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Ceará em destaque na exportação de frutas

Enquanto alguns perímetros padecem em meio a problemas, outros prosperam e engordam as exportações do Ceará


A participação do Ceará no ranking de exportações de frutas, no Brasil, passou de 12,2%, em 2007, para 18,1%, no ano passado. No contexto das exportações estaduais, a fatia correspondente à fruticultura aumentou de 6,7%, em 2007, para 10,3%, em 2008, fazendo com que o setor alcançasse o quarto lugar na pauta de exportações cearenses e superando os produtos têxteis. No total, as vendas de frutas produzidas no Ceará e destinadas ao comércio exterior, somaram US$ 131,6 milhões. À frente do Ceará, entre os Estados exportadores de frutas, aparecem apenas a Bahia e Pernambuco, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

É verdade que a safra deste ano não será tão robusta por conta do excesso de chuvas — no perímetro Jaguaribe-Apodi, empresas ameaçaram recuar nos investimentos e até demitir, alegando ainda os altos custos com energia elétrica. É inegável, contudo, que os números representam um marco para a economia cearense. E grande parte do mérito é dos perímetros irrigados. Longe da realidade em que armazéns são ocupados por famílias ao invés de abrigar a produção e que lotes são irrigados por alagamento, estes perímetros utilizam tecnologia israelense para medir a umidade do solo e irrigar somente o necessário. O Tabuleiro de Russas e o Jaguaribe-Apodi, se somados, respondem por 25% das exportações de frutas do Ceará.

De acordo com o coordenador de Planejamento do Dnocs, José Alberto de Almeida, a explicação para o avanço destes perímetros está no modelo em que foram concebidos. “Os mais antigos foram entregues a quem precisava e não a quem tinha condições de produzir”.

Uma das maiores empresas que atuam nos perímetros cearenses é a Frutacor, do empresário João Teixeira Júnior, conhecido como o Rei dos Perímetros. Só no Tabuleiro de Russas, são 93 hectares de mamão, 63 de banana e 98 de laranja e limão, sem contar os lotes de produtores parceiros, cuja produção é absorvida pela empresa. De acordo com o administrador da Frutacor no Tabuleiro, João Pereira, o segredo é buscar novas formas de negócio, onde a produtividade seja máxima e as perdas perto de zero. “Não dá mais para brincar de ser agricultor”, afirma. “Quando nos associamos a pequenos produtores praticamente dizemos para esquecerem tudo o que sabem”.

No perímetro Jaguaribe-Apodi, são 8.000 hectares irrigados, sendo que outros 2.500 aguardam liberação de licitação por parte do Governo Federal para começarem a funcionar. “Não produzimos mais porque não tem onde. A pressão dos produtores para início desta segunda etapa é grande”, revela Raimundo César dos Santos, o Alemão, coordenador do Conselho de Administração do perímetro. Ali, só a multinacional Delmonte conta com mais de 1.300 funcionários. “O potencial daqui ainda não está sendo totalmente explorado”.

Mesmo nos perímetros que prosperaram os problemas existem. O maior deles diz respeito à falta de verbas e de assistência técnica. “Os perímetros ainda não se emanciparam, mas o Dnocs age como se já tivessem”, avalia o gerente de Operação e Manutenção do Tabuleiro de Russas, Vandemberck Rocha.

Ele conta que o convênio para repasse de verbas firmado com o Dnocs é de 2007 e não atende mais às demandas do perímetro, cujas despesas de manutenção giram em torno de R$ 1,5 milhão por ano. “Os investimentos aqui foram de R$ 200 milhões. Tudo corre o risco de entrar em colapso se o contrato não for renovado”, ressalta Sildemberny Souza, coordenador do Conselho Administrativo do perímetro.

