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Avança a pesquisa sobre inclusão social de dendeicultores familiares no Pará

A pesquisa da Embrapa que quer saber o que mudou na vida dos agricultores familiares após cultivar dendê no Pará, entra numa nova etapa


A pesquisa da Embrapa Amazônia Oriental que quer saber o que mudou na vida dos agricultores familiares após cultivar dendê no Pará, entra numa nova etapa. O projeto Agricultura Familiar e Inclusão Social (AFInS) foi iniciado em 2014 e durante cerca de dois anos trabalhou, em diálogo e parceria direta com os produtores, a construção participativa de indicadores para estudar a inclusão. Nesse novo ciclo, os pesquisadores voltam a campo para realizar entrevistas e desvelar a realidade socioeconômica de quem optou por se dedicar a essa cultura que coloca o Pará como o primeiro estado em produção do Brasil.

A produção paraense se concentra na região nordeste do estado e segundo a Associação Brasileira de Produtores de Óleo de Palma (Abrapalma) envolve cerca de 1100 famílias de agricultores, entre pequenos e médios produtores, distribuídos em aproximadamente 27.500 hectares (ha). Em 2015 a produção do Pará ultrapassou os 85% de todo dendê colhido no país, totalizando mais de 1.379 milhão de toneladas, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A pesquisa realizada pela Embrapa já visitou cerca de 160 estabelecimentos rurais cujos agricultores possuem contratos com empresas produtoras de óleo de palma em 19 municípios, conforme relatou a pesquisadora, doutora em sociologia, Dalva Mota, líder do projeto. Ela afirma que o grande diferencial do projeto é que todas as etapas são construídas com ampla participação dos agricultores e de suas representações, como os sindicatos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais. Nesse percurso, lideranças de agricultores, Embrapa e parceiros, realizaram oito oficinas nos municípios de Acará, São Domingos do Capim, Tomé-Açu, Irituia, Garrafão do Norte, Concórdia do Pará, Mojú e Tailândia. O último encontro, pensado para consolidar os dados trabalhados nos municípios, ocorreu em Belém, nos dias 20 e 21 de outubro, com a participação de representantes dos oito municípios nos quais as oficinas de construção de indicadores se realizaram.

Dalva Mota informa que o trabalho quer responder o que mudou na vida dessas famílias após a chegada da dendeicultura em suas propriedades a partir de um estudo com indicadores de inclusão social construídos participativamente. E explica que, para os pesquisadores, a inclusão social pode ser medida por meio do "acesso a trabalho, bens (casa/trabalho), serviços, condições de produção, renda e bem estar com a percepção de melhoria em comparação com o passado".

Próximos passos – Essas questões, no entanto, só serão respondidas no encerramento do projeto, previsto para o final de 2017, mas algumas percepções já chamaram a atenção dos pesquisadores e foram transformadas em tema de dissertações de mestrado, conforme adiantou Dalva Mota. Com os temas a "Expansão da dendeicultura e transformações nos sistemas de produção familiares na Amazônia Oriental"; "Sindicato é pra quem entende": (des)igualdade de gênero no sindicalismo dos empregados rurais de Moju"; e "O trabalho sob influência da dendeicultura em vilas rurais paraenses" já foram defendidas na Universidade Federal do Pará, instituição parceria no projeto AFInS e outras quatro estão em elaboração.

Mulheres à frente das propriedades

Na temática das relações de gênero, os pesquisadores observaram que muitas mulheres têm contratos de produção com as empresas produtoras de dendê, iniciativa que, por muito tempo, foi predominantemente dos homens.

A agricultora familiar Maria Antônia Pereira Pires, de 54 anos, é uma dessas pioneiras. Moradora do município de Tailândia, ela conta que em sua região, muitas mulheres já possuem o título das propriedades e também assumem os contratos. "Hoje as mulheres estão mais organizadas e tocam as propriedades com seus familiares", afirma a produtora. Quanto ao cultivo do dendê, ela revela acreditar no potencial produtivo da planta, mas está preocupada com questões relacionadas ao escoamento da produção, ao manejo das plantações e ao cumprimento dos contratos com as empresas.

Nos 70 hectares pertencentes à família, 10 foram reservados à oleaginosa. Maria enfatiza que, para ela, a diversificação na produção é o segredo de sucesso e renda para os pequenos e médios produtores e por isso ela agrega na propriedade a criação de animais, plantios de pimenta-do-reino, frutíferas e outras culturais anuais como o milho.

Diversificação na produção propicia aumento de renda

A diversificação também é a aposta do produtor José Maria Pantoja Mendes, do município de Tomé-Açu. Nos 70 ha que possui, reservou 10 para a dendeicultura, mas em um modelo diferente, pois esta área de produção está consorciada entre os 43 ha destinados ao Sistema AgroFlorestal (SAF) da propriedade. Ele garante que a produção dos frutos do dendê está muito satisfatória nesse sistema e registra ainda a redução em alguns custos de manejo, pois a diversidade de espécies presentes no SAF ajuda no controle biológico de insetos, pragas e doenças e garante também diferentes fontes de renda à família ao longo ano.

José Maria se considera um produtor de sucesso e seu exemplo está conquistando adeptos na região entorno de Tomé-Açu e dentro da própria família, pois o filho mais velho, Tiago Abreu Mendes, além de acompanhar o pai na lida da propriedade, já adquiriu terras próprias e está implantando o mesmo sistema de produção. 

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