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Artigo: Produção tem, mas falta preço

O setor leiteiro no Rio Grande do Sul está presente em mais de 120 mil propriedades rurais, das quais acima de 80% são pequenos estabelecimentos de agricultura familiar


Por *Elton Weber

O setor leiteiro no Rio Grande do Sul está presente em mais de 120 mil propriedades rurais, das quais acima de 80% são pequenos estabelecimentos de agricultura familiar. Nos últimos quatro anos, a cadeia leiteira gaúcha apresenta um crescimento superior a 30%, o que demonstra a pujança do setor e o investimento feito pelos agricultores familiares na produção.

Mesmo com o crescimento do segmento, há espaço para aumentar a produção atual que está na faixa de 8 a 9 milhões de litros diários, enquanto a capacidade industrial instalada no Estado está na ordem de 13 a 14 milhões de litros diários. No entanto, o aumento da produção está diretamente ligado ao fomento, à produção por parte das indústrias, à assistência técnica e à remuneração por qualidade, visto que na maioria das vezes se tem remunerado a quantidade em detrimento da qualidade.

Em relação ao preço pago ao produtor, nos últimos meses se constata uma redução, fato que dificulta a renda. No momento em que há maiores custos, os insumos tiveram aumentos, em especial as rações, o que é preocupante quando se vive uma retração de preços.

Por outro lado, a indústria tem alegado e dito que da mesma forma está enfrentando dificuldades com a venda junto aos supermercados, inclusive constatamos que existem estabelecimentos adquirindo leite por um valor e comercializando por outro menor para puxar o preço para baixo. Adquirem uma certa quantidade por R$ 1,40, por exemplo, e vendem a R$ 1,20. Então, o segmento precisa reavaliar tal prática, inclusive o varejo.

Além disso, estamos com outra dificuldade que é a entrada de produtos lácteos no Rio Grande do Sul, indo diretamente para São Paulo, provenientes do Uruguai. Há suspeitas, inclusive, que esse produto pode ter origem em outros países e não no Uruguai ou Mercosul.

Assim, sem dúvidas, é um cenário que preocupa, embora não seja de terra arrasada. Porém, estamos esperançosos com as secas que estão ocorrendo no Centro-Oeste e que possamos, ainda antes do final do ano, ter uma mudança no panorama atual do leite.

Já a cadeia produtiva de grãos tem sofrido, nos últimos anos, com as intempéries climáticas, que atingiram as principais regiões produtoras do Estado e tem causado perdas de milhões de toneladas de grãos especialmente nas culturas do milho e da soja. A previsão da meteorologia indicando a presença do fenômeno La Niña, no próximo verão, traz preocupação ao setor em função das perdas registradas devido a estiagens nos últimos anos. Mesmo que a safra 2009/2010 tenha sido normal (exceção do arroz), com produtividades acima da média, não houve a recuperação da renda do produtor, devido aos baixos preços praticados no mercado, principalmente no caso do milho, trigo, feijão e soja, valores na maioria das vezes insuficientes para cobrir os custos de produção.

O programa Mais Alimentos, criado em 2008 pelo governo federal, tem disponibilizado um volume considerável de recursos para investimentos nas propriedades da agricultura familiar, renovando o maquinário e aquecendo as vendas da indústria de máquinas agrícolas. Mesmo assim, nos preocupa o alto percentual de recursos contratados para a compra de máquinas agrícolas (tratores), em detrimento de outros investimentos que visem à melhoria da infraestrutura produtiva e geração de renda (recuperação de solo), e que poderá acarretar aumento no endividamento agrícola.

A Fetag tem orientado aos agricultores familiares que tenham cautela no momento de contrair financiamentos agropecuários, e que os mesmos sejam feitos de forma realista com acompanhamento técnico e não em momentos de euforia devido a oscilações de preços ou, muitas vezes, incentivados por governos ou empresas privadas.

*Presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul

Artigo publicado no Jornal do Comércio, em 27.08.2010

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