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Brasil prioriza o apoio à produção de commodities

Postura expõe economia às oscilações do comércio mundial, diz FEE


Mesmo que o apoio à produção de commodities seja favorável do ponto de vista de atração de investimentos externos e propicie o alcance de superávits comerciais, no longo prazo tende a tornar o País mais vulnerável às oscilações do comércio mundial. A afirmativa é da pesquisadora da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE-RS), Clarisse Chiappini Castilhos, que desenvolveu estudo publicado na edição de abril da Carta de Conjuntura da instituição, onde aborda o predomínio das atividades ligadas à exploração de recursos naturais na orientação dos investimentos diretos estrangeiros e dos desembolsos efetuados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (Bndes) na última década.

"Levando em conta sua diversidade industrial e ambiental, o País não pode se constranger à especialização em commodities - ou se submeter muito mais a uma orientação internacional", critica a economista, ao destacar que esta postura atende mais aos interesses externos do que à necessidade da economia brasileira, sendo liderada pela orientação dos investimentos estrangeiros diretos (IED). "Além de acelerar a destruição ambiental, esta alternativa aprofunda as desigualdades sociais", destaca Clarisse, lembrando que estas atividades consomem de forma significativa recursos como água e energia e demandam grandes extensões de terra.

A falta de controle à recuperação ambiental de áreas onde a atividade de mineração é realizada, e a má remuneração e queda da qualidade de vida das populações que ali residem são dois aspectos listados como "delicados" pela economista. Segundo ela, o País deveria diversificar mais seus negócios, tanto do ponto de vista da produção como das exportações, tralhando com manufaturados e novas tecnologias. "O Brasil recebe muitos investimentos em máquinas e equipamentos, e também exporta (um pouco) estes produtos. Porém, a maior parte dos componentes de ponta é importada", diz, sugerindo uma revisão da balança comercial das empresas multinacionais.

De acordo com o estudo, do total de desembolsos do Bndes realizados para as regiões Norte e Nordeste, 58% foram para as usinas hidrelétricas de Belo Monte, Santo Antônio, Jirau, Teles Pires e Estreito, para a transposição do rio São Francisco, para a estrada de ferro Carajás e para linhas de transmissão de energia elétrica. Segundo a economista, também há uma concentração de desembolsos do banco vinculada ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. "O Bndes busca efetuar um contraponto a esta tendência, com programas de apoio à inovação e à diversificação da economia", pondera Clarisse. Entretanto, o estudo amostra que, em 2013, a instituição centrou-se no apoio à produção de commodities, como as do setor petroquímico, da mineração e da siderurgia, no caso das indústrias de transformação e extrativa mineral.

No que se refere ao capital internacional, informações do Banco Central revelam que o grupo agricultura, pecuária e extração mineral ampliou sua participação de 7,1% para 20,02% no período de 2001 a 2013, sendo que extração de petróleo foi a que atraiu o maior fluxo de recursos externos. Por outro lado, a indústria reduziu participação de 33,3% para 20,5%, com destaque para os investimentos em metalurgia básica. Já uma expectativa do Ministério de Minas e Energia de aumentar a produção de minerais como ferro, ouro, cobre e bauxita, preocupa por questões ambientais, reforça Clarisse. Também os IED destinados ao agronegócio vêm colaborando para aumentar a taxa de desmatamento da região Centro-Oeste do País, com uma "estrangeirização" das terras.

Queda da produtividade explica taxa de desemprego

Outro destaque da edição de abril da Carta de Conjuntura da FEE foi a conclusão do estudo do processo de redução da taxa de desemprego no Brasil, que desde 2011 vinha surpreendendo economistas, por não acompanhar a desaceleração do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). A análise aponta que nos últimos três anos, a criação de vagas se manteve na casa dos 2%, provocando uma queda da produtividade na economia brasileira. "Houve contratação de pessoas, mas a produção não cresceu naquele período, o que explica porque a criação de vagas desacelerou mesmo com a retomada da produtividade nos últimos meses", explica a pesquisadora Cecília Hoff.

Segundo a especialista da FEE, se a economia continuar crescendo nos patamares atuais, "em algum momento" a criação de vagas deve começar a aumentar novamente. "Se isso acontecer ao mesmo tempo em que a população economicamente ativa (PEA) voltar a crescer (de forma um pouco mais acelerada), então a taxa de desemprego pode se manter estável", conclui a pesquisadora.
 

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