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Banco do Brasil altera política de riscos e provisão diminui

Isso é aplicado para clientes que possuem mais de uma linha de crédito, e ficam inadimplentes em uma delas


O Banco do Brasil resolveu mudar seus critérios de “arrasto” de risco de crédito. Isso é aplicado para clientes que possuem mais de uma linha de crédito, e ficam inadimplentes em uma delas. O banco estatal usava uma política parecida com a do mercado, em que, caso a linha com atraso representasse mais de 1% do total, todas as outras cairiam no pior nível de risco. A partir de setembro, este limite subiu para 5%. Com isso, o banco reduziu, em um primeiro momento, sua necessidade de provisão para crédito de liquidação duvidosa em R$ 200 milhões. “Ao contrário do que se pensa, o banco é mais conservador que os concorrentes. Nós crescemos 93% em nosso crédito consignado, que não tem risco, enquanto os outros bancos estão crescendo em crédito para o consumo, com riscos bem maiores”, afirma Aldo Luiz Mendes, vice-presidente de finanças e Relações com Investidores do banco.

Ele destaca ainda que o segmento mais beneficiado pela medida é o crédito agrícola. “O agricultor possui suas linhas para financiar o seu trabalho, para custeio e investimento, e também o crédito pessoal, como empréstimos e cheque especial. Geralmente, se ele não consegue pagar todos os empréstimos, ele prefere primeiro atrasar nas linhas pessoais, que geralmente são de valores bem menores. Portanto, não há motivos para jogar o cliente para o pior risco por conta dos empréstimos para pessoa física”, diz Mendes.

O vice-presidente do BB conta ainda que houve uma conversa com os investidores estrangeiros sobre o assunto. “Eles aceitaram muito bem, pois esta medida traz aplicações imediatas no resultado final do banco, e conseqüentemente, na distribuição de dividendos para eles”.

Mendes afirma ainda que não há grandes riscos na mudança, já que o índice de cobertura do banco contra inadimplência está em níveis considerados altos pelo mercado, em torno de 196,6% das operações vencidas a mais de 60 dias. Na carteira de agronegócios, as provisões cobrem 160,8% da inadimplência total.

Concorrência conservadora

Bradesco, Itaú e Unibanco, os principais concorrentes do Banco do Brasil, trabalham com políticas muito mais conservadoras do que o gigante estatal. De acordo com o superintendente executivo da área de empréstimos e financiamentos do Bradesco, Osmar Roncolato, o banco faz o chamado “arrasto” a partir de qualquer tamanho de dívida que o cliente possui. “Tentamos ser o mais aderentes possível à resolução nº 2.682”, afirma o executivo do maior banco privado do País. No Itaú, a política é a mesma. “Nossa avaliação é a mais conservadora possível”, afirma Henri Penchas, vice-presidente do Itaú.

Já no Unibanco, existe alguma liberdade para a classificação do nível de inadimplência do cliente, mas o espaço é bastante reduzido. De acordo com o vice-presidente do banco, Lucas Melo, não é utilizado um percentual de dívida em atraso, mas sim um valor fixo e não representativo. “Dependendo da carteira, o valor varia entre R$ 100 e R$ 300, para evitar que valores simbólicos, muitas vezes apenas questões de divergência em um item específico com o cliente, contaminem todo o saldo do mesmo. Isto é comum na carteira de cartão de crédito, quando o cliente questiona, por exemplo, a tarifa de anuidade, mas paga a fatura em dia”, explica o executivo.

Na opinião do analista da Lopes Filho & Associados, João Augusto Frota Salles, a mudança do critério do Banco do Brasil pode ser perigosa. “Dificilmente o cliente fica inadimplente em apenas uma linha de crédito. Se faltou dinheiro para pagar um conta, mas cedo ou mais tarde acaba faltando para a outra”, diz Salles.

Sem comentar o caso específico do Banco do Brasil, o ex-diretor de normas do Banco Central (BC), Sergio Darcy, diz que apesar de a Resolução nº 2.682 dar alguma liberdade para os bancos classificarem os clientes por níveis de risco, é função do BC verificar se os procedimentos estão sendo seguidos corretamente.

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