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Café do Paraná fica à margem da bonança

Setor agora se articula para atender mercado que prioriza produto nobre


Baixa qualidade do produto e rentabilidade apertada desestruturaram a cafeicultura do estado, mas setor agora se articula para atender mercado que prioriza produto nobre

Enquanto o Brasil prospecta um novo e bom momento pa­­ra a cafeicultura, com produção, exportação e preços em alta, o Paraná aparenta estar desestimulado com o cultivo do produto. Nos últimos dez anos, a área plantada com o café caiu pela metade no estado, que é o quinto maior produtor nacional.

Na safra 2009/10, a área paranaense recuou cerca de 5% em relação ao ciclo anterior, passando de 85,1 mil hectares para 81,8 mil hectares. O estado colheu 2,28 milhões de sacas (60 quilos), contra 1,46 milhão do ano anterior, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Já a produção nacional atingiu a melhor marca desde 2003, com 48,1 milhões de sacas. Desse total, 32,5 milhões de sacas (67,6%) foram para o mercado externo.

Os principais entraves á cafeicultura no Paraná estão do lado de fora da porteira, começando pela falta de políticas estruturais de apoio à produção e terminando no clima, que compromete a qualidade do produto paranaense frente a um mercado internacional que tem priorizado o café nobre. “Per­­cebemos que houve uma desestruturação da cadeia do café no Para­ná. A recente saída do Café Damas­co do estado reflete isso”, analisa Claudius Augustus, assessor técnico da Federação da Agri­cul­­tura do Paraná (Faep).Com produção de um tipo menos valorizado de café, demanda pontual e custos em alta, o produtor paranaense acaba obtendo rentabilidade inferior à de outros estados brasileiros.

Levantamento da Secretaria de Agricultura do Paraná (Seab) mostra que o desembolso do cafeicultor do estado na safra 2009/10 foi de R$ 254 por saca (60 quilos), sendo que o preço recebido pelo produtor é de pouco mais de R$ 300 por saca. Já os produtores do estado que mais colhe café no Brasil, Minas Gerais, têm registrado lucratividade bem superior à do Paraná, com desembolso em cerca de R$ 200 e vendas a até R$ 400 por saca, de acordo com o analista da Safras & Mercado Gil Carlos Barabach.

O maior gasto do produtor paranaense tem sido com mão-de-obra, que está cada vez mais escassa e representa cerca de 60% dos custos. A melhor alternativa é incentivar a mecanização na cafeicultura, conta o assessor técnico da Faep. Diante de um cenário crítico, a entidade elaborou um plano de revitalização da cafeicultura paranaense que deve ser entregue aos ministérios da Fazenda, Planeja­mento e Agricultura nos primeiros meses deste ano. Com base em estudos de campo, o documento reúne uma série de análises e solicita investimentos em mecanismos de comercialização, políticas de crédito, capacitação e tributos diferenciados para os produtores.

Para Barabach, a colheita seletiva de café poderia abrir novas oportunidades ao Paraná. Ele compara a situação local com a da Zona da Mata mineira, que oferece um produto diferenciado: o café despolpado. Além disso, o analista afirma que o governo deve priorizar a mudança da maneira habitual de trabalho do produtor paranaense e focar na busca por qualidade. “É preciso dar suporte para que o cafeicultor consiga aproveitar as oportunidades naturais do mercado. Garantir preço mínimo e rolar dívida somente não tem gerado efeitos práticos”, comenta.

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