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Bioinsumos podem driblar escassez de fertilizantes

Algumas soluções aumentam a eficiência das plantas na utilização do fertilizante existente


Foto: Pixabay

O Brasil vive dois momentos distintos quando o assunto envolve bioinsumos e fertilizantes. Enquanto o primeiro vive uma expansão, o segundo está em meio a debates sobre a possível escassez nas próximas safras. Os produtos de base biológica, que incluem soluções que potencializam a adubação, são uma prioridade no país. Somente neste ano o Ministério da Agricultura já registrou  77 produtos de baixa toxicidade. Em 2020, foi o ano recorde de registro com 95 produtos desse tipo.

Na possível crise de abastecimento de fertilizantes, aliada aos altos preços, os bioinsumos podem ser aliados. O Portal Agrolink conversou com Fábio Brandi, Gerente Técnico da Plant Helth Care (PHC) Brasil, sobre esse tipo de segmento: A empresa foi a responsável por trazer ao país a proteína Harpin, que aqui recebe o nome de H2Copla. Trata-se de uma proteína que age como bioestimulante das plantas, agindo contra os estresses como a seca e no potencial radicular.

Portal Agrolink: como os bioinsumos podem colaborar caso haja escassez de fertilizantes e a driblar os altos custos?
Fábio Brandi: neste momento em que a baixa disponibilidade e o alto custo dos fertilizantes podem impactar a produtividade, sabemos que alguns bioinsumos podem fazer a diferença, pois aumentam a eficiência das plantas na utilização do fertilizante existente. Na prática, certos bioinsumos, ativam a fisiologia da planta, promovendo maior crescimento radicular, proporcionando melhor absorção de água e nutrientes. Ajudam a planta a driblar o estresse hídrico e otimizar o uso de todos os insumos, contribuindo para um efetivo ganho de produtividade e de rentabilidade ao agricultor em todas as culturas.

Portal Agrolink: para entendermos: os bioinsumos, inclusive os promotores de crescimento, são uma onda recente. Não existe a dependência chinesa? Por quê?
Fábio Brandi: adubos e fertilizantes estão entre os nossos principais produtos de importação da China. Segundo o Blog FAZCOMEX (24/09/2021), importamos deles o equivalente a U$ 593 milhões destes produtos em 2019. Eles são grandes produtores e exportadores de uréia, sulfatos e fosfatos, representando quase 1/3 do mercado mundial. A crise energética, provocada pelos eventos climáticos, gerou racionamento de energia na China com diminuição importante na produção e consequente aumento recorde de preços e
escassez de produto no mercado global. Já no caso dos bioinsumos, a China não é fornecedora importante de matéria prima ou mesmo de cepas destes produtos para o mercado mundial. Muitas vezes, a produção é regionalizada, utilizando-se cepas de microorganismos da própria região, já adaptadas e com maior eficiência para aquela região. Desta forma, o mercado de bioinsumos sofre menos com a atual crise que se estabeleceu junto aos grandes fornecedores globais de defensivos e fertilizantes.

Portal Agrolink: como os promotores de crescimento agem em relação aos fertilizantes químicos? Há diferenças?
Fábio Brandi: os promotores de crescimento (ou bioestimulantes) agem na fisiologia da planta, a fim de preparar a planta para aproveitar este recurso com maior eficácia, aumentando o aproveitamento do fertilizante que já está disponível no solo (aplicado em safras passadas) ou que é aplicado junto ao plantio e durante o ciclo de crescimento da planta. São tecnologias que se complementam. O Programa Nacional de Bioinsumos (PNB), lançado pelo MAPA em Maio/2020 conceitua bioestimulantes como: “produto que contém substância natural com diferentes composições, concentrações e proporções, que pode ser aplicado diretamente nas plantas, nas sementes e no solo, com a finalidade de incrementar a produção, melhorar a qualidade de sementes, estimular o desenvolvimento radicular, favorecer o equilíbrio hormonal da planta e a germinação mais rápida e uniforme, interferir no desenvolvimento vegetal, estimular a divisão, a diferenciação e o alongamento celular, incluídos os processos e as tecnologias derivados do bioestimulante”.

Portal Agrolink: que tipo de orientações e qualificações o produtor deve ter para aplicar um bioinsumo e ter bons resultados, tratando-se de um organismo vivo?
Fábio Brandi: os bioinsumos não congregam somente organismos vivos, mas sim também substâncias (ou metabólitos) produzidas por estes organismos. Este é o caso da proteína HARPIN, a qual é uma proteína produzida por bactérias fitopatogênicas de ocorrência natural no meio ambiente. A grande maioria dos bionsumos, produzidos hoje por empresas responsáveis, que atuam neste mercado podem ser utilizados dentro do manejo convencional do produtor, combinados com outras tecnologias que o produtor normalmente utiliza para controle de pragas e doenças e aumento de crescimento de plantas (uso de sementes melhoradas, defensivos químicos e fertilizantes químicos).

