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Aumento recorde dos preços garante faturamento do agronegócio em 2011

As exportações alcançaram o recorde de U$$ 88,9 bilhões


Por *Geraldo Sant´Ana de Camargo Barros, PhD
        *Andréia Cristina de Oliveira Adami,Dra
 
As exportações do agronegócio brasileiro alcançaram o recorde de U$$ 88,9 bilhões em 2011, valor 25% superior ao de 2010, acumulando crescimento de 322% desde o ano 2000. Contribuíram para o avanço de 2010 para 2011, o aumento de 26,7% dos preços em dólar e de 1,87% do volume exportado.

Nos últimos dois anos (2010 e 2011), os preços em dólares dos produtos do agronegócio (IPE-Agro/Cepea) se mantiveram elevados. Registraram forte crescimento entre setembro de 2010 e abril de 2011, quando atingiram pico de valorização. A partir de então, apresentam moderada reversão de tendência. Entre setembro de 2010 e abril de 2011, os preços externos cresceram 33%, já a queda observada entre abril/11 e dezembro/11 foi de 6% - Figura 1.

A taxa de câmbio efetiva real do agronegócio (IC-Agro/Cepea), que apresentou forte valorização em 2010, tendeu a se atenuar a partir de janeiro/11. Em 2011, essa taxa manteve comportamento praticamente estável até setembro, momento em que foi observado aumento da aversão ao risco devido à crise na Europa e o Banco Central do Brasil anunciou mudanças na política de juros. Na comparação das médias anuais (2010 e 2011), houve valorização cambial de 19,2%. Devido a essa forte e prolongada valorização do Real, os preços de exportação em reais, ou seja, a atratividade das exportações nacionais (IAT-Agro/Cepea), seguiram trajetória de queda no decorrer de 2010, recuperando-se em 2011 devido ao predomínio do efeito expansivo dos preços externos. Todavia, na comparação das médias de 2011 com 2010, a alta no IAT foi de apenas de 0,5% - Figura 1.
Os volumes das exportações do agronegócio (IVE-Agro/Cepea) mantiveram seu comportamento sazonal, com crescimento a partir de março de cada ano e queda no segundo semestre. No acumulado de 2011, a alta foi de apenas 1,87% frente a 2010 - Figura 1.
 

Desde 2009, vencida a primeira etapa da crise financeira, as médias anuais dos preços em dólares (IPE) têm crescido continuamente, atingindo pico de valorização em 2011, 131% acima dos preços de 2000, ano em que os preços externos dos produtos agropecuários encontravam-se demasiadamente baixos. Uma aceleração de preços ocorreu após 2007 – Figura 2. O volume exportado também cresceu bastante: 154% entre 2000 e 2011, quando atingiu o maior valor da série, mas vem mostrando sinais de desaceleração. Já a taxa de câmbio efetiva real (IC) teve forte valorização entre 2000 e 2011, mais de 50%, valorização que teve início em 2003 e seguiu quase que linearmente até 2011. A valorização do câmbio foi compensada pelo forte crescimento dos preços externos; com isso, a atratividade das exportações (IAT) avançou quase 8% nos últimos 12 anos – Figura 2.
 
 
Nos últimos 12 anos, o agronegócio brasileiro tem contribuído fortemente com a geração de divisas para o País. Entre 2000 e 2011, o volume exportado cresceu quase 155% e os preços externos, 131%. O saldo comercial avançou mais de 400% (isto é, quintuplicou, como indicado na Figura 3), acumulando US$ 412,3 bilhões, US$ 61,9 bilhões só em 2011. Evidencia-se, assim, a grande importância do País na produção e exportação de produtos agrícolas. Em 2009, de acordo com dados da FAO, o Brasil foi o 5º maior exportador mundial de produtos do agronegócio.
 
 
Exportações dos principais grupos de produtos

Na comparação do acumulado de 2011 com o de 2010, os principais produtos exportados pelo agronegócio apresentaram aumento do volume exportado (IVE): soja em grão (13,46%), óleo de soja (11,48%), farelo de soja (4,68%), carne de frango (3,21%), Álcool (2,97%), madeira e mobiliário (2,15%), papel e celulose (1,58%), suco de laranja (1,46%) e café (0,01%). Os produtos que tiveram suas vendas externas reduzidas foram a carne suína (-6,99%), açúcar (-9,44%), carne bovina (-11,60%) e frutas (-21,57%) - Figura 4.
 
