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Avanço da cana em Goiás preocupa setor

As usinas migram para o estado, em busca de terra e mão-de-obra mais baratas


Projetos de novas usinas de açúcar e álcool podem roubar área de grãos no estado. Goiás é o maior produtor de sorgo e o sexto de milho no País, atraindo a instalação de indústrias de aves e suínos devido à disponibilidade de grãos. Agora, assim como as empresas de carnes, as usinas também migram para o estado, em busca de terra e mão-de-obra mais baratas.

Segundo a Secretaria Executiva do Programa Produzir (de incentivo à industrialização) são 43 projetos de usinas aprovados e cinco em análise. Destes, 13 em construção. A estimativa é de um investimento próximo a R$ 5 bilhões em quatro anos. Em quase uma década, a Perdigão e seus integrados desembolsaram mais de R$ 2 bilhões.

O estudo da Perdigão foi apresentado ao governo do estado. O levantamento estimou o crescimento da demanda por milho na região e a ocupação das terras por cana-de-açúcar. Segundo o documento, os projetos a serem implantados demandariam cerca de 1 milhão de hectares, sendo 70% absorvidos de áreas de grãos - algo que técnicos do setor discordam, acreditando que as lavouras seriam plantadas em antigas pastagens. "Há um grande potencial de aumento da produtividade da pecuária, pois a lotação animal é muito baixa", diz Carlos César de Queiroz, chefe da Assessoria Técnica da Secretaria de Agricultura de Goiás.

Para o presidente-executivo do Sindicato da Indústria de Fabricação de Álcool do Estado de Goiás (Sifaeg), Igor Montenegro, não deverá haver disputa entre os grãos, pois a cana-de-açúcar pode avançar sobre as áreas de pastagens. Mas ele alerta que os canaviais estão proporcionando renda maior e a lavoura tende a criar um "novo paradigma" da terra, elevando o custo da terra - com arrendamento mais remunerador que o de grãos.

De acordo com a estimativa da Perdigão, o consumo de milho e sorgo do estado saltaria de 1,8 milhão de toneladas para 2,9 milhões de toneladas em 2011 frente a uma produção hoje de 3,5 milhões de toneladas, que cairia para 2,9 milhões de toneladas. "Tudo é condicional. A alta dos preços dos grãos no mercado internacional pode reverter a situação", diz Leopoldo Viriato Saboya, do Planejamento Estratégico da Perdigão. Segundo ele, com o equilíbrio entre a oferta e a demanda, os preços do grão tendem a subir, perdendo o diferencial do Sul do País, onde está o maior parque industrial de aves e suínos. Em 2000, quando a Perdigão iniciava seus abates em Goiás, o estado consumia 25% de sua produção e o preço do milho na região era 17% inferior ao do Paraná, segundo levantamento da Cogo Consultoria Agroeconômica. No ano passado foi 10% menor.

Apesar de aprovar os novos projetos, o Governo do Estado está cauteloso. Segundo Queiroz, um grupo de estudo analisa o impacto dos investimentos e, se necessário, poderá definir zonas para a cana-de-açúcar. "O maior problema é a disponibilidade de água e a concentração de carbono, na época da queima da cana-de-çúcar", afirma Queiroz. A analista de Projetos do Produzir, Lúcia Holanda, diz que a tendência é estipular uma distância entre os projetos em cerca de 50 quilômetros. O assunto será discutido no ano que vem com um seminário organizado pelo governo. A Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg) também pretende debater o tema. "Temos de ter cautela para Goiás não virar um imenso canavial", diz o presidente Faeg, Macel Caixeta.

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