Cobrança

Iniciada pela Cogerh em 2003 - e suspensa dois anos depois -, a cobrança pela água nos perímetros irrigados ainda é um dos maiores desafios quando se fala em gestão de recursos hídricos no Estado, para setor industrial e saneamento. “Há uma resistência muito grande por parte dos irrigantes em pagar pela água”, diz o gerente regional da Companhia, em Sobral, Vicente Lopes. Para ele, o fato se deve à falta de consciência sobre o valor da água.

No Araras Norte, é cobrada uma taxa cujo cálculo é feito a partir de uma média entre os metros cúbicos consumidos e os quilowatts utilizados para levar esta água do canal até os lotes (R$ 0,19/metro cúbico). A medição é feita através de hidrômetros individuais e de dados fornecidos pela Coelce. É o chamado KII. Além deste valor, os irrigantes pagam uma taxa de R$ 70, conhecida como K1, por caixa - sistema por onde a água chega - existente no lote. São 79 produtores distribuídos em 99 lotes.

De acordo com o presidente do Conselho Administrativo do perímetro Araras Norte, José Ramalho Crispim, desde quando o Dnocs iniciou o processo de emancipação e suspendeu a destinação de verbas para o perímetro, foi preciso encontrar formas de garantir as receitas suficientes para manter o negócio. “Nenhum perímetro tem condições de se emancipar”.

O diretor-geral do Dnocs, Elias Fernandes, discorda. Apesar de reconhecer o problema da insconstância do repasse de verbas por parte do governo, ele afirma que está na hora de alguns perímetros caminharem com as próprias pernas. “Há problemas no repasse, mas também há muita incompetência em alguns casos”, resume. “Se o perímetro evolui a ponto de exportar, é hora de iniciar a redução gradativa dos repasses e não de ampliá-los”.

PROTAGONISTAS

Canais dos perímetros permeiam histórias de vida

Fabiano Tizolin Lopes, produtor

O produtor Fabiano Tizolin nasceu em São Paulo, mas suas raízes estão no Ceará. O pai deixou Itapajé e a seca para trás e foi tentar a vida em São Paulo. Entre idas e vindas, conheceu o perímetro Araras Norte e decidiu ficar de vez. A família vendeu tudo o que tinha conquistado no ´Sul Maravilha´ e investiu num lote de sete hectares no perímetro Araras Norte. Hoje, três anos após a morte do pai, Fabiano é dono de três lotes e arrenda mais meio, onde produz 288 toneladas de banana por ano

Socorro Medeiros, irrigante

Aos 57 anos, Maria do Socorro de Araújo Medeiros acaba de deixar a vice-presidência da Cooperativa dos Irrigantes do Várzea do Boi, em Tauá. Depois de passar oito anos cuidando do marido doente, ficou viúva. Hoje, trabalha com um dos filhos e dá graças a Deus por nunca ter necessitado pagar aluguel. ´Cheguei aqui em 1975 com um filho nos braços e outro na barriga´, conta, destacando que hoje planta capim e cria dez cabeças de gado e ainda produz queijo

Antônio de Souza, vendedor

´Minha mãe chorou quando eu disse que vinha pra cá. Mas não me arrependo. Aqui tive oportunidade sem precisar ir para São Paulo´, afirma Antônio Pereira de Sousa, de 74 anos, cuja atividade principal é o plantio de coco. Ele chega a vender entre 300 e 400 unidades a cada fim de semana, a R$ 0,50 cada e, com isso, conquistou um patrimônio do qual tem orgulho e não hesita em listar: ´Não dá pra me queixar. Tenho carro e cada filho meu tem uma moto pra andar´

Francisco Venâncio, encarregado

Onde Francisco Messias Venâncio mora, na localidade de Lagoa da Escondida, em Tabuleiro do Norte, não tem água encanada. As 12 famílias que vivem ali dependem de cisternas abastecidas pela chuva e por carros-pipa. ´Para plantar é que não tem, mas está bom demais´, diz. Venâncio é o encarregado pela produção de compostagem num dos lotes do Tabuleiro de Russas. ´Antes do perímetro, a vida era muito difícil. Não sou dono de nada aqui, mas tenho um emprego´

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