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Arroz em casca desvaloriza 2,36% em setembro e tendência é de preços estáveis

Desde o segundo leilão de oferta dos estoques públicos o mercado não reage e a tendência é de baixa oscilação de preços até o final do ano


Se o objetivo do governo federal era manter as cotações do arroz em casca abaixo de R$ 34,00 no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, os leilões de oferta de estoques públicos acertaram em cheio o seu alvo. Desde o mais recente leilão, há três semanas, os preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul enfraqueceram. Em setembro, segundo o indicador de preços do arroz em casca ESALQ/Bolsa Brasileira de Mercadorias-BM&FBovespa, as cotações acumularam queda de 2,36%, para R$ 33,94 a saca de 50 quilos (58x10), à vista, colocada na indústria. Em dólar, pela cotação do último dia 30, uma saca equivalia a US$ 15,31.

Nas duas últimas semanas viveu a expectativa de que um novo edital fosse lançado para leilão na próxima semana, mas a retração dos preços manteve o governo fora do mercado, obedecendo ao seu critério de ofertar estoques somente quando as cotações superarem os R$ 34,00.

Na quarta-feira (2), o indicador CEPEA fechou em R$ 33,97, com mínima elevação positiva de 0,09%, mas com a saca cotada em US$ 15,46 em função da variação cambial. No mercado livre, a Zona Sul segue com médias mais altas em função de recente movimentação de compra de tradings que devem movimentar cerca de 35 mil toneladas para países da América do Sul e Caribe. Os incentivos que as indústrias gaúchas receberam para adquirir grão de produtores locais vêm fazendo efeito e segurando parcialmente as importações para este destino, todavia, o ingresso de cereal paraguaio pelo Paraná e do Mercosul, pelo Nordeste e Sudeste, registra aumento.

No mercado livre o arroz gaúcho varia entre R$ 33,00 e R$ 34,00, mas com oferta limitada pelo produtor e a indústria comprando apenas o indispensável, pois segue com dificuldade de repassar valores ao varejo e ao atacado. Em Santa Catarina, as cotações médias variam, dependendo da praça, entre R$ 31,00 (Jaraguá do Sul) e R$ 33,50 (Turvo). No Mato Grosso, as praças de Sinop e Sorriso operam com preços referenciais de R$ 46,00 para a saca de 60 quilos (55% acima).

Para o Sul do Brasil, a esta altura do ano, uma recuperação mais importante de preços está associada a uma significativa evolução das exportações, o que dificilmente acontecerá face ao cenário internacional. Sendo assim, a expectativa é de que os preços se mantenham até o final do ano entre R$ 32,00 e R$ 35,00, com pequenas oscilações e dependentes do humor do mercado frente à balança comercial, as dimensões da próxima safra, a política cambial o fluxo de oferta dos produtores – demanda da indústria - e, principalmente, às intervenções do governo.

SAFRA

A expectativa do setor produtivo, neste momento, está voltada à divulgação pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na próxima semana, do seu tradicional levantamento da safra de grãos. Espera-se que a empresa já divulgue uma primeira prévia da intenção de plantio no País. No Rio Grande do Sul, o Irga projeta um aumento de 2% na área e 5% em produção, por conta da boa recuperação das barragens de irrigação e a previsão de tempo quente e seco para o verão. Ainda assim, as chuvas dos últimos dias e as temperaturas amenas deste início de outubro estão atrasando a emergência do arroz em quase todas as regiões gaúchas, o que poderá alongar o ciclo da safra de 15 a 30 dias. A semeadura gaúcha deve avançar mais significativamente esta semana, em função de um clima mais estável, em que pese a previsão de uma primeira semana de outubro de noites frias e chuvas eventuais.

Em Santa Catarina, muitos municípios já concluíram o plantio. A área deverá permanecer estável em cerca de 155 mil hectares e a produção prevista fica em torno de 1,05 a 1,1 milhão de toneladas. O Mato Grosso recém está planejando a semeadura, que começa em novembro.

No próximo sábado, no Parque de Exposições Zé Terra, do Sindicato Rural de Mostardas (RS), acontecerá 10ª Abertura Oficial do Plantio do Arroz, promoção da Federarroz e Associação de Arrozeiros de Mostardas e Tavares. O evento técnico terá palestras sobre sistemas alternativos de cultivo em várzea, irrigação e solos, além de uma palestra do secretário nacional de Política Agrícola, Neri Geller, sobre as expectativas e potencialidades do arroz gaúcho. À noite, um jantar baile reunirá a comunidade local e a cadeia produtiva para a escolha das soberanas da 24ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, que acontecerá em fevereiro, em Mostardas.

