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Brasil pesquisa a "cana-energia" para elevar produção de etanol

Novas variedades devem gerar um tipo com mais fibra e menos sacarose: a chamada cana-energia


Pesquisadores do Programa Bioen-Fapesp, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, querem expandir a produção de etanol no País. Para isso, são desenvolvidas novas variedades da planta, às quais devem gerar um tipo com mais fibra e menos sacarose: a chamada cana-energia.

A cana-energia não existe no campo, embora estudos sinalizam a planta como geneticamente modificada para a produção de biomassa, em vez de sacarose (açúcar). Atualmente, o etanol é extraído a partir da sacarose. “Com as novas tecnologias para a produção de etanol, os melhoristas (geneticistas) podem desenhar a cana-energia, com mais fontes de fibras, mais celulose e mais produtividade”, explicou Gláucia Souza, professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo e coordenadora do Programa Bioen-Fapesp.

“A partir do momento da identificação dos genes, estimamos que teremos etanol celulósico [2ª geração] de seis a dez anos, pronto para ser utilizado de modo efetivo no mercado”, disse.

Segundo Marcos Guimarães de Andrade Landell, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, na cultura da cana e na pesquisa agrícola, o interesse está além da sacarose, como a soma de todos os açúcares, incluindo glicose e frutose, e na produção máxima de fibra. “Antes, a cana se pagava pela qualidade, como sinônimo de alto teor de sacarose. Hoje, se busca a produção da biomassa como um todo”, explicou. “A expectativa é fazer do etanol o principal produto da cana, superando o açúcar”, concluiu.

Dentre os estudos realizados pela Fapesp, Gláucia destaca o trabalho de seu grupo: “O grupo busca gerar ferramentas moleculares que possam ser utilizadas para o melhoramento da cana, como redes regulatórias; bioinformática; genética molecular e transgenia”, explicou.

A coordenadora avaliou mais de 50 genótipos da última safra de cana. Gláucia tirou genes associados ao teor de sacarose e da quantidade de açúcar da cana. “Estamos realizando o melhoramento clássico”, afirmou. “O melhoramento da cana-de-açúcar é pesquisado há mais de dois séculos. A cana não é uma planta natural, mas, sim, uma criação genética a partir de um cruzamento híbrido”, acrescentou.

Segundo Landell, foram necessárias três décadas para que a produtividade brasileira passasse de 3 mil litros de etanol por hectare, para 6.800 litros por hectare. Em São Paulo, esse teto é um pouco maior e chega a 7.700 mil litros de etanol por hectare. Essa diferença é resultado de investimentos em ciência e tecnologia. Landell diz que a tecnologia adotada atualmente gera avanços de 1,5% ao ano em produtividade. Dados recente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) apontam que a moagem da cana-de-açúcar na safra 2010/2011 totalizou 26,22 milhões de toneladas, aumento de 52,20%, maior que o volume processado no mesmo período de 2009, que foi de 17,23 milhões de toneladas.

Outros estados

As variedades de cana-de-açúcar também seguem um outro propósito: se adaptarem a diferentes situações. Para Gláucia, há fazendas que produzem, em média, seis tipos de cultivares. “Tem fazendas na Bahia que beiram mais que 260 toneladas por hectare de produtividade”, contou.

A Agro-Indústrias do Vale do São Francisco S.A. — Agrovale, localizada na cidade de Juazeiro (BA), comercializa dez variedades distintas de cana-de-açúcar. Segundo Ademário Araújo, gerente agrícola da Agrovale, a entidade pesquisou 60 mil clones de planta desde 2001.

“É a região do semi-árido brasileiro. Por isso, pesquisamos para variedades de irrigação plena, ou seja, cultivares que não dependem de chuvas”, falou Araújo.

São Paulo pode ser considerada destaque no cenário agrícola, e os resultados tecnológicos partem para outras regiões, como Bahia e Goiás. Tais áreas, e também no Oeste de São Paulo, estão em déficit hídrico e, por isso, os pesquisadores selecionam cultivares de cana eficientes e tolerantes à seca. Landell falou que, na última década, foram desenvolvidas tecnologias e estratégias para suprir essas deficiências. Tocantins, Oeste baiano, Minas Gerais e Maranhão foram auxiliados.

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