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Chuva favorece ferrugem da soja no Mato Grosso


Plantas "voluntárias", que brotam a partir de grãos perdidos na colheita, são refúgios do fungo.

A doença fúngica (originada por um fungo) de origem asiática conhecida como ferrugem é um dos principais riscos à safra de soja brasileira. Em 2002 o prejuízo causado pela ferrugem foi estimado em quase US$ 20 milhões. O primeiro registro do mal em 2003 foi reportado no fim de janeiro pela Embrapa Soja, e ocorreu em Itapeva, sul do Estado.

O foco não atinge lavoura comercial, mas um campo de testes de germinação abandonado pelo produtor. "O abandono da área favoreceu o surgimento da doença. Em suas plantações comerciais, o produtor faz o tratamento com fungicidas, além de utilizar sementes semi-resistentes", diz a agrônoma e fitopatologista Cláudia Godoy, pesquisadora da Embrapa.

Áreas abandonadas e plantas "voluntárias", que brotam a partir de grãos perdidos na colheita, são justamente os refúgios do fungo na entressafra, que permitem sua sobrevivência até a safra seguinte. Segundo Cláudia, a região de Itapeva não é propícia à ferrugem, com clima caracterizado por calor e ar seco.

Mas a série de frentes frias que atingiram o Sudeste e Centro-Oeste elevaram a umidade do ar e favoreceram a ferrugem. "Produtores de Itapeva disseram que havia orvalho sobre as plantas até as 10 horas, um período muito prolongado e altamente favorável ao fungo", diz. O clima mais chuvoso neste verão agrava o risco da ferrugem.

A Embrapa também observou focos da doença no Paraguai, em dezembro, mas o clima quente e seco no país vizinho impediu a evolução da moléstia. No ano passado, os primeiros registros em lavouras brasileiras também ocorreram em janeiro.

O fungo Phakopsora pachyrhizi só sobrevive na planta de soja e é disseminado pelo vento, tendo sido registrado primeiro na Ásia, de onde a soja é originária, depois na África do Sul e então no Brasil. No verão de 2002, a ferrugem infectou 400 mil hectares de lavouras em variados graus, abrangendo as Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. "As lavouras do Norte e Nordeste estão aparentemente livres do risco de ferrugem, em razão do calor", explica Cláudia.

A Embrapa calculou a perda média de produtividade nas áreas afetadas no ano passado em 10%, mas houve registro de perda de 70% em áreas de Chapadão do Céu (GO) e de 50% em Cruzaltina (RS). A perda foi estimada em 108 mil toneladas, com prejuízo de US$ 19,4 milhões. O cálculo foi feito pelo especialista em Economia Rural da Embrapa Soja, Antônio Carlos Roessing, com base na produtividade média brasileira de 2.700 quilos por hectare e no preço médio de US$ 180 por tonelada no período de safra do ano passado.

De acordo com os especialistas, é impossível prever a que dimensões o problema pode chegar este ano. "Acabamos de registrar o primeiro foco, e muitos produtores estão alertas, adotando ações preventivas como aplicar fungicidas mesmo antes do surgimento da doença", explica Cláudia.

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