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Câmbio oferece maior suporte a preços agrícolas


Após encerrarem janeiro em baixa no mercado doméstico, basicamente em virtude da demanda interna retraída e do início da colheita de grãos desta safra 2003/04, os preços agrícolas médios no campo e no atacado terão o câmbio como um de seus principais balizadores em fevereiro, segundo especialistas ouvidos pelo Valor. Em razão do progresso da colheita, a tendência sazonal indica nova queda média no acumulado do mês, mas a desvalorização do real em relação ao dólar americano surge como fator de sustentação para culturas de exportação como soja, café, açúcar, algodão e carnes.

Em janeiro, no campo, o índice de preços recebidos (IPR) pelos produtores paulistas, pesquisado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) - vinculado à Secretaria de Agricultura do Estado - confirmou as expectativas e registrou variação negativa acumulada de 1,99%. Foi a primeira variação negativa mensal desde julho do ano passado, e na comparação com o fechamento de dezembro houve perda de 3,09 pontos percentuais. O resultado foi determinado pela desvalorização média do grupo de produtos de origem animal, que chegou a 4,2%. Entre os vegetais, a queda ponderada foi de 0,76%.

"Com a recente reação do câmbio, acredito que haverá variação negativa do indicador em fevereiro, mas menor que a de janeiro", afirmou Nelson Batista Martin, diretor do IEA. De acordo com ele, portanto, a pressão baixista da combinação entre mercado interno fraco e avanço da colheita de grãos vencerá, ainda que com "mortos e feridos", a queda-de-braço com o câmbio. Outro fator importante é que se aproxima o pico da safra do boi gordo, o que normalmente pressiona as cotações pagas aos pecuaristas.

No atacado, a tendência é semelhante, segundo opinião de Fabio Silveira, da MSConsult. Ele prevê baixa nos preços do arroz, do feijão e do milho por conta da colheita, devolução de ganhos do tomate em função da regularização da oferta e continuidade da erosão das cotações do leite, que também refletem a crise financeira da multinacional Parmalat. Nos casos de soja e açúcar, Silveira observa que seus preços começaram fevereiro em um patamar inferior ao do início de janeiro, mas o estímulo cambial às exportações vai pesar. Ainda assim, desvalorizações não surpreenderão o analista. Na semana de 22 a 29 de janeiro, o índice da MSConsult para os preços agrícolas no atacado paulista registrou variação negativa de 0,8%.

"Não é dos preços agrícolas que vem a preocupação em relação à elevação dos preços ao consumidor em fevereiro", afirmou Paulo Picchetti, coordenador da pesquisa do IPC da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Conforme ele, entre os preços agrícolas há mais variações negativas do que positivas e, na média, a pressão deve se diluir. Mesmo arroz e tomate, cujos preços subiram muito no varejo de dezembro para cá, já há sinais de queda. "Mas os produtos industrializados em geral, inclusive os alimentos, preocupam, em razão do efeito do reajuste da Cofins [Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social] ", ressalvou Picchetti a este jornal.

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