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As novas lições de um pioneiro em adubação do solo

Presidente da Fundação Agrisus, Fernando Penteado Cardoso lança estudo sobre uso do fosfato


Aos 95 anos, mas aparentando pelo menos dez a menos, Fernando Penteado Cardoso não perde a disposição para levantar questões e buscar respostas agronômicas úteis aos produtores rurais. Pioneiro em fertilização do solo, fundador da Manah e defensor apaixonado do plantio direto, Cardoso, que desde 2001 está à frente da Fundação Agrisus - Agricultura Sustentável acaba de lançar mais um desafio aos pesquisadores.

Baseado em amostras de solo de diferentes regiões do país, Cardoso e sua equipe chegaram à conclusão de que a adubação continuada no sistema de plantio direto de soja e milho colabora para equilibrar a produtividade entre solos argilosos, médios e arenosos e que o estoque de fósforo em muitas das terras visitadas sugere uma necessidade menor de novas fertilizações com este nutriente em particular, o que pode reduzir custos.

O plantio direto é um conjunto de técnicas que busca otimizar o uso de água, solo e clima em áreas de plantio. Para isso, a terra não é revolvida, a rotação de culturas é estimulada, são utilizados cultivos de cobertura para a formação de palhada e o manejo de pragas e doenças é integrado. Em menor ou maior escala, a maioria dos 1.171 locais definidos aleatoriamente para as coletas de amostras do novo "Projeto Fósforo" aplica plantio direto. Os resultados da pesquisa, portanto, reforçam a prática.

A coleta, feita sempre em duas camadas de terra - em profundidades de 5 e 10 centímetros - foi realizada pela consultoria Agroconsult em 2009. E, a partir das análises da 2.342 amostras, a Agrisus identificou a existência de uma camada de alto teor de fósforo disponível em grande parte das terras. O fósforo é uma das três matérias-primas básicas para a produção de fertilizantes, ao lado de nitrogênio e potássio, e o Brasil depende de importações para cobrir parte da demanda doméstica.

"Para nitrogênio e potássio, talvez o plantio direto não faça muita diferença. Para o fósforo, sim. Se a terra não for revolvida, ele se torna assimilável pela planta por um período mais longo", afirma. Cardoso esclarece que os pesquisadores não coletaram amostras de áreas com adubação recente para evitar distorções. Atualmente, explica o veterano agrônomo, a adubação padrão de fósforo prevê a aplicação de 60 a 80 quilos de P2O5 por hectare. Em algumas área, estima, é possível obter os mesmos resultados com 20 a 30 quilos.

Ele ressalva, porém, que na chamada "adubação de arranque", aplicado próximo a semente, quando a planta ainda apresenta poucas raízes, o fósforo é comprovadamente fundamental e reduzir as doses de aplicação pode ser prejudicial. Segundo Cardoso, o "adubo de arranque" representa entre um quarto e um terço da adubação padrão. "Mas eu insisto: o "Projeto Fósforo" não tem conclusões. Queremos que os especialistas opinem", afirma.

Formado na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq) em 1936 - foi o melhor da turma e ganhou o "Prêmio Epitácio Pessoa", presidente da República entre 1919 e 1922 -, Cardoso estima que há plantio direto em cerca de 18 milhões de hectares com culturas anuais no país. Particularmente no caso da soja, diz, a adubação em plantio direto tende a equilibrar a produtividade entre terras argilosas do Sul e as arenosas do Centro-Oeste, mais fracas. "Isso mostra que, com o plantio direto, não necessariamente a terra boa tem de ser argilosa", diz ele.

O relatório com todos os resultados do "Projeto Fósforo" está disponível em www.agrisus.org.br  

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