CI

Avança consumo do café "sustentável"


Cafeterias e lojas de café instaladas no edifício-sede das Nações Unidas em Nova York passaram a servir cafezinho "sustentável" aos delegados, diplomatas e visitantes que perambulam por seus corredores, informa a Agência Reuters.

Café sustentável é a mais nova modalidade da bebida que vem sendo oferecida nos mercados dos países desenvolvidos desde o final dos anos 90. Não se identifica com café orgânico, que difere do produto tradicional por ser produzido sem o uso de insumos agroquímicos e tem imagem já consolida junto a consumidores mais exigentes.

"Por sustentável entende-se um produto que, além de orgânico, provém de cadeia produtiva gerida por princípios e diretrizes socioambientais", afirma Noel Brown, diretor da Rainforest Alliance, a organização não-governamental responsável pela introdução da bebida na sede da ONU em abril. A Rainforest Alliance, entre outras atividades, certifica produtos tropicais. O interesse maior da ONG pelo café vem do fato de se tratar da commodity mais comercializada no mundo depois do petróleo e de a cadeia do café empregar um grande número de pessoas - cerca de 25 milhões, em geral pobres ou miseráveis.

Padrão de exigência

A gestão socioambiental apresenta-se como resposta a um novo e mais elevado padrão de exigência posta pelo mercado, que se situa além das certificações voluntárias do tipo ISO (International Organization for Standardization) ou SA (Social Accountability). Caracteriza-se pela ênfase na integração dos aspectos ético, ambiental e social, dimensões que conceituam a sustentabilidade, segundo o Relatório Bruntland (1987). Além de "ambientalmente correto" e "economicamente viável", um produto sustentável precisa apresentar também o atributo de "socialmente justo." Ou seja, "Não somente o solo precisa ser conservado e os rios e a vida silvestre, protegidos; é preciso também que os trabalhadores recebam uma remuneração justa, disponham de moradia decente, escolas e acesso aos serviços de saúde", diz Noel Brown.

O mercado internacional de produtos orgânicos movimenta US$ 30 bilhões por ano, sendo os Estados Unidos, Alemanha e Japão os maiores consumidores desses produtos, com compras anuais de US$ 13 bilhões, US$ 9 bilhões e US$ 7 bilhões, respectivamente, segundo informa a Agência de Promoção de Exportações (Apex).

O Brasil participa marginalmente desse mercado, onde os preços de prateleira são de 20% a 30% mais elevados que os dos cafés tradicionais, segundo informa Sydney Marques de Paiva, presidente da Café Bom Dia, empresa torrefadora de Varginha (MG). "A Café Bom Dia exporta cafés tradicionais para os Estados Unidos há anos, mas neste ano o volume de orgânico vai representar cerca de 60% do total."

Em 2003, as exportações brasileiras de produtos orgânicos, entre os quais o café, atingiram US$ 100 milhões, prevendo-se para este ano um incremento de 20%, segundo informações da Apex.

No Brasil há 7.100 produtores certificados, responsáveis por uma área de produção de café orgânico de 270 mil hectares, segundo um estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Alguns desses cafeicultores produzem orgânicos de acordo com os requisitos da sustentabilidade. As exportações brasileiras de café orgânico teriam atingido US$ 15 milhões em 2003.

Um relatório do Banco Mundial sobre café sustentável, divulgado em abril ("Sustainable Coffee: A Study of Twelve Major Markets"), chama a atenção para a necessidade de diretrizes e políticas que distingam e definam com precisão o que é certificação orgânica, ‘fair trade’ e café sombreado, para que os produtores também possam beneficiar-se dos prêmios oferecidos pelo mercado. E acrescenta: "Embora os cafés certificados por padrões de sustentabilidade não sejam uma panacéia universal, representam uma tendência que se acentua e que já foi assumida por gigantes do setor, tais como Procter & Gamble, Ahold e Starbucks".

Logo após o início das vendas do cafezinho sustentável nas cafeterias da ONU, a empresa Sara Lee - a terceira maior compradora mundial de café verde, abaixo da Kraft Foods e da Nestlé -, anunciou a decisão de fazer sua primeira incursão nesse mercado, comprando 2,5 mil quilos. "É apenas uma compra inicial. Vamos ver como a coisa vai. Esperamos poder aumentar o volume", declarou um porta-voz da empresa à Reuters.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.