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Banana da terra a “preço de ouro” em MT

Alto consumo, aliado à produção em queda vertiginosa, provoca inflação no mercado


Alto consumo, aliado à produção em queda vertiginosa, provoca inflação no mercado e encarece uma tradição

Pelo menos em Cuiabá, está proibido dizer que determinado produto está sendo vendido “a preço de banana”, como é habitual se referir a algo barato ou promocional. Há pelo menos quatro meses, os cuiabanos estão consumindo banana da terra importada da Bahia, Acre e outros estados, pagando quase o preço do ouro.

Desde o final de agosto deste ano, está quase impossível encontrar esse tipo de banana por menos de R$ 5 o quilo, um aumento de mais de 100% sobre os preços até então adotados na Capital e em Várzea Grande.

Atendendo um pedido da reportagem do Diário, a feirante do Mercado do Porto, Bete Campos de Sousa, pesou meia dúzia de bananas. Quer saber por quanto está se pagando por essa quantidade, que totalizou pouco mais de 1,5 quilo? Nada menos que R$ 7,85.

Presente na mesa dos cuiabanos e oferecida aos turistas em pratos típicos como na farofa que acompanha a maria-isabel (carne seca com arroz), no peixe ao molho, com carne seca, em forma de doces, balas e outras guloseimas, a produção local dessa espécie de banana não está mais atendendo à demanda.

Proprietária de uma banca de produtos típicos do cerrado, a cearense Bete Sousa contou que está mantendo a banana da terra em sua banca como atrativo comercial. Lucro mesmo, garantiu ela, não está obtendo com esse produto.

Até poucos anos, explicou a comerciante, comprava 300 bananas ao custo de R$ 100, relação que se inverteu com a crise da produção. Agora, diz, paga R$ 100 por uma caixa com 70 unidades de banana importada do interior da Bahia.

Feirante de varejo e atacado há mais de 15 anos, desde que se casou com o cuiabano Maurício Santino da Conceição, Bete comprava a banana diretamente dos produtores, especialmente da agricultura familiar de áreas de assentamentos rurais nos municípios próximos de Cuiabá.

Do assentamento Carrijo, na Serra de São Vicente, uma comunidade dentro do município de Cuiabá, vinha grande parte da banana comercializada por Bete Campos.

Lá, conforme a feirante, a seca reduziu a área plantada e o fogo destruiu o que estava sendo produzido. “As famílias estão passando dificuldades”, lamentou.

Cuiabana de “tchapa e cruz”, como é costume se referir àqueles que nascem e permanecem na capital mato-grossense, dona Maria Luiza da Silva Alves, 60 anos, moradora do bairro Dom Aquino, disse que levou um susto quando soube do preço da banana da terra.

“Já comprei o peixe, deixei uma sobrinha de dinheiro para a banana, mas não deu pra levar. Tive de abrir mão desse costume, mesmo sentindo falta”, contou a consumidora. Ela lembrou que na casa dos avós dela, um sítio na região de Rosário Oeste, há muitos anos havia plantação de banana da terra para o consumo da família e comércio na feira. A plantação foi desaparecendo até sumir por completo.

O professor João Carlos Vicente da silva, 45 anos, diz que às vezes dá uma vontade tão grande de comer banana frita que não resiste. Diante do desejo quase incontrolável, diz, compra a fruta mesmo considerando esse preço uma vergonha para um Estado que tem tradição no consumo, mas não valoriza a produção. “Consumimos banana da terra das mais variadas formas, por isso acho que quem a cultiva deveria receber acompanhamento e apoio”, protestou.

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