Os preços do álcool anidro e hidratado despencaram na sexta-feira passada, como reflexo da demanda fraca e oferta abundante de cana. O litro do anidro bateu R$ 0,427 (à vista, sem impostos), com recuo de 23,7% sobre a semana anterior, de acordo com levantamento semanal do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). O hidratado fechou a R$ 0,371, no mesmo período, com queda de 23,2%. Nos últimos doze meses, a desvalorização dos dois tipos de álcool atinge quase 60%.
"Na própria sexta-feira, as cotações do litro do anidro chegaram a bater R$ 0,35", afirmou Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo (Unica). "São seis distribuidoras recuadas e mais de 230 usinas querendo vender."
Conforme José Pessoa de Queiroz Bisneto, presidente do Grupo J. Pessoa, existe um clima de "pânico" no setor e algumas usinas entraram no mercado desovando parte de seus estoques.
O setor sucroalcooleiro, segundo analistas ouvidos pelo Valor, já trabalha com as margens apertadas, considerando as atuais cotações. Para Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro, o mercado trabalha com a expectativa de maior oferta em 2004/05.
Segundo Nastari, a safra de cana-de-açúcar poderá ser maior na região Centro-Sul do país, mas o rendimento da matéria-prima por tonelada de cana será menor que na temporada 2003/04, que ficou em 149,6 quilos por ATR (volume de açúcar na cana). Conforme Padua, da Unica, o aumento da safra será reflexo do aumento de área plantada. Somente o Grupo Cosan terá uma colheita 15% maior, para 30 milhões de toneladas.
"O desenvolvimento da cana está prejudicado", disse Pessoa. O empresário é um dos poucos otimistas para este ano. Segundo ele, os preços podem se recuperar no segundo semestre, se confirmada a produtividade menor.