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Colheita argentina rebate queda no lucro da soja

Agronegócio argentino enfrenta alta tributação com aumento na produção de soja


Agronegócio argentino enfrenta alta tributação com aumento na produção de soja. Ano de seca e inundações aperta contas dos produtores

Concorrentes diretos do agronegócio brasileiro, os produtores de grãos da Argentina enfrentam crise crônica de rentabilidade com produção ampliada nesta temporada. A ocorrência de seca no plantio e de inundações no meio do ciclo apertou as contas do setor, que precisa se desdobrar para não ter prejuízo.

Em viagem de uma semana pelo país, a Expedição Safra Gazeta do Povo apurou que, apesar das vantagens agronômicas e logísticas dos pampas argentinos, o declínio nos lucros se acentua. Lavouras concentradas num raio de 200 quilômetros do Porto de Rosário têm resultado líquido equivalente a fazendas de Mato Grosso situadas a 2 mil quilômetros do Porto de Santos (SP).

As retenções – que abocanham 35% do valor da soja e 22% da receita do milho na exportação – e o câmbio regulado por Buenos Aires cortam a renda bruta. Essa cobrança não existe no Brasil. E sobre o resultado líquido, os agricultores argentinos pagam ainda imposto de renda de 36%. Num ano com custos 10% maiores e cotações oscilantes, a rentabilidade fica entre 5% e 20%, margem equiparada à de Sorriso (MT). A soja teve alta de 10% e o milho queda de 17% na Bolsa de Chicago no último ano (primeiro contrato), mas os negócios em dólar seguem o câmbio oficial argentino, em que o dólar vale 8 pesos (3 a menos na compra da moeda norte-americana).

As previsões de que a produção vai chegar a 54,3 milhões de toneladas de soja e a 23,5 milhões de toneladas de milho, apontadas pela Bolsa de Cereales, soam como alento aos produtores. “Nas áreas arrendadas, o custo chega a 2 mil e 800 quilos de soja por hectare. Produzimos para pagar as retenções”, aponta o produtor German Santos, de Totoras (província de Santa Fé).

Com seu irmão Walter Santos, ele cultiva 1,95 mil hectares de soja e 300 hectares de milho. As lavouras sofreram seca de 20 dias e temperatura de 41 graus na fase inicial, e depois foram atingidas por 600 milímetros de chuva entre janeiro e fevereiro, volume normalmente distribuído em seis meses.

Com a colheita no início, os agricultores preveem produtividade de 3,2 mil a 3,4 mil quilos de soja por hectare. No milho, esperam de 7,5 mil a 9,5 mil kg/ha. O volume que vai além dos custos corresponde a 12% na oleaginosa, relatam. Reduzido o imposto de renda, o lucro fica abaixo de 10%.

As chuvas foram mais prejudiciais que a seca, mas trouxeram perdas localizadas, aponta o agrônomo da Bolsa de Cereales Juan Martín Brihet. Os alagamentos não derrubaram a safra porque a área da soja foi ampliada em cerca de 500 mil hectares, chegando a 20,3 milhões de hectares. O país só ultrapassou 54 milhões de toneladas de soja com a safra recorde de 2009/10 (com área 5% menor e produtividade 7% acima da atual). As projeções serão reavaliadas semanalmente durante a colheita, que engrena de março para abril.

Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo

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