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Brasil ainda não sabe o que poderá ganhar com implantação da Alca


A pouco mais de um ano para o fim do prazo de negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), o Brasil ainda não sabe quais serão seus eventuais ganhos em participar do acordo, afirmou ontem o co-presidente brasileiro do bloco, Adhemar Bahadian.

"Esses exercícios ainda não vi, pois os que foram feitos se basearam em expectativas irreais", disse o embaixador, durante audiência pública no Congresso, ao ser questionado sobre as vantagens de participar da Alca. Os estudos sobre a participação do Brasil nessa área de livre comércio partem, quase sempre, de pressupostos que não irão se confirmar, como a plena abertura do mercado norte-americano para produtos brasileiros.

De acordo com Bahadian, é preciso haver uma negociação urgente entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e os Estados Unidos para decidir quais serão as reduções tarifárias para cada produto, antes de uma avaliação sobre os ganhos e as perdas que o acordo possibilitará. "Deve ser feita com urgência um negociação 4+1 [Mercosul e Estados Unidos] para sabermos as efetivas rebaixas tarifárias", afirmou.

O processo, diz o embaixador, também ficará mais claro a partir dos resultados da reunião da Alca em fevereiro de 2004, no México. Nesse encontro, serão acertadas as regras que todos os 34 países do futuro bloco comercial terão de seguir.

No México, o embaixador admitiu que poderá haver retrocessos no processo de formação da Alca. "Corre-se o risco de voltarmos a uma situação na qual os países querem maximizar os ganhos nas suas áreas de interesse e minimizar as concessões nas suas áreas sensíveis", afirmou.

Impasse

Até a reunião de Miami, no mês passado, havia um impasse na Alca. O Brasil e os Estados Unidos não concordavam sobre quais temas deveriam ser negociados com maior profundidade. Os brasileiros defendem uma Alca "light", e os americanos, um bloco mais abrangente. A polêmica foi superada com base no acordo de Miami, que na verdade postergou a disputa para fevereiro. O sucesso conseguido em Miami se deve a um documento final que deixou em aberto qual será a ambição final do acordo.

Ovos com bacon

Na Câmara dos Deputados, Bahadian contou uma parábola, que ouviu de diplomata africano na ONU (Organização das Nações Unidas), a qual demonstra a preocupação do Itamaraty com os possíveis prejuízos de uma associação comercial com os norte-americanos.

A história, brincou o embaixador brasileiro, se passa no tempo em que os bichos ainda falavam. Na ocasião, a galinha propôs ao porco uma joint venture para fornecer aos Estados Unidos um dos seus desjejuns prediletos: ovos com bacon.

O porco, após refletir, ponderou que seria fácil a galinha fornecer os ovos, mas que, para entregar o bacon, ele morreria. A galinha respondeu: "Na joint venture alguém sempre sai perdendo".

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