveira Pinto, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), da Unicamp, pegaram os dados do zoneamento agrícola brasileiro, feito pelo Ministério da Agricultura, e em cima deles simularam em computador o impacto do aumento da temperatura.

Esse zoneamento estabelece a melhor época, área e tipo de solo para cada cultura agrícola em cada município brasileiro. Os pesquisadores pegaram essas informações e calcularam a área potencial que o Brasil tem para o cultivo de quatro das cinco culturas estudadas. "Pelos nossos cálculos, o País tem uma área potencial de 3 milhões de quilômetros quadrados para cultivo de soja, 4,8 milhões para o arroz de sequeiro (não irrigado), 3,5 milhões para o feijão e 5,2 milhões para o milho", explica Assad.

Para cada uma dessas culturas, eles simularam o impacto que teria o aumento da temperatura média global de 1°C, 3°C e 5 8°C. Assad explica que o aumento da temperatura altera o regime de chuvas, de evaporação da água e da transpiração das plantas. Assim, áreas que eram próprias para a plantação de determinada cultura deixam de sê-lo e outras que não era adequadas passam a ser.

O ponto comum para as culturas estudadas é que a área potencial para o cultivo de todas elas diminuiu. "Com o aumento de 1°C, as áreas para o plantio de soja, arroz, feijão e milho caem respectivamente para 2,7, 4,1, 3,1 e 5,1 milhões de quilômetros quadrados", diz Assad. "Com um acréscimo de 3°C essas áreas diminuem para 2,1, 3,7, 2,2 e 4,7 milhões km². No pior cenário, com aquecimento de 5,8° C, as áreas aptas para o cultivo de soja, arroz, feijão e milho passam a ser respectivamente de 1,2, 3, 1,5 e 4,3 milhões de km²."

REGIÃO

No caso do café, os dados são de apenas quatro Estados e mostrados em termos de porcentagem da área total de cada um. "São Paulo, por exemplo, tem hoje 39% de seu território apto para o plantio de café", afirma Assad. "Com um aumento de 5 8° C da temperatura média, essa área seria reduzida para apenas 1,1% do Estado." Com o mesmo aquecimento, a área potencial para o cultivo de café cairia de 8,9% do território para 5,8% em Minas, de 38% para zero em Goiás e de 10,1% para 5,4% no Paraná."

Além da diminuição da área cultivável, outro efeito do aquecimento global será a redistribuição das culturas no território. "A soja praticamente desaparecerá do Sul e se concentrará no Centro-Oeste", diz Assad. "O café deixará o Sudeste para o Sul."

De acordo com ele, o objetivo do trabalho é alertar as autoridades e a comunidade científica para a necessidade de adoção de medidas para evitar o que pode vir a ser um desastre para a agricultura e a economia do País. "Temos ainda 50 anos para isso", observa. "Uma forma de evitar a tragédia é começar a pesquisar para aproveitar a biodiversidade do País."

Assad lembra que o Brasil tem enorme reserva de plantas nativas no cerrado resistentes ao calor e à seca. "Podemos pegar os genes que dão essas características às plantas e transferi-los para as espécies que cultivamos. Nenhum outro país tem esse potencial."

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