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Com ferrovia, custo para os agricultores cairia até 30%

Previstos investimentos de R$ 99,6 bilhões na ampliação de linhas férreas



O apoio majoritário do transporte de cargas via rodovia vem encarecendo os custos do pequeno e médio agricultor. A perspectiva de empresários é que a mudança para o modal ferroviário poderia diminuir as despesas operacionais em até 30%, ampliando a competitividade do setor.

"Além do alto preço dos combustíveis, o custo com segurança para carga e o tempo de deslocamentos são venenos para o industrial e o agricultor menor", diz o doutor em transporte ferroviário da Universidade São Paulo, Luiz Henrique Brasson.

Segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) o novo modelo para uso das ferrovias no País, lançado com o Programa de Investimento em Logística, deverá proporcionar redução do preço do frete entre 25% e 30% para o usuário final, impulsionado pelo venda fragmentada de espaços dentro dos vagões ferroviários.

A potencial queda no preço, de acordo com o gerente de Regulação de Infraestrutura e de Serviços de Transporte Ferroviário de Cargas da ANTT, Alexandre Porto, acontece em função do ganho de escala que a operação com a Valec pode proporcionar ao adquirir toda a capacidade da ferroviaconcedida.

Segundo Porto, o modelo "open access", que será aplicado nas próximas concessões, consiste em um formato horizontal de negócio, onde a Valec compra a capacidade do modal do concessionário que ganhar o leilão, de modo que o operador será responsável apenas pela construção e manutenção da via.

Para Brasson, o modelo abrirá o mercado para que pequenos empresários se unam e comprem espaço. "Hoje o pequeno e médio agricultor, ou industrial, não consegue transportar seus produtos via ferrovias. Primeiro, porque há pouca malha - e muito custo -, segundo, porque para os operadores não é interessante fechar negócio com empresários menores e perder contratos com gigantes", diz.

Para Porto, "a compra de 100% da capacidade pela Valec vai permitir ganho de escala e aumentar a competitividade das empresas brasileira. Assim, o usuário da ferrovia vai pagar à Valec apenas pelo trecho que utilizar", explicou.

Centro-Oeste

Entre as ferrovias que precisam destravar com mais velocidade, Brasson destaca a Norte-Sul. "Esta malha será a espinha dorsal do Brasil. Com ela em pleno funcionamento, haverá uma grande impulsão no agronegócio, que acompanhará o crescimento da safra ano a ano", diz.

Segundo o gerente da ANTT, em 2013, a carga levada por esse meio de transporte chegou a 450 mil toneladas, em 28 quilômetros de extensão. "As concessionárias investiram R$ 5 bilhões em 2013", disse ele, lembrando que o grande desafio é a ampliação para atingir fronteiras agrícolas e minerais.

Porto destacou ainda dois projetos importantes: a Ferrovia Norte-Sul e a ferrovia que liga Campinorte (GO) e Lucas do Rio Verde (MT). "A primeira é um eixo estruturante, que conecta portos da região Norte com os do Sudeste, e a segunda atravessa grande região agrícola do País".

Pequenos e médios

A fabricante de ração para cavalos, bois e animais de pequeno porte, Ilustra, situada em Rondonópolis (MT) é uma das empresas que aguardam ansiosamente a chegada da ferrovia que ligará Campinorte a Lucas do Rio Verde.

Segundo o presidente da empresa, Emerson Silva, a ferrovia será fundamental para a saúde financeira do grupo. "Não conseguimos mais competir com as gigantes. Nossos custos de transportes são muito elevados", disse ele.

Na visão do executivo, a perspectiva de poder comprar, em conjunto com outros produtores, espaço nos vagões é a solução para o mercado.

"Temos por aqui uma associação que trata desse assunto, organizados poderíamos comprar espaços juntos, diminuindo em 30% nossos gastos atuais", finalizou.
Ferrovia parada

Em maio deste ano a presidente Dilma Rousseff inaugurou um trecho da Ferrovia Norte Sul. O espaço, no entanto, não começou a operar efetivamente e, após quatro meses parada, já precisa de ajustes para iniciar operação de transporte.

O trecho entregue vai de Palmas (TO) a Anápolis (GO) e a construção vem sendo feita desde 2005, mas se arrastou por quase dez anos. Nesse período, a obra foi embargada e, por várias vezes, até paralisadas em função de restrições de licenças. "Por causa disso, parte do material instalado acabou deteriorando", explica Brasson.

De olho no certame

Enquanto as licitações de ferrovias seguem travadas, empresários já começam apontar interesse na participação do certame. Este ano a Odebrecht Transport disse estar de olho nos processos e não descarta a entrada na corrida pelo controle de alguns trechos. Além da brasileira, a estatal alemã Deutsche Bahn (DB) e a chinesa Communication Construction Company (CCCC) já demonstraram interesse. As empresas, porém, estão buscando parceiros nacionais para o certame.

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