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Chuvas contribuíram para alívio do estresse hídrico da cana

Sob a ótica climática, o déficit hídrico observado nas principais áreas canavieiras do  Centro-Sul persistiu


Foto: Marcel Oliveira

Com o fim da safra 2020/21 (abr-mar) no cinturão canavieiro e a iminência da temporada 2021/22, que deve ganhar ritmo a partir de meados de abril, a StoneX do Brasil revisou as estimativas para o ciclo canavieiro do Centro-Sul. Desde a última publicação, em janeiro/21, as condições climáticas permaneceram sendo o fator chave para a produtividade dos canaviais, ao mesmo tempo em que a diminuição do prêmio do açúcar em relação ao etanol atraiu os holofotes do mercado.

Dessa forma, detalharemos a seguir nossas perspectivas para o processamento da matériaprima e obtenção de açúcar e etanol, mostrando como a primeira commodity deve continuar a assumir posição de destaque no mix produtivo das usinas do Centro-Sul. Iniciando as discussões com a área destinada à cana na região, aumentamos em 0,3% nossa expectativa de crescimento da extensão plantada com a matéria-prima – na última publicação, esperávamos que a área se mantivesse estável frente à 2020/21.

Essa modificação reflete os indicativos de que, em meio à remuneração atrativa dos subprodutos da cana-de-açúcar, parte das usinas optaram por ampliar suas áreas de expansão. Esta conjuntura também implicou em maiores investimentos na reforma dos canaviais, o que poderia contribuir em maiores níveis de produtividade.

No entanto, sob a ótica climática, o déficit hídrico observado nas principais áreas canavieiras do  Centro-Sul persistiu. No acumulado entre fevereiro/21 e as quatro primeiras semanas de março, as chuvas sobre a região totalizaram 200,2 mm, apresentando retração anual de 16,7%, além de se posicionar 41,7% abaixo da média de longo prazo. Apesar disso, o início da temporada chuvosa contribuiu para relativo alívio do estresse hídrico dos canaviais. Especificamente, dados do Sistema de Monitoramento Agrometeorológico (Agritempo) mostraram que a disponibilidade de água nos solos do Centro-Sul se recuperou, alcançando patamares entre 60 e 80 mm na última semana.

Essa perspectiva também é corroborada pelo Índice de Saúde Vegetal (ISV), indicador que pondera os efeitos da temperatura e umidade sobre a saúde da vegetação, variando de 0 (estresse extremo) a 100 (saúde plena). Desde outubro do ano passado, o indicador se elevou, mas traçou tendência de queda a partir do início de fevereiro, em meio às chuvas menos intensas. Na média da 1ª quinzena de março, por exemplo, o ISV se posicionou em 45,3 pontos, patamar equivalente à média dos últimos 10 anos.

Mesmo assim, é importante considerar que as chuvas ao longo da temporada chuvosa (out-mar) no Centro-Sul registraram queda de 25,1% frente à normalidade, totalizando 767,4 mm, o que deve pesar sobre a produtividade dos canaviais que serão colhidos a partir de abril. Por isso, diminuímos nossas expectativas de moagem na região em relação à publicação anterior, em 0,7%,  para 586,1 milhões de toneladas – volume que também representa retração de 3,3% ante ao estimado para 2020/21.

No que diz respeito ao ATR médio dos canaviais, mantivemos inalterada nossa projeção frente à divulgação anterior, em 139,7 kg/t – dado que tal patamar se mostra 3,5% inferior no comparativo safra-a-safra e, portanto, ainda representa as expectativas do mercado. Considerando as projeções de ATR médio e moagem, o ATR total estimado para a temporada 2021/22 ficou em 81,9 milhões de toneladas. Comparativamente, essa quantidade representa diminuição de cerca de 600 mil toneladas em relação à publicação anterior e de 6,6% ante ao esperado para o ciclo 2020/21.

Mais uma vez, o mix produtivo se coloca sob os holofotes na 2ª revisão para a safra de 2021/22. Ainda que os preços do açúcar continuem sustentados no mercado internacional, as cotações do demerara passaram a se desvalorizar nas últimas semanas, após romperem máximas ao final de fevereiro. Nesse sentido, o maio/21 do #11 acumulou queda de 0,7% entre o início de fevereiro e a última sexta-feira (26). Em paralelo, o etanol PVU, com base em Ribeirão Preto/SP, se sustentou de maneira significativa
a partir de meados de fevereiro, encurtando o prêmio do açúcar em relação ao biocombustível. 

Essa movimentação respondeu à valorização de 40,0% nos preços da gasolina A desde o início do ano, em meio à alta do petróleo Brent e do dólar comercial. Aliado a isso, o consumo do biocombustível se recuperou de forma mais consistente em meados de janeiro, passando a apresentar crescimento anual desde então – dinâmica, contudo, que foi colocada em xeque recentemente pelo avanço da pandemia do novo coronavírus, o que levou a firme queda nas cotações do biocombustível.

