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Ciclo de brotação das frutas é alterado por último inverno

Pouco frio neste ano alterou o cultivo de frutas e diminuiu expectativa de colheita


As estripulias do último inverno no Rio Grande do Sul, com temperaturas superiores às esperadas para a época e poucos dias frios, provocaram problemas para o cultivo das frutas de clima temperado. Produtores de uva, maçã e pêssego admitem que a colheita será de 30% a 40% menor que a esperada. Como consequência da floração e da brotação precoces, o crescimento das frutas perdeu a uniformidade. Isso não deve afetar a qualidade, mas vai reduzir a quantidade da colheita, segundo avaliação dos agricultores.

“É um prejuízo que já está consolidado e não há o que o produtor possa fazer, a não ser esperar que nada mais de ruim aconteça”, analisa Derli Bonine, assistente técnico regional da Emater em Lajeado. Neste momento, tempestades e queda de granizo são a maior preocupação, revela.

Loana Cardoso, doutora em Agrometeorologia que atua no Departamento de Pesquisa Agropecuária da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação, afirma que a ocorrência de invernos amenos não chega a ser uma novidade no Estado. “O Rio Grande do Sul apresenta uma alta variabilidade de temperaturas de um ano para o outro”, destaca. “O agricultor não tem controle sobre o clima, não pode interferir nem reverter seus efeitos.”

De acordo com Loana, num quadro de normalidade se espera no Estado de 112 a 492 horas de frio abaixo de 7 graus Celsius e de 340 a 1.116 horas de temperatura abaixo dos 10 graus Celsius por ano. A regularidade das temperaturas é necessária para o ciclo saudável das plantas, que ocorre em dois períodos distintos, um de repouso e outro de crescimento vegetativo, que vai depender do primeiro.

Na fase do repouso há formação de substâncias que regulam o crescimento e que controlam as mudanças metabólicas de entrada e saída de dormência. As gemas dormentes necessitam acumular determinada quantidade de frio para uma posterior “quebra de dormência” e entrada em brotação. “Se o ciclo se desorganiza, temos uma quantidade menor de gemas e consequentemente um menor número de frutas”, explica a agrometeorologista. Sem o frio na época certa, as espécies de clima temperado podem sofrer distúrbios como brotação e floração erráticas, diminuição da taxa de brotação e alongamento do período de brotação e floração.

Volume ficará longe do recorde

Em 2017, a produção de uva do Rio Grande do Sul bateu todos os recordes e chegou a 750 milhões de quilos, graças a um inverno tido como impecável pelos produtores. O frio e as chuvas do ciclo foram adequados as geadas ocorreram dentro dos padrões tidos como normais. No início de 2018, quando ocorrer a nova colheita dos vinhedos espalhados por 40 mil hectares, cultivados por 15 mil famílias no Estado, a produção deve voltar à média e não passará dos 500 milhões de quilos.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Flores da Cunha, Olir Schiavenin, diz que ainda é prematuro calcular as perdas deste ano, já que as parreiras estão em fase de brotação e é preciso observar o enchimento dos grãos. “Mas o prejuízo já existe”, reconhece. “Vamos torcer que temporais e queda de granizo não o tornem maior.”

A uva mais cultivada no Rio Grande do Sul é a Isabel, que serve de base para a indústria de sucos e vinhos de mesa, e responde por 40% do total. A tendência, segundo Schiavenin, é que a variedade sofra perdas menores que as de uvas viníferas finas. Apesar da queda no volume, a qualidade deve ser preservada. “Sabendo como o agricultor manejou suas lavouras, esperamos ter boas frutas para oferecer ao mercado”, revela o dirigente sindical.

Antes da safra histórica de 2017, o recorde da cultura era de 709 milhões de quilos em 2011. Dos 750 milhões de quilos colhidos neste ano, 89% foram de uvas americanas e híbridas e 11% de uvas viníferas. 

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