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Café solúvel brasileiro vai para a China


O Brasil, maior exportador mundial de café solúvel, inicia ainda este ano exportações do produto para a China. "Nossa estratégia tem sido ingressar em mercados com hábito de consumo de chá já consolidado. Como o preparo é o mesmo, a penetração do solúvel é facilitada", diz Mauro Malta, diretor-executivo da Associação Brasileira da Industria de Café Solúvel (Abics), entidade que representa um setor que movimenta US$ 200 milhões por ano.

Os volumes inicialmente exportados para a China eram "irrisórios". "Plantamos a semente. Mas, com o potencial do mercado chinês poderemos, no futuro, dobrar as exportações brasileiras", diz Malta. Hoje, o Brasil exporta 60 mil toneladas de solúvel.

A indústria de solúvel espera que na China se repita o mesmo movimento de consumo ocorrido com o Japão, onde o consumo de café superou o de chá.

A China é a mais recente conquista dentro do programa da indústria de expandir as exportações. Para isso, o setor investe US$ 10 milhões em ações de marketing no exterior. Foi assim que conseguiu conquistar mercados como o da Rússia e demais países do Leste Europeu - onde o consumo do solúvel supera o de café torrado e moído -, hoje seus principais compradores.

Lucratividade maior

"O solúvel é extremamente importante para a indústria porque a margem de lucratividade é maior. Hoje, 80% da produção de solúvel é exportada", diz Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).

Enquanto o café verde rende, em média, US$ 1 mil a tonelada na exportação, o solúvel convencional é cotado a US$ 4,1 mil e o liofilizado, a US$ 8,1 mil a tonelada. O solúvel liofilizado é um ilustre desconhecido dos brasileiros porque praticamente 100% de sua produção é exportada. "Como ele custa praticamente o dobro do convencional, a aceitação dele ainda é pequena no Brasil", diz Athos Mantovani, diretor da Companhia Mogi de Café. A diferença entre o liofilizado e o convencional está no processo de secagem. O primeiro é seco a baixas temperaturas, de até 40 graus Celsius abaixo de zero. O segundo, a temperaturas elevadas, é seco por evaporação. "A baixas temperaturas, o café preserva mais o sabor", diz Mantovani.

Retorno do investimento

A demanda pelo solúvel surpreendeu a Companhia Cacique de Café Solúvel, que há três anos investiu US$ 30 milhões na construção de uma fábrica. "Trabalhamos com 100% da capacidade instalada na produção do solúvel liofilizado. Atingimos a meta dois anos antes do esperado", diz Luiz Carlos Alixandre, gerente comercial da empresa, que faturou, no ano passado, R$ 252 milhões. Cerca de 98% de toda sua produção é exportada.

Praticamente 100% da produção de solúvel da Companhia Mogi também é destinada ao mercado externo. Com o intuito de agregar valor ao seu produto, a empresa desenvolveu um programa em que embarca o café pronto para ser colocado na prateleira. "Desenvolvemos o blend do café e a embalagem. Tudo para facilitar a vida do comprador", diz Mantovani. As vendas são feitas para pequenas torrefadoras que já vendem o café torrado e moído, mas que não tem um solúvel para complementar a linha. "Uma fábrica de solúvel custa muito caro, cerca de US$ 40 milhões. Por isso, para pequenas torrefadoras, compensa importar de indústrias como a nossa", afirma. Por meio do programa, que começou no final de 2002, a Companhia Mogi já exporta para Suíça, Canadá, Itália e Japão. Ela espera que, dentro de cinco anos, o programa responda por 50% do faturamento do grupo, que é projetado em US$ 120 milhões neste ano.

Com grande rentabilidade para a indústria, o solúvel começou a ser produzido na década de 1960, numa tentativa de dar destino a uma grande quantidade de café quebrado existente no mercado. "A idéia da indústria foi agregar valor ao café quebrado, que tinha um aspecto ruim, mas boa qualidade. E a coisa deu certo", lembra Malta.

A indústria brasileira de café solúvel é composta por apenas dez empresas, que consomem anualmente entre 3 milhões e 3,2 milhões de sacas de café, volume quase integralmente destinado ao mercado externo. O consumo interno representa entre 500 mil e 700 mil sacas. Outras 2,5 milhões são destinadas às vendas externas. "O potencial da indústria é de 3 milhões de sacas por ano", diz.

Para alcançar este volume, entretanto, Malta acredita que é necessário investir mais em campanhas no mercado externo. O resultado tem sido compensador: as vendas de produtos embalados e comercializados com a marca brasileira respondem por 44% das exportações totais. "Já são 20 marcas comercializadas no mercado externo", diz Malta.

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