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Atraso no pagamento de fornecedor de cana


Uma parte dos fornecedores de cana do centro-sul do país está com dificuldades para receber pela matéria-prima entregue às usinas sucroalcooleiras. A situação ainda é considerada pontual, já que atinge menos de 10% desses plantadores, mas não deixa de ser um sinal de que os problemas financeiros enfrentados por boa parte das usinas de açúcar e álcool do país durante a safra 2007/08, encerrada em abril e marcada pelos baixos preços das commodities, pode ter reflexos maiores.


O Valor apurou que algumas usinas das regiões de Assis, Piracicaba e Sertãozinho, todas do interior de São Paulo, estão com fluxo de caixa baixo e negociam o parcelamento dos pagamentos aos fornecedores ou pedem mais prazo para saldar as dívidas. O pagamento é feito todo dia 5 de cada mês.

"Algumas usinas de pequeno porte estão com problemas financeiros há algum tempo. Outras, de médio porte, fizeram investimentos para expansão, e agora estão com problemas no fluxo de caixa. Mas acredito que o horizonte para o médio prazo seja positivo, com as perspectivas de recuperação dos preços do açúcar e do álcool", afirma Christina Pacheco, diretora tesoureira da Organização dos Produtores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana).

Na região de atuação da Orplana, Christina apontou duas usinas que atrasaram recentemente o pagamento: a Maringá e São José, controlada pelo Grupo Farias. Procurada, a usina Maringá não retornou as ligações. Já a São José confirmou que houve um atraso de poucos dias no pagamento de parte de seus fornecedores, mas que tudo já foi pago e que não há mais nada pendente. "Tivemos problemas de caixa no final da safra 2007/08, mas ficou tudo resolvido. Agora, nesse mês, privilegiamos, primeiro, o pagamento dos pequenos fornecedores. Dos outros, houve um atraso de três dias, mas já resolvemos tudo", garantiu Renato Chalita, executivo da São José.

No pólo de produção de Sertãozinho, um dos principais do Estado de São Paulo, a situação também é parecida, marcada por casos pontuais de empresas inadimplentes, diz Manoel Ortolan, presidente da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste), que representa fornecedores da região de Ribeirão Preto, principal centro produtor de açúcar e álcool do Brasil. Ortolan não divulgou o nome das usinas que estão com pagamento em atraso.


A crise financeira pela qual as usinas passam neste ano é diferente da situação vivenciada há dez anos, quando o setor sucroalcooleiro passou por um de seus piores momentos. Àquela época, nas safras 1998/99 e 1999/00, as usinas estavam com estoques abarrotados de açúcar e álcool e preços muito abaixo da série histórica. "No entanto, os custos de produção eram bem menores", lembra Christina. Nesta safra, os fornecedores receberam R$ 35,88 pela tonelada da cana (pago em agosto), mas os custos estão em R$ 52.

A boa notícia, segundo Christina, é que o setor está otimista em relação à recuperação dos preços do açúcar no mercado internacional para os próximos meses. O otimismo é respaldado pela perspectiva de déficit global para a safra mundial de açúcar, que terá início em outubro. A maior demanda por álcool nos mercados interno e externo também devem sustentar as cotações. "Vamos esperar o dia 5 [de outubro] para fazer um novo balanço."

"As usinas ainda estão sentindo o reflexo dos baixos preços do açúcar e do álcool verificados na safra 2007/08", acredita Ortolan.

De acordo com Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar), a situação atual não é de preocupação. "O mercado está reagindo bem, o que deve favorecer as usinas", diz ele.

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