As médias dos preços de exportação (IPE) dos principais produtos do agronegócio estiveram maiores em 2011 que em 2010, mesmo com a queda, ou desaceleração, que teve início em abril/11. Forte valorização foi observada para café (56,71%), óleo de soja (39,03%), suco de laranja (34,65%), álcool (31,47%), açúcar (27,53%), carne bovina (22,54%), soja em grão (21,54%), carne de frango (18,30%), frutas (14,66%), farelo de soja (12,60%), carne suína (11,23%) e papel e celulose (6,09%); a exceção foi o grupo madeira e mobiliário, que teve queda de preços de 11,65% – Figura 5.
  


No ano de 2011, conseguiram manter atratividade positiva o café (27,4%), óleo de soja (12,6%), suco de laranja (9,03%), álcool (6,09%) e açúcar (3,13%). Perderam atratividade a carne bovina (-0,48%), soja em grão (-1,68%), carne de frango (-4,14%), frutas (-6,95%), farelo de soja (-9,08%), carne suína (-9,83%), papel e celulose (-14,02%) e madeira e mobiliário (-28,62%) – Figura 6.
 
 
 
Preços Recebidos pelos Produtores e Exportadores

Na figura 7 são apresentados os preços recebidos pelos produtores brasileiros (Cepea) e pelos exportadores Secex), tomando-se como exemplo os casos da soja, carne bovina, açúcar e café nos últimos dois anos. Os preços em Reais recebidos pelos produtores agropecuários e agroindustriais são fixados quando da realização dos negócios, no curto prazo, e, dessa forma, podem ter comportamentos diferentes em relação aos preços de exportação em Reais, que são faturados no momento do embarque e ligados aos negócios passados. Mesmo com essa defasagem no tempo, os preços pagos aos produtores e os preços recebidos pelos exportadores estão correlacionados. Observa-se que os preços do café, boi gordo e soja em grão seguem comportamento semelhante nesses dois níveis, o que sugere que as variações das cotações em dólar são transmitidas aos preços internos. No caso do açúcar, os preços pagos aos produtores parecem apresentar movimentos mais fortes (maior volatilidade) do que os preços recebidos pelos exportadores no período analisado, caracterizando possivelmente uma segmentação entre os mercados externo e interno desse produto. Na comparação das médias anuais, os preços nominais recebidos pelos produtores, comparação entre 2011 e 2010, apresentaram elevação da ordem de 9%, 15%, 59% e 16% para açúcar, boi gordo, café e soja, respectivamente. Já os preços recebidos pelos exportadores cresceram 21%, 17%, 50% e 16%, para açúcar, boi gordo, café e soja, respectivamente.
 
 
Principais Destinos e grupos de produtos

Os países da Zona do Euro (ZE) continuam como principal mercado comprador dos produtos do agronegócio brasileiro, representando, em 2011, quase 20% dos embarques desse setor nacional. A China mantém-se como o segundo maior destino, com participação superior a 13%, sendo o principal parceiro comercial do agronegócio brasileiro quando se considera o comércio entre países. EUA e Rússia seguem na terceira e quarta posições, com participação de 5% e 4%, aproximadamente. Entre os 10 principais parceiros comerciais do agronegócio brasileiro, apenas a Venezuela aparece como representante do Mercosul, com participação de quase 2% - Quadro 1. 

 
Em termos de grupos de produtos, destacou-se, em 2011, o complexo soja, com participação superior a 28% do faturamento das exportações do agronegócio. Açúcar (18,23%) e as carnes (17,77%) também estão entre os principais produtos exportados pelo agronegócio em 2011 - Figura 11.
 
 
A China, principal parceiro comercial do agronegócio brasileiro, concentra suas compras no grupo cereais/leguminosas/oleaginosas (68,8%), sendo quase que a totalidade no item soja em grão. Os EUA e os países da Zona do Euro apresentaram uma pauta mais diversificada. No caso dos EUA, os principais produtos importados do Brasil foram o café (34,8%), produtos florestais (23,5%) e sucroalcooleiros (12,7%). Por sua vez, os países que representam a ZE importaram principalmente soja (33,4%), café (21,5%) e produtos florestais (13%).
 
