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Atrasos devem impactar o custo final

Quanto menos se produz, mais caro fica o custo de produção


Mais que preocupações pontuais com o retorno ou não das chuvas, suas intensidades e sua constância, o fator clima está regendo outros indicadores dentro das fazendas e apontando para um resultado que ninguém quer contabilizar: quanto menos se produz, mais caro fica o custo de produção. Cada dia de braços cruzados sem plantar é um dia a menos da planta no solo e um dia a mais de sementes estocadas esperando para serem semeadas. Tudo isso junto pode resultar em uma produtividade reduzida, grãos de qualidade inferior e produção menor. 

Até o último dia 20, por exemplo, a região médio norte, que concentra quase 34% da área plantada com soja no Estado (3,17 milhões de hectares), estava com 38% da área plantados, em 21 de outubro do ano passado, mais de metade da área - muito similar a atual - estavam semeados, 54,09%. 

De acordo com os analistas do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o fator climático já acendeu o sinal de alerta no campo, durante a semeadura da soja 2017/18. Como explicam, com o processo de semeadura ainda reduzido e as incertezas com relação ao desenvolvimento das lavouras da nova safra, qualquer impacto negativo à produtividade da nova safra poderá refletir diretamente no bolso do produtor. “Assim, apesar dos custos menores para a safra 2017/18, as incertezas em torno da produtividade e os patamares pouco animadores de preço trazem um sinal de alerta para esta safra”, que será ampliado ou minimizado de acordo com o volume, abrangência e constância das chuvas. 

Levando em conta os preços atuais e os valores de venda já travados pelos produtores, os preços para o próximo ano não estão tão atrativos. “Atualmente a paridade para março/18 (entrega do grão) encontra-se em R$ 56,81/sc, e, apesar de estar acima do custo variável, de R$ 51,71/sc, apresenta-se abaixo do custo total da safra e é também inferior aos patamares registrados no mesmo período do ano passado”. 

Na semana passada, a cotação da saca de 60 quilos da oleaginosa fechou com ligeira alta, de 0,74%, quando comparada à cotação da semana anterior. O preço da soja disponível no Estado, ou seja, do produto remanescente da safra 2016/17, fechou a R$ 56,81/sc ante R$ 56,40. Essa valorização foi puxada por movimentos de ajustes ocorridos na Bolsa de Chicago (CBOT).No entanto, a cotação para saca – preço médio no Estado, há um ano – era de R$ 70,73. Nesse intervalo houve desvalorização de 20%, fator gerado em suma pela grande oferta de soja no mundo, bem como pela valorização do real sobre o dólar. 

Para essa safra, antes mesmos de se registrar essas dificuldades iniciais do começo do plantio, pela falta de chuvas, já havia previsão de uma menor produtividade para este ciclo. Na safra 2016/17, a soja mato-grossense registrou a maior produção da história e um dos maiores rendimentos por hectare, justamente pelas boas condições climáticas que acompanharam a maior parte do desenvolvimento das plantas. Para esse ano, já havia a cautela em relação ao clima, e por isso a produtividade projetada é 2,30% menor, com o rendimento totalizando 55,39 sacas ante 54,12 sacas do ciclo passado, que foi a segunda maior da história. Já a produção, deve sair de inéditas 31,22 milhões de toneladas (t) para um resultado próximo de 30,58 milhões/t (-2,08%). 

Todo o custo de produção calculado pelo Imea, tanto o variável que leva em conta despesas com insumos em geral, quanto o custo total, está baseado nessa produtividade. Qualquer redução na média projetada ao Estado vai impactar diretamente nesse desembolso, onerando os custos. Em média a projeção por hectare nessa safra é de custo médio de R$ 2,7 mil, ante um custo de R$ 3,09, contabilizado em setembro do ano passado. 

COMPLICADORES - O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja), Endrigo Dalcin, conta que a safra teve início com preços internacionais baixos e custo de produção de alto a algo idêntico ao do ano passado, porém, em um cenário de preços pior. Em relação ao mercado, Dalcin chama à atenção para a influência dos preços internacionais e da taxa de câmbio sobre esta nova safra. “Por mais que o custo de produção não fique mais caro que o do ano ou ao menos empate, o produtor não sai ganhando, porque a média de preços para este ciclo, desde o início das primeiras vendas antecipadas, esteve inferior ao do ano passado, temos CBOT em baixa e dólar em baixa e isso resulta em preços menores à saca”. Em igual período do ano passado, por exemplo, o dólar estava cotado entre R$ 3,30/R$ 3,40. Em 2017, durante o início da comercialização ao produtor, o câmbio estava entre R$ 3,15/R$ 3,13. Em sacas, o que se viu há um ano, algo entre R$ 75/R$ 72, agora está entre R$ 51, com projeção futura de R$ 53/R$ 54. “Num patamar de preços futuro como esse, o ponto de equilíbrio do produtor exige que ele colha no mínimo, 50 sacas para ele pagar todos os custos cheios da produção. E vou mais além, o mercado precisa chegar em R$ 63/R$ 65 à saca para o produtor ter um retorno financeiro de pelo menos 10%, dentro desse cenário em que a soja começou a ser comercializada no mercado a termo, boa parte antes do início do plantio”.

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