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Clima e custos impõem cautela a produtores de soja do país no início do plantio



Agricultores preparam-se para iniciar o plantio de uma safra recorde de soja no Brasil tendo a cautela como lema, em um momento de preços relativamente mais baixos, alto custo e clima desfavorável nas primeiras semanas da temporada.

O plantio em importantes Estados produtores, como Mato Grosso, Paraná e Mato Grosso do Sul, pode ser feito a partir de 15 de setembro, data em que termina o vazio sanitário --período no qual não pode haver plantas vivas no campo, para evitar doenças como a ferrugem.

Muitos produtores, de olho em uma colheita rápida que permita a semeadura de uma segunda safra de milho, tentam colocar as plantadeiras no campo nos primeiros dias da temporada.

No Centro-Oeste, no entanto, o clima não deve colaborar com esses planos para os primeiros dias da temporada. Chuvas regulares chegarão à região apenas em meados de outubro, dentro do padrão histórico, mas talvez mais tarde do que o desejado por muitos agricultores.

"O risco de 'plantar no pó', antes das chuvas chegarem, vai ser enorme este ano. Não há nenhuma previsão de normalizar as chuvas em 15 de setembro", disse por telefone o agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, da Somar, direto de Tangará da Serra, em Mato Grosso.

O especialista está participando de uma série de mais de 20 encontros com produtores rurais e relata ansiedade por parte de muitos para que o plantio da soja seja feito o mais rápido possível.

"O risco de o produtor fazer um plantio sem regularidade das chuvas é muito grande. Pouca gente vai arriscar", disse o diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja MT), Nery Ribas. "Não se pode perder o investimento inicial, que não é barato. Está muito quente e seco", afirmou.

Após anos recentes de margens em patamares recordes, as despesas com insumos para a soja subiram 15,5 por cento em 2014, segundo o mais recente levantamento feito pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), na comparação com 2013.

Só as sementes encareceram 40 por cento. Ao mesmo tempo, o preço de referência do grão na bolsa de Chicago está atualmente 33 por cento abaixo do praticado um ano atrás.

Segundo a Aprosoja MT, praticamente todos os insumos para a próxima safra já estão comprados pelos produtores, sendo que alguns mais delicados e suscetíveis a dano, como as sementes, serão entregues nos próximos dias, a tempo do plantio.

"O custo não muda mais. O problema agora é o preço (a ser recebido) pela soja. Nosso recado para os produtores é cautela, cautela, cautela", disse Ribas.

No Paraná, segundo maior produtor de grãos do país atrás de Mato Grosso, os produtores também estão atentos ao clima e tentando driblar os custos.

"A gente não está tendo um clima favorável neste momento. Há previsões de melhorar até o início do plantio, mas até o momento não está adequado", disse Emerson Nunes, coordenador técnico de culturas anuais na Cocamar, uma das maiores cooperativas do Estado.

Segundo ele, os agricultores estão preocupados com as perspectivas de rentabilidade, em um momento em que os Estados Unidos --principal concorrente do Brasil no mercado global-- estão prestes a colher uma safra recorde, o que explica a queda nos preços.

"O produtor não vai deixar de usar a tecnologia e não vai deixar de plantar. Mas o preço preocupa. Ele pode usar semente 'branca', deixando também a compra de alguns insumos para decidir na hora", afirmou o técnico, referindo-se às sementes guardadas da safra passada e à compra de fungicidas e inseticidas.

PROJEÇÕES

Apesar de um indicativo menos favorável do que o desejado pelos agricultores para os primeiros dias da temporada, há boas perspectivas de que o Brasil vai quebrar novamente seu recorde de produção de soja, uma vez que ainda é vantajoso plantar soja frente a outras culturas, como o milho, apesar da alta nos custos.

O fenômeno climático El Niño, que deverá atingir o Brasil com intensidade fraca a moderada nos próximos meses, irá possivelmente favorecer o desenvolvimento da nova safra, com chuvas levemente acima da média.

Neste semana, diversas consultorias e entidades divulgaram suas projeções para a colheita em 2014/15, todas apontando expansão de área e colheita acima de 90 milhões de toneladas.

A INTL FCStone estimou nesta quinta-feira a safra nacional em 93 milhões de toneladas da oleaginosa.

A Lanworth previu aumento de 14 por cento na colheita, para 98 milhões de toneladas. A Céleres reiterou sua projeção de 91,3 milhões e a Clarivi de 95,1 milhões de toneladas.

No Rio Grande do Sul, a Emater/RS projeta um crescimento de 9 por cento na safra, e no Paraná o governo Estadual disse prever uma recuperação de 18 por cento no volume colhido.

(Edição de Roberto Samora)

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