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Brasil volta a liderar importação de trigo

Serão pelo menos 15 milhões de toneladas que vão entrar no Brasil até 2007


Um dos líderes mundiais nas exportações do agronegócio, o Brasil deve voltar a ser o campeão mundial nas importações de trigo neste e no próximo ano. Serão pelo menos 15 milhões de toneladas do cereal que vão entrar pelos portos brasileiros entre 2006 e 2007. Mais uma vez, essas importações mostram como o país vive de altos e baixos na triticultura. Enquanto em 2004 o país produziu 60% do que consumiu, neste ano fica em 20%.

"O país precisa tomar uma decisão política. Tomar e assumir se quer ser produtor ou importador. Do contrário, em 2007 estaremos tendo as mesmas discussões sobre o setor." A avaliação é de Benami Bacaltchuk, pesquisador da Embrapa Trigo que, desde a década de 70, se dedica a essa cultura. Para Bacaltchuk, não é o aporte de dinheiro apenas na hora de enfrentar problemas no setor que vai desenvolver a triticultura, mas a adoção de uma política estimuladora. "Uma política com previsibilidade e consistência, na qual o produtor confie", diz ele.

Bacaltchuk vai direto ao ponto: "Ou o Brasil adota subsídios para a triticultura, ou vamos continuar financiando os subsídios dos outros". Ele afirma que é contra a proteção de mercados, mas diz que, no caso da triticultura, não há solução. O pesquisador da Embrapa justifica o quanto seria importante o país fazer uma opção pela triticultura. Para cada 27 hectares cultivados, são criados um emprego direto e dois indiretos na cadeia do setor.

Márcio Só e Silva, também da Embrapa e especialista no desenvolvimento do produto no cerrado brasileiro, diz que, dadas as condições para essa cultura, a área ocupada poderia ser de 4 milhões a 5 milhões de hectares no Brasil central. As ações a serem desenvolvidas no setor devem ter como objetivos não apenas os incentivos ao plantio, mas também medidas de mercado e de apoio ao produtor em outras regiões fora do eixo Paraná-Rio Grande do Sul, os líderes de produção.

Controlar entrada:

O mercado trata muito mal o produtor local, na avaliação de Bacaltchuk. Por isso, uma das propostas seria criar mecanismos de entrada do produto no Brasil. Não se trata de impedir as importações da Argentina, o maior fornecedor brasileiro, mas controlar o período de entrada do produto, segundo ele. Uma medida como essa permitiria a desova da produção brasileira para outros Estados, o que aliviaria os armazéns do Paraná e do Rio Grande do Sul, grandes produtores de grãos.

Uma ampliação da triticultura nacional passa, ainda, pela solução de vários gargalos estruturais, segundo Silva. Um deles é o fornecimento de sementes apropriadas para as diversas regiões com potencial de produção, principalmente para o Brasil central. A Embrapa está voltada para essa região. O cultivo do sequeiro é embrionário e depende mais da ação do governo. Silva destaca que, mesmo na área do conhecimento, são necessários avanços, principalmente no desenvolvimento de variedades mais resistentes a doenças.

Ao contrário da baixa produtividade do sequeiro -1.500 quilos por hectare na região-, o trigo irrigado tem produção média de 4.200 quilos. Nesse caso, os problemas são outros, segundo Silva. Enquanto soja e milho contam com boa logística de captação e de armazenagem na região, o mesmo não ocorre com o trigo, devido, inclusive, à falta de indústrias de moagem.

Silva acredita no desenvolvimento da triticultura fora do Rio Grande do Sul e do Paraná. As pesquisas continuam e a resposta do produtor virá quando houver variedades mais competitivas. Além das áreas tradicionais de produção, o foco da Embrapa se estendeu também para o norte de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais e sudoeste da Bahia.

Esse avanço depende também de investimentos do governo, especialmente em pesquisas. Silva diz que, com o avanço tecnológico no setor, os investimentos privados virão. Apesar do potencial de produção no Brasil, Silva não acredita em auto-suficiência, mas na abertura de uma avenida de duas mãos: exportar parte da produção para aliviar o excesso do mercado em períodos de safra, e voltar a importar nos momentos de entressafra.

A exploração de novas áreas para o trigo ampliaria a oferta e a "janela de produção", que hoje está restrita ao segundo semestre. Ela poderia ser de maio a dezembro, segundo Silva.

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