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Baixa tecnologia prejudica soja na região sul do RS

Estudo aponta o baixo uso de tecnologia como problema no rendimento da soja


O que leva a variações de rendimento na cultura da soja que podem chegar a uma tonelada de grãos por hectare numa mesma área geográfica? A tecnologia empregada é fator determinante para viabilizar a produção da oleoginosa no Rio Grande do Sul, onde o produtor precisa conviver com as limitações do déficit hídrico justamente no período de desenvolvimento da cultura.

No estado, a soja é a cultura que detém a maior área de plantio, oscilando em 3 milhões de hectares nos últimos anos. Presente em 80% dos municípios, sua produção tem sido crescente, resultado da boa tecnologia aplicada à cultura, do emprego de materiais genéticos de bom potencial produtivo e da crescente profissionalização dos produtores. No entanto, a freqüência e a intensidade das chuvas observadas no período do desenvolvimento da cultura (outubro a março), não são suficientes para que as plantas manifestem todo seu potencial produtivo. A sazonalidade do clima na soja é um dos principais motivos para a grande variação no rendimento, que oscila de 3 mil kg/ha em Passo Fundo (Região do Planalto) a 730 kg/ha em Santo Antônio das Missões (Metade Sul).

O fator ambiente, como temperatura, chuvas e solo, pode explicar as variações em diferentes regiões do estado, mas não é motivo para as diferenças encontradas em uma mesma região. A distância que separa os municípios de Alegrete e Santiago, por exemplo, é de apenas 200 km, mas enquanto os sojicultores alegretenses colhem 1.000 kg/ha, em Santiago o rendimento médio salta para 2.100 kg/ha. Época de semeadura, escolha da cultivar, manejo do solo e investimento no controle de pragas e doenças são alguns dos motivos para essa diferença.

Um estudo desenvolvido pela Embrapa Trigo, Embrapa Soja e Instituto Riograndense do Arroz (Irga) constatou que a região da Metade Sul - que abrange 98 municípios e representa uma área de 54% do território gaúcho - apresentou, no período 2000-2004, um rendimento de grão 6% menor do que a média do estado, com o crescimento da área com soja em 18% ao ano. Conforme a pesquisadora da Embrapa Trigo, Cláudia De Mori, o aumento expressivo da área de cultivo nesta região é resultado dos preços alcançados pela soja em 2000 e pela busca de alternativas para melhorar a renda nas propriedades.

"Somente na Campanha, o incremento de área foi de 44 mil hectares, provavelmente utilizando áreas que até então eram pastagens", explica a pesquisadora. Segundo ela, essa transição na atividade agrícola está ocorrendo sem planejamento do sistema de produção e pouca informação do produtor sobre as tecnologias disponíveis adequadas à Metade Sul.

Conforme o estudo, que entrevistou 6.163 produtores de soja, o sistema plantio direto na palha é prática em apenas 36% das lavouras (percentual bem distante dos 95% registrados na Região do Planalto, onde o rendimento de grãos praticamente dobra), e tem resultado num volume insuficiente de palha para garantir a cobertura e a umidade do solo. A rotação de culturas com pastagens é o sistema mais utilizado, mas em 54% da área relatou-se o cultivo consecutivo de soja nos últimos três anos.

Outro processo subutilizado na produção é a rotação da soja com arroz - cereal cultivado em cerca de um milhão de hectares na Metade Sul - prática capaz de controlar a multiplicação de plantas daninhas nas duas culturas. "A amostra sobre a qual foi realizado o estudo aponta que apenas 5% da área de várzea cultivada com arroz está sendo usada com soja. O arrozeiro não tem tradição na produção de soja e acaba descuidando de procedimentos básicos para a cultura, como a drenagem das áreas, a época de plantio e o controle de plantas daninhas, entre outros", afirma a pesquisadora do Irga, Cláudia Lange. Ela acredita que o aumento no índice de aproveitamento da várzea deverá levar o produtor a trocar, gradativamente, o pousio pela soja através da difusão de tecnologias para a região.

Na Metade Sul, as cultivares mais utilizadas são argentinas, restando apenas 0,17% da área semeada com cultivares de origem nacional. Ainda, 82% dos produtores fez uso de semente própria, guardada da safra anterior. "Temos cultivares nacionais, sementes certificadas, indicadas para a Metade Sul, capazes de garantir um maior rendimento na região devido a estabilidade. O produtor define o quanto pretende colher no investimento que faz quando escolhe a semente", afirma o pesquisador da Embrapa Trigo, Paulo Bertagnolli.

"Considerando o preço da soja hoje, a R$ 27 a saca de 60kg , a lavoura só é viável com um rendimento de 23 sacas por hectare. É preciso que o produtor faça o planejamento da safra, definindo o quanto pode investir e o possível retorno para pagar os custos de produção, buscando as tecnologias compatíveis para cada situação", conclui a pesquisadora Cláudia De Mori. As informações são da assessoria de imprensa da Embrapa Trigo.

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