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Brasil cobre necessidade de trigo apesar da Argentina


Uma esperada grande safra de trigo este ano no Brasil e mais importações do produto do Uruguai e Paraguai vão ajudar os brasileiros na próxima temporada 2009/10 (agosto/setembro) a enfrentarem um segundo ano em que a oferta será menor na Argentina, onde a seca e as políticas governamentais afetam o setor produtivo.

O Brasil, um dos maiores importadores mundiais do cereal, costuma comprar quase todo o trigo importado da Argentina, onde a última colheita (2008/09) caiu praticamente pela metade, reduzindo as exportações argentinas e forçando os brasileiros a buscarem trigo mais caro no Canadá e nos Estados Unidos.

Mas as importações do Brasil serão bem menores do que alguns analistas previam inicialmente, devido a uma maior produção brasileira projetada para 09/10, estoques remanescentes de 2008/09 e importações alternativas livres de tarifas vindas dos dois parceiros menores do Mercosul.

"Agricultores no Paraguai e Uruguai estão aumentando a produção porque a Argentina está tendo problemas de colheita e porque o preço está bom", disse Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico, um dos maiores da América Latina.

"Ironicamente, a situação pode ser menos apertada em 2009/10", declarou.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) previu no início do mês que as importações em 09/10 cairão para 5,6 milhões de t - o menor nível em cinco anos, parcialmente devido a outra grande safra nacional, de 5,6 milhões de t, após o país ter colhido 6 milhões de t em 08/09, uma das maiores da história.

A colheita nos Estados do Centro-Oeste está começando, e no Sul se inicia no final de agosto, no Paraná, maior produtor nacional.

Terra ressecada
A Argentina costumava ser um dos cinco maiores exportadores de trigo do mundo, mas uma colheita ruim na temporada 08/09, de 8,4 milhões de t, reduziu a disponibilidade para exportações, fazendo da Argentina o sexto fornecedor global, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

As exportações argentinas provavelmente cairão para 4 milhões de t em 2009/10, ainda abaixo do volume estimado para a temporada anterior (5,5 milhões de t), segundo informou o USDA em seu último relatório mensal.

Os produtores argentinos estão semeando o trigo da nova safra nos Pampas, mas as terras ressecadas têm impedido o plantio em muitas áreas, e a semeadura deve cair 40% em relação ao ano passado, sendo a menor desde que os registros começaram a ser feitos.

Os produtores afirmam ainda que os limites para as exportações e o controle de preços utilizados no combate à inflação na Argentina também levaram importantes compradores no Brasil a olharem para outras origens.

"Isso nos preocupa muito, porque como qualquer companhia nós não queremos perder os nossos clientes", afirmou David Hughes, presidente de uma associação de trigo da Argentina (ArgenTrigo).

"Vamos ter o suficiente para as nossas necessidades, mas não teremos condições de fornecer ao Brasil tudo o que eles precisam."

Os problemas na Argentina são boa notícia para os produtores no Paraguai e Uruguai, cujo produto pode ser comercializado com o Brasil também sem tarifas, como acontece com o produto argentino, uma vez que há um acordo entre os integrantes do Mercosul.

Isso dá uma vantagem ao produto dos países vizinhos do Brasil em relação a fornecedores do hemisfério norte.

Para o produto do Canadá e Estados Unidos, os importadores têm que pagar uma tarifa de 10%, o que eleva os custos dos moinhos, embora recentemente, nesta entressafra no Mercosul, alguns carregamentos norte-americanos tenham se mostrado mais baratos em relação à oferta do Uruguai.

O Paraguai prevê produzir entre 1,2 milhão e 1,5 milhão de t de trigo neste ano, e cerca de 1 milhão de t deve ser destinada ao Brasil - duas vezes mais do que o volume vendido ao vizinho no último ano comercial.

"Eles vão comprar o que quer que possamos vender... O trigo está em excelentes condições até o momento", afirmou Luis Cubilla, da Câmara de Cereais e Oleaginosas do Paraguai.

Recorde uruguaio
O Brasil também se voltou para o Uruguai, em função da escassez na Argentina.

No primeiro semestre do ano, as importações brasileiras do produto uruguaio cresceram para 428 mil t, ante apenas 87 mil t no mesmo período de 2008, segundo dados do Ministério da Agricultura, e o Uruguai está respondendo com uma maior semeadura.

Eduardo Blasina, da consultoria com sede em Montevidéu Blasina & Tardaguila, afirmou que os produtores uruguaios devem plantar 550 mil hectares nesta temporada, contra 476 mil há um ano.

"Se o tempo for normal, isso vai significar 1 milhão de t que teremos disponíveis para exportar pela primeira vez na história", ele afirmou.

Após anos de limites para exportação de carne bovina na Argentina, os uruguaios já conseguiram alguns mercados de seu vizinho, mas os produtores de trigo argentinos estão esperançosos de que poderão recuperar seus clientes se ocorrerem mudanças nas políticas governamentais.

A presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, perdeu o controle do Congresso em uma eleição no mês passado, elevando as expectativas dos produtores em relação a mudanças na política intervencionista do Estado na agricultura.

"Se o nosso governo permitir que compitamos com os nossos vizinhos, vamos ter um bom desempenho e vamos recuperar os clientes", afirmou Hughes, de um grupo de trigo da Argentina.

"Depende do que o nosso governo pensa que é importante."

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