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Brasil desenvolve primeira cana editada não-transgênica do mundo

Novas variedades são resultado do silenciamento de dois genes com CRISPR


Foto: Divulgação

O Brasil apresenta as primeiras variedades de cana-de-açúcar editadas e consideradas não-transgênicas do mundo ou DNA-Free, de acordo com a Resolução Normativa nº 16 (RN nº 16) da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). O desenvolvimento é fruto do trabalho de cientistas da Embrapa Agroenergia (DF).

As variedades em questão são a Cana Flex I e a Cana Flex II. Elas apresentam, respectivamente, maior digestibilidade da parede celular e maior concentração de sacarose nos tecidos vegetais. Elas respondem a um dos maiores desafios do setor: aumentar o acesso das enzimas aos açúcares presos nas células, o que facilita a fabricação de etanol (de primeira e segunda geração) e a extração de outros bioprodutos.

A Cana Flex I é fruto do silenciamento do gene responsável pela rigidez da parede celular da planta. Essa estrutura foi modificada e apresentou maior “digestibilidade”, ou seja, maior acesso ao ataque de enzimas durante a etapa da hidrólise enzimática, processo químico que extrai os compostos da biomassa vegetal. Já a Cana Flex II  foi gerada por meio do silenciamento de um gene nos tecidos da planta, o que ocasionou um incremento considerável na produção de sacarose nos colmos da planta modelo, a Setaria viridis. Com isso tem maior concentração de açúcar nos tecidos vegetais. Ela apresentou incremento de até 15% de sacarose nos colmos, 200% a mais de sacarose nas folhas e 12% a mais de liberação de glicose na sacarificação. Além de gerar bagaço com maior digestibilidade para uso na alimentação animal.

Ambas as pesquisas utilizaram a técnica da edição genômica CRISPR (do inglês Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats), técnica revolucionária de manipulação de genes descoberta em 2012. Na construção das Canas Flex I e II, não houve, portanto, modificação do DNA da planta, apenas o silenciamento dos genes. Por esse motivo, a CTNBio classificou as novas variedades como não-transgêncas. 

“A tecnologia CRISPR tem permitido uma democratização do uso da biotecnologia na agricultura, não somente do ponto de vista de mais empresas e instituições participarem do desenvolvimento de produtos que chegam ao mercado, mas também permitindo que mais espécies de interesse sejam beneficiadas”, explica pesquisador da Embrapa Hugo Molinari. Segundo ele, o custo estimado para o desenvolvimento de uma planta transgênica é de cerca de US$ 136 milhões e entre 30% e 60% desse valor é destinado às etapas desregulamentação. 

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