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Brasil lidera com derivados da biomassa

O conhecimento avançado no mercado de biomassa poderá transformar o País em um dos líderes mundiais no setor de produtos ecologicamente corretos


O clima favorável, a abundância de terras agrícolas e de biodiversidade apontam que o caminho do desenvolvimento do Brasil no campo. O conhecimento avançado no mercado de biomassa poderá transformar o País em um dos líderes mundiais no setor de produtos industriais ecologicamente corretos, ultrapassando inclusive os países desenvolvidos. Para o "ecossocioeconomista" Ignacy Sachs, uma aposta neste mercado poderá fomentar um novo ciclo de desenvolvimento rural, includente e sustentável.

Segundo Sachs, o número de empregos na indústria está caindo e o Brasil deve investir no crescimento rural. "É o fenômeno da "desindustrialização": cresce a produtividade, mas cai o emprego. É preciso criar trabalho para a população", alerta. "O Brasil é mais rural do que as pesquisas dizem. Podem ser criadas oportunidades de trabalho decente no campo", revela. Para ele, o Brasil está "com a faca e o queijo na mão" para liderar o mercado de biomassa. Além das vantagens naturais, o País oferece outros atrativos como equipamentos de ponta, conhecimento e tecnologia.

O especialista aponta que o avanço rural não será limitado às commodities agrícolas. "Ao agregar valor nas vantagens comparativas, o Brasil poderá produzir novos produtos industriais derivados da biomassa", diz - citando materiais de construção, plásticos, química verde, ração animal, fármacos e cosméticos. Além disso, ele revela que centenas de plantas brasileiras ainda são desconhecidas e destaca que o País deveria investir em pesquisa para potencializar essas vantagens. "Não dá para ocupar o lugar de uma potência sem investir em pesquisa".

Sachs faz um alerta para a "febre aguda do etanol" no País: a bioenergia não pode ser limitada ao etanol derivado da cana-de-açúcar. "Hoje, o Brasil tem uma competitividade enorme mas, para que seja mantida no futuro, outras bioenergias não podem ser omitidas", diz.

No curto prazo, outras fontes de energia sustentável viáveis incluem o biodiesel, o etanol celulósico e a energia a lenha. Para o "ecossocioeconomista", o boom da agroenergia deve ser acompanhado com cuidado. A criação de políticas públicas é essencial para que o desenvolvimento seja bem sucedido. "As forças de mercado precisam ser disciplinadas. Se ficar só na avaliação do custo e benefício, o Brasil corre o risco de se transformar em um enorme canavial e uma grande favela", afirma.

Sachs ainda defende que o investimento em bioenergia no Brasil seja acompanhado de uma aproximação aos países em desenvolvimento. "A cooperação Sul-Sul permitirá que outros países, além do Brasil, estejam produzindo bioenergia e fortalecerá o Hemisfério durante as negociações com os países desenvolvidos", completa.

Ecossocioeconomista

Polonês radicado na França, Ignacy Sachs é diretor da École des Hautes Études en Sciences Sociales e do Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo, da Universidade de Paris. A relação com o Brasil é especial: foi aqui onde buscou refúgio durante a Segunda Guerra Mundial. Morou no Rio de Janeiro, onde estudou economia na Universidade Cândido Mendes. Além do Brasil, o especialista desenvolveu pesquisa na Índia e Polônia, antes de ocupar diversos cargos em agências de desenvolvimento da ONU. No Brasil, atua como consultor do Sebrae.

Aos 82 anos de idade, Sachs é um profundo conhecedor dos desafios dos países em desenvolvimento. Segundo ele, o crescimento de um país gira em torno da forma como o tripé econômico, social e ambiental se combina. Ele afirma que não é viável crescer às custas da devastação da floresta e sem corrigir as mazelas sociais. Sachs segue este fundamento: a defesa do desenvolvimento que integra as condicionalidades ecológicas orientadas a objetivos sociais e éticos.

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