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Colheita do milho safrinha invade a noite

Após período de chuva, produtores estendem expediente com medo de que o clima cause mais prejuízos


Para evitar prejuízos ainda maiores com o apodrecimento ou brotamento do milho safrinha na lavoura, agricultores da região de Campo Mourão, no Centro-Oeste do Paraná, lançam mão da colheita noturna. Na corrida contra o relógio, eles precisam tirar de 285 mil hectares de lavoura cerca de 800 mil toneladas de milho. O excesso de chuvas no mês julho, período de colheita, atrasou o trabalho das máquinas e, em algumas lavouras, os grãos estão se deteriorando.

A lua ajuda os produtores a dar conta do recado. Eles aproveitam o luar crescente e o clima ameno da noite, trabalhando até 14 horas por dia. É o caso do agricultor João Maria de Castro, de 49 anos, que ampliou a colheita até as 22 horas em Quinta do Sol. “O trabalho à noite, além de ser menos cansativo, gera economia. A máquina trabalha fria e com isso gasta menos óleo diesel. Com o calor do dia, o ar condicionado da máquina tem de ficar ligado direto, gastando mais. À noite também parece que cansamos menos”, afirma. Castro plantou 72,6 hectares e está colhendo bem menos que a média estadual, cerca de 1,6 mil quilos/ha. “A colheita virou uma corrida contra o tempo e contra São Pedro.”

Com uma área de 210,54 hectares para colher, José Fier, de 55 anos, teve de esperar mais de dez dias para iniciar o trabalho na lavoura. “Só chovia e não podíamos entrar na roça.” Por conta do atraso, ele foi obrigado a estender até as 22 horas a colheita na propriedade em Ivailândia. “Para evitar mais prejuízos com a chuva e os ventos fortes, o negócio foi trabalhar à noite também.”

O agricultor e mais três irmãos retiram diariamente da propriedade sete cargas com 220 sacas de milho cada uma. “É cansativo, mas não tem alternativa. No final da noite estamos mais quebrados que os grãos de milho”, diz Fier, que está colhendo uma média de 2 mil quilos por hectare.

Com medo de que uma ventania derrube o milho safrinha cultivado em 67,7 hectares, pronto para ser colhido há uma semana, o agricultor Roberto Nodak decidiu ampliar o horário de trabalho na propriedade em Fênix. “Começamos a colher às 8 horas e terminamos perto das 21 horas. Não dá para arriscar com o tempo. Se aparecer um vento forte, causa um prejuízo ainda maior que a umidade dos grãos (em 23%)”, lembra Nodak, que está colhendo uma média de 5 mil quilos por hectare.

O agricultor Valdecir Stedtn, de 41 anos, de Engenheiro Beltrão, sacrificou até o Dia dos Pais. “Todos os dias estamos esticando os ponteiros do relógio até 20h30 para dar conta de colher tudo antes de um pé d’água.” Segundo ele, mesmo com 21% de umidade, vale a pena colher, inclusive à noite. “Já tivemos prejuízos com a seca, a geada e com a chuva, se esperar mais vamos ter perdas ainda maiores. Vale a pena colher à noite, pois a máquina gasta menos.”

O agricultor, que no início do plantio tinha planos de colher uma média de 4,4 mil quilos por hectare, teve a expectativa frustrada com a seca, a geada e a chuva, e está colhendo apenas 2,7 mil quilos/ha. “Essa safrinha vai ficar na história.”

A extensão do horário de colheita também está ampliando o trabalho nas cooperativas. “Estamos recebendo as cargas até as 21 horas. Fora da safra o expediente termina às 18 horas”, conta o balanceiro de uma cooperativa de Campo Mourão, Giovane Ferreira.

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