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Cana valoriza terra em 15% em Goiás

Áreas arrendadas próximas a usinas custam até três vezes


A explosão no interesse pelo álcool em Goiás tem provocado uma valorização geral do que se relaciona ao setor sucroalcooleiro. Dois exemplos são as terras e os equipamentos usados na produção. Não existem números oficiais, mas segundo produtores e sindicatos, em um ano o hectare já está valendo a mais 15%, em média. Em Rio Verde, por exemplo, o hectare, que valia R$ 5 mil em 2006, hoje custa cerca de R$ 6 mil. A terra arrendada para o cultivo da cana também dá sinais de supervalorização em comparação a outras culturas. Segundo o analista de mercado da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Pedro Arantes, o valor da terra arrendada para cana em áreas próximas a usinas de álcool chega a valer três vezes mais do que para o cultivo de soja. “Se for distante 20, 30 quilômetros o valor é 50% maior”, completa.

Além da terra, a expansão sucroalcooleira valoriza o comércio de máquinas pesadas para o cultivo da cana. Segundo informações de representantes do setor em Goiás, da safra 2004/2005 para a 2006/2007, houve um acréscimo de 25% nas vendas destes equipamentos para o setor sucroalcooleiro. A expectativa é de que para a safra 2007/2008 o aumento será de 40% a 50%.

As terras também vêm mudando de mãos. De acordo com o Sindicato Rural de Santa Helena, na região sudoeste do Estado, uma das áreas para onde avançam os canaviais, 70% da área que antes era destinada a soja, milho e pecuária, hoje serve para o cultivo da cana-de-açúcar. Em Jataí, segundo o Sindicato Rural, a valorização das terras próximas a usinas de álcool chega a 50%.

De acordo com o IBGE, a área destinada à pecuária no Brasil é de 225 milhões de hectares, que produz entre 180 milhões e 207,5 milhões de cabeças bovinas. Os números são projeções realizadas sobre estatísticas do ano 2000. Por outro lado, segundo o próprio IBGE, a área de cana-de-açúcar foi registrada em 6,161 milhões de hectares em 2006, aferindo crescimento de 6,4% sobre 2005, quando foram cultivadas 5,791 milhões de hectares. A projeção para 2007 é de crescimento de 5% sobre a área do ano passado.

Soja – O analista de mercado da Faeg lembra que a cana-de-açúcar está longe de ser a principal cultura do Estado, o grão ainda tem maior relevância na agricultura local. Segundo Pedro, a área de soja plantada/ano em Goiás é de 2 milhões de hectares e de cana 200 mil hectares, apenas 10% se comparadas. A expectativa é de que em quatro anos a área plantada de cana aumente em três vezes, chegando a 600 mil hectares. “Isso se levarmos em conta não só a instalação das 10 usinas em andamento, mas pelas 40 outras usinas que foram aprovadas”, afirma Pedro.

Para o deputado federal Roberto Balestra, da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, que também é produtor de cana-de-açúcar, a valorização da terra para o cultivo da cultura tem a ver com o preço em que o produto é vendido para as usinas. Ele ressalta que a qualidade da terra, a distância da plantação da usina de álcool e a presença de água são os três fatores que mais influenciam no preço da cana e conseqüentemente da terra onde ela é plantada. “Quando o preço da cana sobe, a terra valoriza junto”, diz.

O Estado de São Paulo vive uma situação única em relação ao cultivo de cana-de-açúcar no País. Lá, onde está concentrados 62% da produção brasileira, a cana inflacionou o valor das terras, principalmente as próximas a usinas. A pressão da cana eleva até mesmo o custo de produção de outros setores, como o de grãos e até da pecuária. Os dois últimos passaram a disputar as terras com o setor sucroalcooleiro.

Segundo dados do Instituto FNP, em algumas áreas de São Paulo as terras apropriadas para o plantio de cana-de-açúcar custam hoje duas vezes o valor que custavam em 2002. Em algumas regiões paulistas, a terra para cana já atinge R$ 21 mil por hectare.

Em São Paulo, conforme dados do FNP, as terras para grãos subiram 244% do início de 2002 a agosto de 2004 em Presidente Prudente (SP), por exemplo. Mas, com a queda das commodities, recuaram 29% daquela época até fevereiro. Já a área de pastagem, que havia perdido espaço para a soja até 2004, agora perde para a cana. A valorização nos últimos cinco anos foi de 66%.

Investimento – O incremento na produção da cana é favorecido pelos altos preços das commodities de açúcar e álcool no mercado internacional, combinado com a crescente produção de automóveis bicombustíveis, o que favorece a demanda do mercado interno e, num futuro próximo, o externo. Segundo a assessoria de imprensa da Cepea/Esalq, tem crescido o número de investidores internacionais que procuram informações sobre os indicadores de venda do álcool no Brasil, principalmente da Índia.

A forte demanda mundial pelo álcool está trazendo o capital estrangeiro, que hoje detém o controle de 18 usinas, com capacidade de moagem de 28 milhões de toneladas por safra. Esse volume representa 6,3% do total do País, conforme dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). Além do capital estrangeiro, o setor atrai também grupos nacionais.

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