Os bioinsumos têm características distintas em relação à estas outras tecnologias e são dependentes de condições específicas de planta, solo e clima para sua correta aplicação e eficácia. O produtor deve ter em mãos as informações mais importantes sobre o modo de ação de cada bioinsumo, sobre as condições corretas da planta, do solo e do clima para sua correta aplicação e estar ciente sobre a eficácia a ser alcançada com cada produto. As empresas têm papel fundamental em levar estas informações ao produtor e dar toda a assistência a ele, desde a aplicação até a colheita, pois são tecnologias que uma boa parte dos produtores ainda desconhece ou começou a utilizar recentemente.

Portal Agrolink: qual a opinião sobre o projeto que prevê a produção de bioinsumos on farm?
Fábio Brandi: não existe hoje dentro da legislação qualquer impedimento quanto à produção on-farm de bioinsumos e de que a produção agrícola advinda destas propriedades seja comercializada livremente. O que a legislação não permite é que estes bioinsumos sejam comercializados ou repassados a terceiros, sem estas fábricas estarem devidamente credenciadas junto aos órgãos competentes para este fim. Com o aumento do mercado de biológicos no Brasil, cresceu também o interesse por produzir bioinsumos em propriedades rurais dos mais diversos portes, para uso próprio. Segundo a EMBRAPA esta prática já é intensa em propriedades de grãos do centro-oeste e MG; Paraná e regiões produtoras de frutas do NE, se estendendo fortemente à região do MATOPIBA.

Existem propriedades, normalmente de grandes grupos, que investem em infraestrutura e pessoal especializado (muitas vezes pesquisadores oriundos de universidades e outros órgãos públicos de pesquisa), que obtém sucesso na replicação e formulação destes produtos para uso na propriedade. Porém, há evidências de um número muito grande de propriedades aonde a produção é precária, ineficiente e sem o mínimo de condições de higiene necessárias para a produção de formulações seguras e eficientes. Nestes casos, há grande risco de produção de produtos ineficientes, que não atingem as concentrações adequadas demicroorganismos que se quer replicar e, pior ainda, que podem trazer patógenos e outros contaminantes, com risco aos humanos, animais e plantas.   

As empresas de bioinsumos, credenciadas junto ao MAPA, necessitam seguir processos bastante rígidos de produção e controle de qualidade de seus produtos, com todas as garantias necessárias de concentração, pureza da formulação e origem da cepa utilizada. Já na produção on-farm não existe nenhuma obrigatoriedade quanto à qualidade do produto produzido. Segundo a EMBRAPA – Soja, em um trabalho recente sobre a qualidade de inoculantes de Bradyrhizobium e Azospirilum produzidos on-farm em várias regiões do Brasil, 100% das amostras estavam contaminadas com microorganismos externos, sendo que 44% delas apresentando gêneros que abrigam potenciais patógenos humanos, com Enterobacter e Staphylococcus, por exemplo. O receio nosso e de todos que trabalham dentro deste mercado é de que estes produtos, normalmente de baixa ou nenhuma eficiência, com potencial risco à saúde humana e ao meio ambiente, possam afetar negativamente a boa imagem de nosso mercado de bioinsumos, trazendo desconfiança ao nosso cliente.

Da parte da indústria, uma saída para isto, é investir cada vez mais em tecnologia, trazendo ao mercado produtos cada vez mais disruptivos e eficientes, tecnologias patenteadas, que não possam ser replicadas facilmente por terceiros, deste modo mantendo a confiabilidade do setor, sua rentabilidade e sua própria sobrevivência. Da parte das autoridades competentes, há necessidade de regulamentar e fiscalizar a produção on-farm, de modo que sejam minimizados ou resolvidos os problemas acima citados. A própria EMBRAPA, em uma Nota Técnica, sugere as seguintes providências, para minimizar estes problemas:

1) Permitir a multiplicação apenas de microrganismos que constam das listas oficiais do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), ou com especificação de referência, e que sejam adquiridos em bancos de germoplasma reconhecidos como oficiais pelo Ministério;
2) Necessidade de cadastro de estabelecimento produtor de bioinsumos junto ao MAPA;
3) Necessidade de um responsável técnico habilitado para a produção de bioinsumos nas
fazendas.

Esperemos que todas estas medidas sejam implementadas em prol da segurança alimentar de
nossa população. 

Portal Agrolink: em que culturas, regiões, tamanho de área, a Harpin já foi testada no Brasil?
Fábio Brandi: desde 2018, a proteína é utilizada comercialmente na cultura da cana-de-açúcar, através da parceria de distribuição que temos com a COPLACANA, nas principais regiões produtoras de cana do centro-sul, representando mais de 50.000 hectares de áreas aplicadas na safra 2021/22. Além da cana-de-açúcar, a proteína tem sido aplicada também nas culturas de soja, sorgo, milho, café, citrus, amendoim, dentre outras.

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