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Com soja desvalorizada, China pede mudanças na classificação

O governo chinês encaminhou ao Brasil proposta para mudanças dos padrões de classificação da soja exportada pelo País


Em meio à crise nos mercados e à forte queda no preço da soja, o governo chinês encaminhou ao Brasil proposta para mudanças dos padrões de classificação da soja exportada pelo País. Nem governo e nem iniciativa privada comentam diretamente o assunto, mas o receio é de que os importadores chineses estejam estudando neste momento meios de quebrar contratos firmados antecipadamente, quando a soja estava cotada a valores bem mais altos dos que os atuais e, assim, aproveitar o preço, mais atrativo - a soja fechou ontem em US$ 9,79 centavos de dólar por libra-peso. "Antes do agravamento da crise, a China fez exigências de qualidade que são muito difíceis de serem cumpridas", diz Sérgio Mendes, diretor da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).

A prática comercial de usar exigências de qualidade para quebrar contratos desvantajosos já foi usado pela China em 2004, quando navios carregados com soja e óleo brasileiros ( e argentinos) foram impedidos de descarregar no país com o argumento de que estavam com presença de fungicidas. Naquele ano, a China refugou carregamentos de até 300 mil toneladas de soja do Brasil. Na época, as cotações da soja também estavam voláteis, e os preços contratados pela China antecipadamente estavam acima do praticado naquele momento.

Fontes do Ministério da Agricultura informaram que a proposta da China de alterar padrões de classificação foi respondida com argumentos técnicos no dia 3 de outubro. O governo brasileiro também teria solicitado esclarecimento sobre a implementação dessa proposta e que ela não fosse implementada antes desse esclarecimento. "Nós também compreendemos que é possível que a China estejam estudando quebrar contratos. Mas não podemos afirmar que o objetivo é esse. O que o governo pode fazer é argumentar tecnicamente, o que já foi feito", diz o funcionário do Ministério, que preferiu não se identificar.
 
Ele explica que a proposta da China faz parte de mecanismo previsto na Organização Mundial do Comércio (OMC). No entanto, a maior parte das mudanças propostas pela China inclui alta exigência e, principalmente, falta de clareza nos critérios, que abririam brechas para interpretações de acordo com a conveniência dos importadores. "O documento coloca novos critérios de classificação para qualidade da soja que são diferentes do que os praticados atualmente, tanto no mercado como no Brasil. Traz novas definições que podem dar margem a procedimentos duvidosos", diz o funcionário. Segundo ele, os chineses classificam soja como grãos danificados e perfeitos, mas sem especificar tecnicamente o que significa isso.Para Vinícius Ito, analista da New Edge, ainda que a China resolva mudar regras no meio do jogo, o Brasil não seria muito atingido de forma geral, como seria os Estados Unidos neste momento. "Os americanos estão colhendo sua safra agora e têm um volume alto para exportar aos chineses que, compram 49% de sua necessidade dos Estados Unidos", detalha o especialista.

Dos cerca de 26 milhões de toneladas de soja previstas para serem exportadas pelo Brasil, 20,1 milhões de toneladas foram embarcadas até agosto. A estimativa é de que dos cerca de 6 milhões restantes, 2,5 milhões de toneladas ainda serão embarcadas para a China, ou seja, que estariam sujeitas a tais propostas de mudanças. No entanto, a dependência brasileira das importações chinesas não é pequena. De tudo o que o Brasil exporta em soja em grão para o mundo, 52% são para este mercado.

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