EXPORTAÇÕES

A concorrência da safra norte-americana, que terminou de ser colhida em setembro, além do Mercosul e a falta de competitividade pelos preços internos e a relação cambial, são fatores que ajudaram a enfraquecer a presença brasileira como fornecedor de arroz no comércio internacional. O Brasil é naturalmente um fornecedor do grão no primeiro semestre, aproveitando a entressafra estadunidense e a natural curva de queda dos preços internos pela pressão de oferta da safra nacional. Este ano, esta curva não ocorreu, os preços médios se mantiveram altos e, apesar da desvalorização parcial do real frente ao dólar, poucos negócios ocorreram. Em setembro é prevista uma queda importante nos embarques. Para outubro, dois embarques estão previstos em Rio Grande, o que só tem ajudado a manter estáveis os preços médios do arroz ao produtor da Zona Sul e reduzir a ociosidade do parque industrial da região.

Atualmente, nem é o problema de preços que afeta o setor, mas especialmente a falta de demanda internacional. Os estoques internacionais aumentaram, a Ásia ampliou sua presença no continente africano, os Estados Unidos entraram no mercado da América do Sul, África e Caribe com força desde agosto, apesar de enfrentarem um sério problema de qualidade – mistura de híbridos, variedades e baixo percentual de inteiros – e alguns países da África, tradicionais compradores do Brasil, adotaram políticas de incentivo à produção interna e aumentaram os impostos sobre a importação retirando a competitividade do arroz brasileiro. Essa demanda, especialmente, voltada a países como a Nigéria, que já foi o maior importador do Brasil, exigirá grande esforço diplomático, uma vez que alguns países estão isentos da taxa.

GUERRA

Por outro lado, a perda de qualidade e competitividade do arroz dos Estados Unidos, onde um volume significativo de produtores está optando por plantar soja e milho, está gerando outros problemas para o Brasil. A USA Rice Federation encaminhou denúncia ao governo estadunidense – um dos que mais oferta subsídios no mundo à produção agrícola – de que o Brasil teria criado subsídios indiretos à exportação de arroz em 2011. Diplomatas norte-americanos acionaram a Organização Mundial de Comércio (OMC) que pediu explicações ao governo brasileiro. As respostas já foram enviadas, negando qualquer tipo de benefício que infrinja as regras do comércio internacional. Além disso, os americanos tentaram impedir que uma carga brasileira de arroz fosse desembarcada na América Central, alegadamente por problemas sanitários. Neste caso a cadeia produtiva e o governo brasileiro agiram rapidamente e resolveram o impasse, garantindo a entrega do carregamento.

Ainda assim, está claro que o Brasil começou a afetar e ganhar mercados dos Estados Unidos nos últimos anos, - o que não é uma realidade em 2013 - o suficiente para que os produtores daquele país declarem guerra aos embarques brasileiros. E fica clara, também, a razão pela qual representantes setoriais estadunidenses se fizeram tão presentes em eventos arrozeiros e realizaram tantas visitas técnicas ao Sul do Brasil nos últimos tempos. Para um país que espiona até os telefonemas da presidente Dilma Rousseff, não chega a surpreender este tipo de atitude.

De outra banda, os arrozeiros gaúchos têm uma nova guerra para enfrentar em prol das exportações. O Porto de Rio Grande deverá passar por uma ampliação a partir do final de 2013, que poderá bloquear parte do terminal utilizado para embarques de arroz. Além disso, tradings e operadores estão reclamando da falta de infraestrutura do porto e dos terminais para os embarques, o que está afetando também a qualidade dos serviços nas exportações arrozeiras. Até a direção da Federarroz visitou as estruturas, conversou com operadores e agentes de mercado e apresentou sua preocupação na reunião da Câmara Setorial do Arroz do Rio Grande do Sul.

DÍVIDAS

Na última semana o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou um prazo até o dia 30 de novembro para que os bancos de fábrica, privados e cooperativos encaminhem as operações de equalização das dívidas referentes a investimentos junto ao BNDES. Como boa parte dos recursos deste tipo de financiamento foi liberada via linhas de crédito do BNDES, os bancos precisam equalizar as operações. Isso vale para aqueles casos de arrozeiros que conseguiram manifestar formalmente seu interesse no parcelamento oferecido pelo governo federal, que só os bancos públicos aderiram integralmente. Portanto, os produtores que encaminharam interesse, via carta padrão divulgada pelas entidades, têm ainda chance de obter o parcelamento. O setor arrozeiro e, principalmente, a Frente Parlamentar da Agricultura e setores do próprio governo pressionarão os bancos, por meio de suas entidades, por uma flexibilização.

MERCADO

A Corretora Mercado, de Porto Alegre (RS), indica preço médio estável de R$ 33,70 para a saca de arroz em casca, de 50 quilos (58x10) à vista, no estado. A saca de 60 quilos do cereal tipo 1, beneficiado (branco) é cotada em R$ 67,00 (Sem ICMS – FOB/RS). Entre os subprodutos, o canjicão segue cotado a R$ 38,50 e a quirera teve leve valorização, para R$ 34,00 (alta de 50 centavos), ambos em sacos de 60 quilos FOB/RS. A tonelada do farelo de arroz também manteve os preços dos últimos 45 dias, em R$ 380,00 FOB/Arroio do Meio – RS.

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