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Arrozeiros não conseguem negociar safra


Estima-se que entre 30% e 50% da colheita gaúcha realizada em março não tenha sido comercializada até agora. O excesso de produção e a concorrência do grão do Mercosul por valores mais baixos dificultam a venda do produto, que está cotado R$ 25 a saca (50 quilos), acumulando baixa de 25% desde a colheita.

Para amenizar a situação, o governo poderá lançar contratos de opção privada para arroz em dezembro. A proposta do setor, em análise no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, é que 600 mil toneladas da safra passada sejam comercializadas por meio do novo instrumento.

A idéia é que o governo pague um prêmio para as indústrias que arrematarem o arroz do agricultor a um valor futuro, a ser estipulado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O prêmio - diferença entre o preço de exercício e o de mercado - poderá chegar a R$ 2,50 por saca. Para bancar os leilões, o governo gastaria R$ 40 milhões. A idéia é promover leilões todas as semanas, com prazo de vencimento dos entre janeiro e março de 2005.

Segundo o secretário de Política Agrícola do ministério, Ivan Wedekin, o lançamento das opções privadas ainda depende da aprovação pelo Congresso Nacional da Medida Provisória 221, que regulamenta o título. "Os preços do arroz ainda estão razoáveis, comparativamente com outros produtos agrícolas", acrescenta.

Produção igual ao consumo

Na safra 2003/04, o Brasil colheu 12,8 milhões de toneladas do grão, suficientes para abastecer o mercado interno - consumo de 12,6 milhões de toneladas. Mas, como sempre há importação do Mercosul, está havendo excesso de arroz no mercado. Até outubro, o País havia comprado 642 mil toneladas do Mercosul. A estimativa à que chegue a 900 mil toneladas. Os produtores querem que o governo estabeleça cotas de importação dos países vizinhos.

O produto do Mercosul tem chegado ao Brasil com o mesmo preço do grão gaúcho, a R$ 25 a saca - cujo custo de produção é de R$ 29 a saca. O presidente da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Valter Pöetter, explica que o grão chega mais barato porque os custos de produção dos vizinhos do Mercosul são menores. Segundo ele, na Argentina há uma devolução de impostos na exportação de 6% e no Brasil há incidência de diversos tributos que encarecem o grão. "A proposta é rediscutir o Mercosul", diz Pöetter.

Para o consultor Aldo Lobo, da Safras & Mercado, a alternativa é os produtores da região se unirem e buscarem mercados para exportação. Pöetter, no entanto, alega que o Brasil não tem tradição de remessa do grão - que, segundo ele, é um dos produtos agrícolas mais protegidos no mundo - e não tem acordos bilaterais. Apesar disso, a cadeia produtiva no Rio Grande do Sul está se unindo para, em 2005, exportar 500 mil toneladas. Peru, Chile, Venezuela e Cuba são os alvos da ação gaúcha.

Lobo acredita que pelo menos 2 milhões de toneladas - quase 20% da produção nacional - não tenham sido comercializadas até o momento. No mesmo período do ano passado, não restavam nem 1 milhão de toneladas para serem vendidas. "Encalhou a diferença de aumento de produção de uma safra para a outra", conclui Lobo.

Apesar dos preços em queda, a próxima safra do grão tende a ser cheia novamente. "Não temos alternativas de cultura, ou plantamos arroz ou criamos gado", afirma Francisco Schardong, presidente da Câmara Setorial do Arroz. E a pecuária no estado também está em crise, com o preço do boi semelhante aos das fronteiras agrícolas do Norte.

Alternativa

O arroz é cultivado na Metade Sul do Rio Grande do Sul, região mais pobre do estado, em áreas de várzea. Mas já existem estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para o cultivo de soja, milho e sorgo na região, drenando o solo. Segundo o pesquisador Algenor Silva Gomes, da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas (RS), existem 250 mil hectares de soja cultivados e outros 50 mil hectares de milho no novo sistema. Silva diz que a Embrapa criou um programa de introdução das novas culturas, ensinando como fazer o manejo do solo e da nova cultura.

Segundo estimativas da Conab, a produção de arroz da safra 2004/05 poderá chegar a 12,2 milhões de toneladas (5% inferior à atual, mas ainda suficiente para o consumo). Com o preço baixo na entressafra, os agricultores gaúchos já prevêem redução ainda maior na colheita. Por isso, solicitam ao governo também contratos de opção para 800 mil toneladas da safra 2004/05, a serem lançados em março.

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