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Arroz quer menos área e solução para dívidas

Rotação, tecnologias, mercado e endividamento estiveram no debate


Foto: Marcel Oliveira

Na safra que se encerra tudo correu bem quando se fala em clima. Foram colhidas mais de 11 milhões de toneladas no Brasil. No Rio Grande do Sul, maior produtor, foram 7,8 milhões de toneladas ante 7,3 na safra anterior, alta de 6,5% mesmo que a área plantada tenha caído. A redução foi de 6,1%, de 1 milhão de hectares para 940 mil hectares. 

E a safra 20/21? Representantes do setor discutiram as possibilidades, desafios e obstáculos para a cultura em uma live promovida pela Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), nesta terça-feira (23). O encontro teve a participação do presidente da Federraroz, Alexandre Velho, o vice-presidente da entidade, Roberto Fagundes e o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Alceu Moreira (MDB/RS). 

No centro das projeções para a próxima safra estão: rotação de culturas na lavoura orizícola, tecnologias de produção, conectividade, exportação e abertura de mercado, crédito e endividamento.

A projeção para este ano é que o consumo interno vai aumentar 5%, muito em função da pandemia. O cenário levou os preços do arroz a um novo patamar para o consumidor, em média de 20%, e repercutindo para o produtor. No mercado internacional a exportação finalmente alcançou maiores volumes para o México. Já foram 60 mil toneladas são projetadas 200 mil toneladas para este ano. O país importa 800 mil toneladas dos Estados Unidos e com a brecha do câmbio e da entressafra americana o arroz brasileiro conseguiu alcançar este mercado. Também há expectativa de entrada no Panamá. “Nossa qualidade é muito superior ao arroz americano. Esse novo patamar exigiu melhor gestão do nosso negócio, mais produtividade e isto está ligado à rotação de culturas na lavoura orizícola”, destaca o dirigente da Federraroz.

Para o deputado Alceu Moreira o arroz precisa “se vender” mais para conquistar novos mercados a exemplo de cadeias como suínos e frangos. “Países árabes são um ótimo mercado. São 2 bilhões de habitantes que comem arroz, faz parte da cultura deles. Mas nós não sabemos vender, fazer essa relação intermediária, não temos organização como outros setores têm”, aponta. 

Rotação, irrigação, conectividade e aumento de área

Em meio às lavouras de arroz a soja e pastagens para criação de gado vem ganhando as várzeas. Em relação a soja, na Metade Sul gaúcha já são cerca de 330 mil hectares com a oleaginosa, o que representa que 70% dos orizicultores também convivem com a soja na sua propriedade, segundo o Irga. “Estamos buscando a diversificação e tem sido fundamental para trazer equilíbrio de área, custos e manejos ao orizicultor. É um caminho sem volta”, acredita Velho.

A dificuldade passa por soja e arroz serem culturas diferentes, que exigem manejos diferentes como drenagem da irrigação. “Rotação de cultura é maravilhoso mas é cara a implantação. O produtor de arroz não se capitalizou e isso nós vamos começar a vencer a partir desta safra mas temos que ter em mente que se nós ampliarmos em 10% a área na safra que vem, o arroz ficará abaixo de R$ 60 a saca. Nós não temos velocidade de exportação”, destaca Moreira.

Fagundes também concorda com essa afirmação e alerta que o produtor tem que se conscientizar para não ter excesso de área na safra que vem. “O ano foi bom financeiramente então o orizicultor tem que pegar esses recursos e negociar melhor sua lavoura e insumos e não aumentar área”.

Por outro lado a entrada de tecnologias pode auxiliar nos custos. Na cultura os gastos com água e energia para irrigação são altos. Alguns produtores já testam a irrigação com uso de pivô central. Outro ponto é a conectividade na lavoura do arroz. Quem tem como analisar dados tem melhor desempenho, utilizando as várias plataformas que já existem para o setor. “Todo dia temos que produzir mais arroz, com mais qualidade e menor custo”, desafia o deputado.

Ele ainda aponta que outro fator a ser trabalhado é a imagem da cadeia. “Temos que mostrar como se come arroz, chamar chefes de cozinha como o suíno fez, colocar nos supermercados e mostrar o que fazer com arroz. Temos que investir em campanhas para mostrar o valor da cadeia para o público urbano e internacional”, completa.

Endividamento e crédito

Nas últimas safras essas duas palavras dominaram o setor: dívidas e crédito. Os altos custos de produção e dificuldade de renda levaram o setor a estagnação. Este é o momento de saída desta situação, de acordo com os debatedores. 

A questão foi analisada pelo dirigente da FPA. “O produtor de alto risco é o problema. Quando o mercado está bom ele arrenda terra, não faz as contas e fica endividado. Na hora de entregar a safra não tem poder de barganha nenhuma e empurra o mercado pra baixo”.

Para ele o produtor que se endividou tinha seus custos de produção maiores do que o valor da lavoura e precisa de instrumentos de crédito e incentivos para voltar a produzir e gerar renda. Um projeto está em testa na Cotrijal, de Não-Me-Toque (RS). “A cooperativa ou revenda indica os produtores mais sérios. Transformamos as dívidas em Cédula de Produto Rural (CPR), o BNDES compra, transforma em Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), que é um mercado recebível com grande liquidez. Aí o mercado internacional compra a juros de até 2% ao ano. Assim vamos conseguir financiar nossa divida com 3%. O projeto piloto esta sendo feito com R$ 300 milhões na Cotrijal e logo que se aprovem os resultados quem vai financiar o agro é o mesmo mercado que financia mercado imobiliário e automóveis, por exemplo”, finaliza Moreira.


 

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