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Artigo: Brasil tem vantagem de 10 anos no fornecimento de alimentos

Afirmar que a solução mundial terá, que passar pelo Brasil, não se trata de ufanismo, mas de uma avaliação do mapa agrícola atual


Escrito por: Anderson Galvão, engenheiro agrônomo e sócio-diretor da Céleres Consultoria.

Apesar da variação negativa – reflexo da crise americana –, as commodities seguem com alta nos preços acumulada nos últimos dois anos, especialmente as mais consumidas pela população, como arroz, milho, soja e trigo. Entram em debate, com isso, não apenas as razões que provocaram esse quadro como, principalmente, as alternativas existentes no planeta para garantir alimentos a uma população que continuará crescendo. Entre tais alternativas, o Brasil desponta sozinho, em um horizonte de 10 anos, como o principal país capaz de contribuir para o enfrentamento da crise mundial de alimentos.

Ao afirmar que a solução mundial terá, necessariamente, que passar pelo Brasil, não se trata de ufanismo, mas de uma avaliação técnica do mapa agrícola atual e das possibilidades existentes para sua expansão. A par disso, também analisamos o potencial de produtividade dos cultivos nessas áreas. Isso por que ambos os fatores – terras disponíveis e capacidade produtiva – constituem uma equação que precisa ser fechada. Não fosse assim, a África, de imediato, faria frente ao nosso país, por dispor de maior área disponível para cultivo.

Com uma fronteira agrícola atual de 133 milhões de hectares, dos quais 30% inexplorados e 70% dedicados à pecuária, o Brasil é o segundo no ranking potencial de novas áreas a serem agregadas à agricultura, sejam as inexploradas, sejam aquelas ocupadas somente por pastagens. Tudo isso sem avançar um centímetro sobre a região amazônica. A tal extensão de terras agricultáveis, portanto, só se compararia à do continente africano que, no entanto, por diversos fatores, apenas competiria com o Brasil no prazo de 20 anos.

Com relação à produtividade das lavouras brasileiras, tome-se como exemplo a do milho – para tratar do grão que concorre com o trigo em maior consumo mundial, direta ou indiretamente. Quando o milho mundial encarece devido ao volume destinado ao etanol americano, em detrimento da indústria de rações (que sustenta a de carnes), é importante assinalar a baixa produtividade atual das lavouras brasileiras e, ao mesmo tempo, do seu potencial de crescimento em direção ao posto de segundo colocado no fornecimento mundial.

Mesmo exportando anualmente 20% de sua produção de milho, o Brasil apresenta uma das produtividades mais baixas entre os exportadores mundiais. Em função disso, o preço do seu produto é mais alto do que o do mercado internacional. Para fazer frente à crescente demanda internacional de milho, nossa produção terá que passar por um choque de produtividade para reduzir o custo de produção. Nesse contexto, a introdução da biotecnologia é fundamental para a produção de milho. O ganho de produtividade trazido pela biotecnologia para o milho transgênico é tanto que só é comparável ao do algodão transgênico.

Tanto na Argentina quanto nos Estados Unidos esse choque de produtividade foi introduzido pela adoção das lavouras de milho geneticamente modificado. O aumento da produtividade média nos Estados Unidos, entre 1988 e 1997, foi de 0,6% ao ano, ao passo que, no período de 1998 (introdução da biotecnologia do milho nos EUA) a 2007, o crescimento médio foi de 1,6% ao ano. Na Argentina, o ganho foi semelhante. A elevação da produtividade média no período de 1988 a 1997 foi de 1,9%, ante um crescimento médio de 2,8% entre 1998 (também com a introdução da biotecnologia) e 2007.

O Brasil conta atualmente com três variedades de milho transgênico aprovadas para plantio pelas autoridades. Tais variedades poderiam ter sido plantadas na safra 2007/08 o que, entretanto, foi impedido por embargos judiciais – derrubados posteriormente. Com isso, apenas na próxima safra 2008/09, o Brasil entrará de fato no seleto clube dos produtores e exportadores de milho transgênico. Será o início do choque de produtividade na produção brasileira de milho.

Estaremos atrás da Argentina, que planta 10 variedades diferentes de milho transgênico, e mais ainda dos Estados Unidos, que cultiva nada menos do que 24. Apesar disso, o Brasil conta aqui com uma vantagem comparativa em relação a ambos, simplesmente por não ter iniciado ainda seu choque de produtividade na produção de milho. Uma vantagem há muito absorvida pelos Estados Unidos, que iniciou esse cultivo há 11 anos e também pela Argentina, que plantou sua primeira variedade de milho transgênico há pelo menos quatro safras.

O exemplo do milho é apenas elucidativo da capacidade brasileira de reunir disponibilidade de área de plantio à capacidade produtiva, impulsionada por choques tecnológicos de produtividade. A análise dos cultivos de algodão ou mesmo de soja seguiria igual raciocínio, demonstrando a palpável possibilidade de o Brasil fazer frente à oportunidade histórica que se apresenta. Basta que haja estímulo ao uso da farta tecnologia disponível, na Embrapa e em outras instituições privadas, para que alcancemos de fato posição de destaque entre os principais fornecedores de alimentos do planeta.

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