CI

Cadeia da mandioca tenta derrubar veto

Adição de fécula na farinha de trigo, vetada por Lula, pode afetar em cheio o Paraná, líder na produção desses dois alimentos


Os representantes da cadeia da mandioca se articulam para derrubar o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à adição de fécula na farinha de trigo. A crise financeira, que tende a elevar o preço do trigo por causa da alta do dólar, se transformou em argumento para o setor, pelo risco de aumento no preço do pão.

O veto de Lula, publicado dia 9, surpreendeu os “mandioqueiros”. “Tínhamos entrado em acordo com os moinhos (em maio). A adição seria só nos produtos vendidos para o governo”, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (Abam), Ivo Pierin Júnior. Estava prevista mistura de 3% no primeiro ano, 6% no segundo e 10% a partir do terceiro.

Diante do acordo entre as duas cadeias produtivas, o projeto passou sem manifestações contrárias na Câmara e no Senado. Agora, os defensores da mistura terão de conquistar os votos de pelo menos 257 deputados federais e 41 senadores (maioria simples) para derrubar o veto presidencial.

“Tínhamos certeza de que o governo ia aprovar. De repente, nós vimos essa loucura”, diz o deputado federal Moacir Micheletto (PMDB-PR), que presidiu a comissão especial que avaliou o projeto na Câmara. “Foi uma surpresa o veto, porque o projeto é do Aldo Rebelo (ex-ministro de Coordenação Política de Lula, 2004 e 2005) e foi amplamente debatido pelos produtores de mandioca e trigo”, declara o senador Flávio Arns (PT-PR), que foi relator do documento.

Micheletto e Arns afirmam que uma reunião a ser marcada nos próximos dias vai discutir uma estratégia política para inverter a situação e promulgar a lei através do próprio Congresso. A proposta de misturar fécula de mandioca no trigo, que é discutida há mais de uma década, deve ser definida depois do segundo turno das eleições municipais (dia 26), prevêem.

“Não é fácil derrubar um veto do governo, mesmo quando não há objeções na primeira votação”, avalia Arns. Para Micheletto, o principal adversário é a própria cadeia do trigo, que teria feito Lula mudar de idéia. O veto foi embasado em pareceres de três ministérios: Agricultura, Justiça e Fazenda.

Os dois principais argumentos do governo consideram que seria difícil comprovar a adição de fécula na farinha e que os moinhos teriam de criar uma linha de produção de trigo exclusiva. Ou seja, haveria risco de o governo ficar sem fornecedores. Micheletto afirma que há estrutura fiscal suficiente e que os investimentos da indústria seriam “irrelevantes”.

Indústrias como a Anaconda, por exemplo, afirmam que ficariam de fora de concorrências públicas porque o retorno das vendas ao governo não justifica os investimentos necessários à produção de farinha de trigo com derivado de mandioca.

Micheletto tem base em Assis Chateaubriand, no Oeste, uma das regiões que mais produzem trigo no Paraná, mas defende o incentivo à cadeia da mandioca. Em sua avaliação, a medida não vai prejudicar o trigo, só incentivar a agricultura familiar, responsável por 60% da produção da raiz. “Todas as regiões do Brasil produzem mandioca”, argumenta. O Paraná é considerado o terceiro maior produtor mandioca e o principal de fécula.



Preços baixos mandam cereal para armazéns

Os preços do trigo estão em queda no mercado interno e preocupam os produtores do Paraná, que vêm destinando a colheita para os armazéns. Eles recebiam mais de R$ 40 entre abril e maio pela saca de 60 quilos. Porém, do mês passado para cá, a cotação oscila entre R$ 26 e R$ 27, sem apresentar reflexo da alta do dólar por enquanto.

A alta que os “mandioqueiros” anunciam como certa se o dólar ficar acima de R$ 2 traria alívio para os triticultores do estado, maior produtor do cereal, com 55% da safra brasileira. Eles dizem que os custos chegam a R$ 28 a saca. Ou seja, quem vende nesta época de colheita, a R$ 26, sai no prejuízo. A adição de derivado de mandioca numa proporção significativa de farinha agravaria esse quadro.

A colheita avança sobre 80% do total de 1 milhão de hectares de lavouras do estado. Já terminou no Oeste e tem ritmo forte no Centro-Sul, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná. A estimativa oficial é que apenas 15% da produção – que pode chegar a 3 milhões de toneladas – teria sido comercializada.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.