 
3. Conclusões

Na comparação dos valores médios de 2011 aos de 2010, houve alta de 26,7% nos preços externos em dólares, valorização de 19,2% da taxa de câmbio efetiva real do agronegócio e crescimento no volume exportado de 1,87%, resultando, assim, na alta de 25% do faturamento em dólares. A atratividade das exportações do agronegócio registrou alta de apenas 2,5%, devido à forte valorização do câmbio no período, e o faturamento em Reais cresceu apenas 4,2%.

Desde o ano 2000, o setor vem ganhando participação no comércio internacional, evidenciada pelo substancial aumento do volume exportado. A soja em grão experimentou forte aumento de volume (186%) e preços (167%), liderando a pauta de exportações brasileiras, com suas vendas concentradas na China.

Aliás, em se tratando de parceiro comercial individual, a China consolidou-se como o principal país de destino das exportações do agronegócio brasileiro. Entretanto, em conjunto, a primeira posição é ocupada pela Zona do Euro, que importou mais de 19% dos produtos do agronegócio brasileiro em 2011. EUA e Rússia também se destacaram como destinos das exportações nacionais em 2011. Os grupos de produtos mais importantes em 2011, em termos de valor exportado, foram os do complexo soja, sucroalcooleiro e carnes.

O que se observa, até agora, é que a evolução dos preços internacionais e da cotação do dólar no Brasil se dá de forma mais ou menos compensatória. Os resultados sobre os preços recebidos tanto pelos exportadores como pelos produtores vêm sofrendo movimentos moderados para cima ou para baixo, sem mudança relevante de tendência.

Para 2012, a demanda mundial pelos produtos do agronegócio deve se manter firme, devido principalmente ao crescimento da população e da renda de países como China, Índia e alguns africanos. Por outro lado, a permanência e/ou agravamento da crise na Europa e EUA pode impactar negativamente as exportações do agronegócio e os preços em 2012. Todavia, especialmente no caso dos alimentos, a demanda deve permanecer relativamente constante, com os preços ficando dependentes do comportamento da oferta mundial (bastante suscetível aos frequentes eventos climáticos extremos) e do grau de liquidez, que deverá continuar crescendo.

ANEXO - NOVAS SÉRIES DE EXPORTAÇÃO PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

A partir de janeiro de 2011, a formatação dos índices de exportação calculados pelo Cepea teve modificações. Isso se deu com vistas a se acompanhar a mudança no perfil exportador do agronegócio brasileiro. Para tanto, foram incluídos produtos que alteram a pauta que vinha sendo acompanhada até então. Além disso, realizaram-se mudanças metodológicas na ponderação dos agregados.

Até 2010, o peso de cada agregado baseava-se no valor médio exportado nos últimos cinco anos. A partir de janeiro de 2011, o peso passa a ser calculado com base na composição da exportação do ano anterior, apenas. Por esse motivo, novas séries (desde 1989) para os índices de preços (IPE-Agro/CEPEA), de volume (IVE-Agro/CEPEA), de atratividade (IAT-Agro/CEPEA) das exportações do agronegócio brasileiro e para o índice de câmbio (IC-Agro/CEPEA) são apresentadas neste relatório.

O índice de câmbio (IC-Agro/CEPEA), que representa a média das taxas de câmbio, em valores reais, dos dez parceiros comerciais mais importantes do agronegócio do Brasil passa a ter também a ponderação atualizada anualmente, com base nos valores importados pelos principais parceiros comerciais do Brasil nos últimos três anos.

O detalhamento da metodologia de contrução desses indicadores encontra-se disponível no site do Cepea. A comparação das duas séries, nova e antiga, é apresentada nas Figuras 12, 13, 14 e 15. Observa-se que, como esperado, a alteração na formatação dos índices não trouxe mudanças significativas no comportamento desses ao longo do tempo.
 

 
 
 


 
 *Professor titular USP/Esalq; coord. Científico Cepea/Esalq-USP
*Pesquisadora do Cepea/Esalq-USP

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