De modo geral, a diminuição do prêmio do açúcar frente ao etanol levantou dúvidas a respeito da tendência de maximização do mix açucareiro pelo cinturão canavieiro na próxima safra. No entanto, apesar da alta recente do biocombustível, a produção de açúcar tende a se manter mais atrativa, ao menos na 1ª metade da próxima temporada. Em primeiro lugar, essa perspectiva é corroborada pelos custos associados à mudança de mix, bem como pela contínua depreciação do real frente ao dólar, dinâmica que levou os preços do #11 quando convertidos à moeda nacional a romperem novos recordes nas últimas semanas, consolidando-se em valores próximos a R$ 2.000/t. Aqui, é importante lembrar que cerca de 70% da produção esperada para a próxima safra já está fixada, sendo que o preço médio de fixações alcançou em torno de R$ 1.520/t – patamar que se posiciona abaixo do atualmente praticado no mercado internacional e que, portanto, coloca-se como um entrave adicional à mudança de mix.

Para além disso, espera-se que os preços do açúcar continuem sustentados nos próximos meses, considerando a menor oferta por importantes players globais, como Tailândia e União Europeia, bem como as dificuldades logísticas enfrentadas pela Índia para exportar a commodity – tal como comentado em nossas estimativas para o Saldo Global de açúcar em 2020/21 (out-set). Dessa forma, parece provável que o produto brasileiro continue assumindo papel de destaque no suprimento da demanda internacional, o que tende a contribuir para o estímulo a sua produção.

Em paralelo, é importante considerar que a 2ª onda da COVID-19 no Brasil impôs a retomada de medidas de isolamento social, com consequente queda da mobilidade urbana. Com isso, desde o  início de março até a última sexta, as cotações PVU do hidratado se desvalorizaram em 24,2% em Ribeirão Preto/SP. As incertezas acerca desse cenário e seus desdobramentos podem continuar pressionando os preços do biocombustível, que também devem ser afetados pela entrada da nova safra, tendo em vista a retomada na destilação do álcool. De fato, vale notar que, em meio à desvalorização recente do etanol, o açúcar voltou a operar com prêmio elevado em relação ao biocombustível.

Por isso, aumentamos em 1,1 ponto percentual a participação do açúcar no mix produtivo de 2021/22, para 46,3% - proporção que representa crescimento safra-a-safra de 0,4 p.p. Com isso, a produção da commodity é projetada para alcançar 36,1 milhões de toneladas, frente às 38,3 milhões de toneladas esperadas para 2020/21. Por outro lado, a fabricação de etanol de cana deve se posicionar em 25,8 milhões de m³, queda anual de 7,5%. Em meio às perspectivas de que a gasolina ganhe maior participação no consumo de combustíveis de Ciclo Otto, considerando a maior atratividade da produção de açúcar frente ao etanol, estimamos que a destilação de hidratado atinja 16,6 milhões de m³ (-12,0% frente à 2020/21).

O anidro, por sua vez, deve apresentar crescimento de 2,1% no comparativo com o ciclo anterior, para 9,2 milhões de m³. Por fim, é importante observar as perspectivas para a produção de etanol de milho. De modo geral, a conjuntura para o cereal permanece marcada por preços elevados e comercialização
avançada, bem como estoques baixos. Ademais, as incertezas com relação à oferta do grão também permanecem firmes, diante da possibilidade de atraso no plantio da safrinha – o que aumenta o risco de adversidades climáticas e, consequentemente, de quebras de safra.

Apesar disso, a recente elevação nos preços do álcool sustentou a margem das usinas de etanol de milho. Em Mato Grosso, principal estado produtor, por exemplo, a margem da operação chegou a superar significativamente a média dos últimos 03 anos em março. Em paralelo, a capacidade de destilação do biocombustível a partir do cereal tem se mostrado crescente, sendo que estimativas da StoneX apontam que o potencial de produção, considerando plantas em operação e projetos de construção e expansão, tende a se situar em cerca de 4,4 milhões de m³. Dessa forma, refletindo o crescimento no número de usinas em operação, aumentamos nossa estimativa de destilação de etanol de milho pelas usinas do Centro-Sul em 2021/22, para 3,2 milhões de m³, volume que representa aumento de 25,8% no comparativo com a temporada anterior. Desse total, 2,2 milhão de m³ representam produção de hidratado (+18,3%) e 1,0 milhão de m³ de anidro (+47,0%). Com isso, espera-se que a produção total do biocombustível se situe em 29,0 milhões de m³, retração de 4,7% em relação a 2019/20.

*Informações são do relatório da StoneX.

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