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Clima propicia avanço do plantio no Centro-Sul


Nas duas primeiras semanas choveu nas principais regiões produtoras o equivalente à média do mês inteiro, como indica a agência Climatempo. E, até o dia 12, a área semeada chegava a 50% do previsto, pouco abaixo dos 48% do mesmo período de 2003.

Com o plantio adiantado, vão se confirmando os prognósticos de aumento na área plantada e na produção. A consultoria Safras & Mercados, por exemplo, prevê um crescimento de 3% na área cultivada, para 47,4 milhões de hectares e de 12% na produção, para 131,7 milhões de toneladas colhidas nesta safra 2004/05.

Se confirmados, esses resultados apontarão uma produtividade de 2,78 toneladas por hectare, quase 30% superior à da safra 2003/04, e próxima do recorde histórico de 2,79 toneladas por hectare, obtido na safra 2002/03.

O destaque, mais uma vez, será a soja, que deverá registrar aumento de 26% na produção, atingindo o recorde de 63,2 milhões de toneladas. A produção de milho deverá aumentar 1%; a de algodão 4% e a de arroz deve diminuir 3%.

Mas esses números vistosos não conseguem esconder a luz amarela que pisca sobre o agronegócio brasileiro. Os tempos em que a tonelada da soja atingiu os US$ 363,5 na Bolsa de Chicago (em abril de 2004), o nível mais alto desde 1998, ficaram para trás.Desde meados do ano, os preços internacionais vêm despencando - os da soja já caíram 31% desde a cotação de pico.

Mas há mais notícias ruins. O dólar se desvalorizou 14,2% em 2004 no câmbio interno em relação à cotação máxima, uma tesourada sobre o faturamento em reais do produtor. E a alta do petróleo, que atingiu em outubro os US$ 55 por barril de 159 litros, elevou os preços dos insumos e, conseqüentemente, os custos de produção.

Os fertilizantes nitrogenados, por exemplo, produzidos a partir do gás natural, subiram 35% este ano. A Federação das Cooperativas do Rio Grande do Sul calcula que, nos últimos 12 meses, os preços dos fertilizantes subiram 20% e os dos combustíveis, 10%.

Com custos mais altos e preços mais baixos, os agricultores notam que a rentabilidade de seu negócio está derretendo. Alguns exemplos: na região de Londrina (PR), a rentabilidade da lavoura de milho deverá cair de 29% na safra 2003/04 para 11% na 2004/05 e a da de algodão, de 27% para 0%. Em Primavera do Leste (MT), a rentabilidade da soja deverá despencar de 46% para -1%.

Para não descarrilar para o vermelho, os produtores têm agora de acertar a mão na produtividade. O analista Daniel Dias, da FNP Consultoria, calcula, por exemplo, que os sojicultores da região Sul terão de produzir pelo menos 45 sacas por hectare (ante 38,9 sacas na média histórica) para equilibrar receitas e despesas. E os do Centro Oeste, 48 sacas por hectare, ante 46 da média histórica.

O problema é que aumento de produtividade não combina com uma já esperada redução do pacote tecnológico para a safra. A Associação Nacional de Difusão de Adubos (Anda) prevê que neste período não vai entregar mais fertilizantes do que os 22,8 milhões de toneladas entregues em 2003. Esse total destina-se também às culturas perenes, como cana-de-açúcar e café. Considerando-se um aumento de 3% na área de grãos mais 5% na da cana-de-açúcar, a quantidade de adubo empregada por hectare deverá diminuir pelo menos 7%. Para o setor de defensivos, a previsão do Sindicato de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag) é de aumento de 8% no faturamento, cálculo baseado na grande procura por fungicidas destinados ao combate da ferrugem da soja. No setor de máquinas agrícolas, as vendas até outubro registram aumento de 0,7% em relação a igual período de 2003. E, na área de sementes, a previsão é de que sejam comerciali zadas 1,5 milhão de toneladas, o mesmo que no ano passado. A participação da soja transgênica na área plantada deverá aumentar de 17% para 23%.

Enfim, como afirma o economista Glauco Carvalho, da MB Associados, os bons tempos das últimas safras foram embora. Sobraram os pontos fracos de sempre, a deficiência na logística e a indecisão do governo em relação à liberação dos transgênicos.

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