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Chega a Holanda primeiro lote de soja responsável brasileira

Venda de 85 mil toneladas foi concretizada nesta semana


O grupo brasileiro André Maggi concretizou nesta quarta-feira, em Roterdã, a venda de 85 mil toneladas de soja certificada como responsável para empresas holandesas. Entre as compradoras está o grupo Ahold e a Associação Holandesa da Indústria de Alimentação de Animais (Nevedi), que representa os maiores processadores de carne no país.


Empresas, ONGs e governo holandês participaram do encontro em que foi entregue simbolicamente o certificado da produção do grão conforme os critérios da Associação Internacional de Soja Responsável (RTRS). Na ocasião, a multinacional anglo-holandesa Unilever também anunciou a compra de 5 mil toneladas de soja responsável no Brasil para o consumo no mercado brasileiro.

"Entramos numa nova fase. Os produtores podem produzir, certificar e, talvez o mais importante, o mercado pode comprar soja responsável, virou realidade", comemora Jan Gilhuis, da Iniciativa Holandesa de Comércio Sustentável.

Tais acordos são celebrados como históricos. Foram necessários seis anos de discussão entre ONGs, empresas e produtores para se chegar a um consenso sobre os critérios de certificação da da soja responsável. “Para um produtor receber a certificação é necessário que cumpra mais de 90 critérios baseados nas boas práticas agrícolas, responsabilidade ambiental e social, com os trabalhadores e comunidade, além do cumprimento da lei", explica Gilhuis.

Críticas
No entanto, organizações ambientais são críticas à iniciativa. É o caso da Amigos da Terra Internacional. De acordo com o diretor da Amigos da Terra na Holanda, Hans Berkhuizen, “as condições atendem muito mais às demandas das indústrias do que a da sociedade, de maneira que não dá para chamar de produção dessa soja de responsável. Não acreditamos que esse tipo de certificação irá contribuir para o fim do desmatamento.”

Para a Amigos da Terra Internacional, a solução para os problemas ambientais não está na produção da soja, mas na regionalização da agricultura. “Deixa que os agricultores nos países do Sul se responsabilizem pela produção de alimentos para Sul e que os países do Norte produzam a própria ração animal e não dependam da soja do Sul. Dessa forma não é necessário aumentar o fluxo de transportes, nem pressionar uma das mais importantes áreas do mundo, que são as florestas”.

Segundo o diretor da Amigos da Terra na Holanda, já existe por parte dos consumidores e algumas grandes empresas nos países ricos a consciência de que a produção de grãos em larga escala é prejudicial ao meio ambiente. Hans Berkhuizen afirma que iniciativas como a RTRS não são suficientes por não atender as demandas da sociedade.


Jan Gilhuis, da Iniciativa Holandesa de Comércio Sustentável, afirma que as críticas vem dos dois lados: "Também há muitos produtores que dizem ser muito difícil cumprir todos os critérios para conseguir a certificação". Gilhuis concorda em partes com a Amigos da Terra: "A certificação RTRS não é perfeita, mas é preciso ser prático e viável para o produtor. O produtor deve ver uma vantagem e ter um incentivo claro para fazer isso. Não adianta idealizar se não funciona".

Oferta x Procura
Estima-se que a RTRS certifique mais produtores de soja para que até o final desse ano seja possível entregar 500 mil toneladas do grão. Muito pouco, se comparado com as 9 milhões de toneladas de soja que anualmente entram pelo porto de Roterdã. "A verdade é que nesse momento o mercado está pedindo mais soja responsável do que os produtores estão conseguindo providenciar," afirma Gilhuis.

De acordo com ele, empresas na Inglaterra, Dinamarca, Suécia e Bélgica já demonstraram interesse. De qualquer forma, Gilhuis acredita que o primeiro passo foi dado para a produção da soja responsável: “O interessante é que agora é possível fazer a coisa acontecer, tanto do lado do produtor, quanto do lado do mercado.”

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