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Chuva dizima áreas de frutas no Vale do São Francisco


As fortes chuvas que inundaram o Vale do São Francisco nos últimos dias e que levou dezenas de municípios em Pernambuco e na Bahia a declararem estado de emergência, já deixaram pelo menos seis mortos, dezenas de feridos e milhares de desabrigados nos dois Estados, dizimou áreas inteiras de produção de frutas da região, principalmente manga, goiaba, uva, banana e coco, informou ontem ao Valor Miguel Ãngelo Chaw, engenheiro da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) que coordena o grupo de trabalho criado para enfrentar a catástrofe.

Segundo ele, ainda é difícil calcular as perdas causadas pelas fortes chuvas, até porque muitos municípios atingidos ainda não tiveram condições de repassar ao grupo de trabalho as informações necessárias para tal. De qualquer forma, Chaw constata que "a situação é grave". "A agricultura irrigada foi atingida no coração pelas enchentes". O Vale do São Francisco tem sido fundamental, nos últimos anos, para o aumento das exportações brasileiras de frutas frescas, que em 2003 alcançaram US$ 335,3 milhões e garantiram um superávit comercial no segmento de cerca de US$ 270 milhões. A manga, ponto forte do vale, liderou os embarques nacionais de frutas frescas no ano passado, com embarques totais de US$ 73,4 milhões.

Ainda no Nordeste, os canaviais de Alagoas e Pernambuco tiveram de suspender a colheita por conta das águas, de acordo com Cariolando Oliveira, coordenador técnico do Sindicato das Indústrias de Açúcar e Álcool de Alagoas (Sindaçúcar).

Muito menos grave que no Nordeste, mas ainda assim complicada, é a situação de abastecimento de hortifrutícolas em São Paulo, também em virtude das chuvas dos últimos dias. A produção foi afetada em diversas regiões em um raio de 100 quilômetros de São Paulo, e as entregas ao Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) já caíram entre 20% e 30%, segundo Nelson Martin, diretor do Instituto de Economia Agrícola (IEA) - vinculado à Secretaria de Agricultura do Estado -, o que deve elevar preços de produtos como folhas e tomate por alguns dias. Para as grandes culturas do Estado (café, cana e laranja), as chuvas agora são uma "benção", segundo Martin.

"Faltou chuva na fase de floração do café, entre setembro e novembro, mas neste momento as chuvas beneficiam a maturação do grão", diz Francisco Miranda Figueiredo, presidente da Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas, de Minas. As previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmetro) e da Climatempo indicam que as regiões do norte e centro do Estado de São Paulo, Minas, Rio de Janeiro e Sul do Espírito Santo terão mais chuvas nos próximos dias.

Segundo Leandro Della Vedova, da Climatempo, as chuvas nas regiões do sul e leste do Mato Grosso também prejudicaram as lavouras de soja. Segundo Benedito de Oliveira, analista da Agência Rural, neste caso, como a colheita de soja está começando no Mato Grosso, é cedo para estimar perdas, ainda que a produtividade já esteja comprometida em algumas áreas.

No Sul, a situação é inversa. A persistência de uma estiagem severa no oeste e centro-oeste do Paraná já levou o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura a estimar preliminarmente uma quebra inicial de 250 mil a 300 mil toneladas na safra de soja que começou a se colhida nesta semana. As duas regiões respondem por quase 40% da área e da produção locais da cultura e alguns municípios importantes, como Campo Mourão estão há mais de um mês sem chuva. "A cada dia sem chuva a situação fica pior", afirma a engenheira agrônoma do Deral, Vera da Rocha Zardo.

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