CI

Brasil e Estados Unidos voltam a divergir sobre a Alca


Uma semana após o surgimento do impasse nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) na cidade mexicana de Puebla, Brasil e EUA voltaram a mostrar divergências ontem sobre os rumos do acordo. Ross Wilson, representante do USTr (espécie de ministério do comércio exterior dos EUA) e negociador do país para a Alca, afirmou durante seminário em Washington que "não faz sentido" uma Alca nos moldes em que o Brasil está propondo. "Não estamos preparados para isso", disse.

Para o embaixador brasileiro em Washington, Rubens Barbosa, a atual posição norte-americana prega "flexibilidade para nós [o Brasil] e ambição apenas para eles [os EUA]". Ross Wilson voltou a repetir que os EUA não aceitam negociar regras antidumping e subsídios agrícolas no âmbito da Alca, como quer o Brasil, e previu que o mercado brasileiro perderá investimentos, caso o país não aceite as posições norte-americanas.

Entre as exigências dos EUA consta que o Brasil assine acordos rígidos determinando regras nas áreas de investimento, serviços, compras governamentais e propriedade intelectual. "Os países que não aceitarem as regras não terão investimentos e geração de empregos. Continuarão presos à armadilha do baixo crescimento", afirmou Wilson. "Um acordo abrangente sem essas regras não faz sentido."

Rubens Barbosa voltou a qualificar como "fundamental" a discussão de subsídios e regras antidumping no âmbito da Alca e lembrou que foram os próprios EUA quem "mudaram as regras" da negociação em 2003. "Pensávamos que tudo estava sobre a mesa, e não estava. Não podemos esperar o final da negociação para ver o que vamos ganhar. Não é justo", disse.

Barbosa citou o exemplo de recente negociação entre os EUA e a Austrália, na qual os australianos aceitaram prazos de até 21 anos para que alguns de seus produtos agrícolas sejam beneficiados pela abertura do mercado americano. "O livre comércio não vai beneficiar um país como o Brasil e deixar a área agrícola de fora", disse.

Wilson sugeriu que o Brasil está em uma posição de isolamento ao dizer que outros 13 países negociadores concordam com as condições norte-americanas. "Isso deveria mostrar que a negociação pode avançar", disse.

"O Brasil e o Mercosul são vistos como dissidentes", respondeu Barbosa, "mas os 13 países que estão ao lado dos EUA já negociaram com os norte-americanos. Eles já têm uma situação preferencial e estão querendo tornar essas concessões permanentes. Nós ainda não temos nada"", disse. A Alca prevê um bloco comercial entre 34 países americanos. Se mantido o cronograma original, o tratado deve ser assinado em 2005 e entrar em vigor em 2006.

Apesar dos fatos e das declarações, tanto Wilson quanto Barbosa afirmaram estar "razoavelmente otimistas" com o eventual sucesso das negociações, que devem prosseguir daqui a duas semanas novamente em Puebla.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.