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Combate à miséria passa pela sociedade, afirma Graziano

Graziano defende articulação com governos para erradicar a fome


O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), José Graziano, sustentou nessa terça-feira em Porto Alegre que a luta contra a fome não depende apenas de órgãos governamentais. Graziano defendeu a participação da sociedade civil em um processo de reinvenção da erradicação da miséria.

“A luta contra a fome não é só de um governo, é uma sociedade que decide acabar com este grande problema”, apontou. “Não vamos mais utilizar receitas criadas em laboratórios financeiros, mas iremos debater em conselhos pluralistas este assunto. Utopia é achar que existe solução à margem da sociedade”, disse Graziano.

A tese foi apresentada durante o painel “A importância da sociedade civil nacional e internacional para a segurança alimentar e nutricional”, que abriu, pela manhã, as atividades do Fórum Social Temático (FST) em Porto Alegre.

O encontro ocorreu no Palácio Piratini e teve a participação do governador Tarso Genro (PT). O petista observou que 316 mil pessoas ainda passam fome no Rio Grande do Sul - no Brasil, a soma chega a 16 milhões.

Graziano assumiu neste ano a direção da FAO e teve ontem seu primeiro compromisso no Brasil à frente do órgão internacional. Ele também foi o responsável pela implementação do programa Fome Zero, criado no governo Lula (PT).

A FAO foi instituída em 1945, juntamente com a Agência Mundial da Saúde (AMS). Terminada a II Guerra Mundial, os fundadores da organização tinham na época a intenção de erradicar a fome no mundo.

Graziano entende que a organização internacional é uma agência de cooperação técnica e não um banco mundial de financiamento da miséria: “Nosso objetivo principal é difundir o conhecimento.” O diretor-geral da FAO também falou sobre problemas envolvendo a atividade agrícola nas nações mais pobres do mundo e a necessidade do aumento da produção frente ao crescimento populacional.

Os números do órgão internacional apontam que a produção agrícola da América Latina, por exemplo, deverá ser duplicada para suprir a demanda. “Esse aumento terá que ser efetivado com um salto tecnológico, sem destruição de áreas de florestas e preservando o equilíbrio do meio ambiente.”

Battisti vem ao Fórum e ‘rouba a cena’ no Palácio Piratini

O ex-ativista italiano Cesare Battisti estava na plateia no debate sobre segurança alimentar no Palácio Piratini, ontem pela manhã. Centro de uma polêmica diplomática entre Brasil e Itália - encerrada no final de 2010, quando o ex-presidente Lula (PT) negou sua extradição -, Battisti veio ao Fórum Social Temático em Porto Alegre para falar sobre seu novo livro, o romance “Ao pé do muro”, amanhã, às 13h.

Com o cabelo um pouco mais comprido e sem barba, o italiano foi notado por jornalistas enquanto o diretor-geral da FAO, José Graziano, e o governador Tarso Genro (PT) palestravam. Abordado pelos repórteres, Battisti falou que o livro foi escrito enquanto esteve preso Complexo Penitenciário da Papuda, No Distrito Federal. O italiano, que mora no Rio de Janeiro, diz que a obra é autobiográfica, apesar de ficcional, e aborda questões do Brasil sob a ótica de prisioneiros.

Após o término da atividade, Battisti foi cumprimentado por Tarso Genro. No entanto, a assessoria de comunicação do governo informou que o italiano não foi convidado para assistir à atividade e que não estava programada uma reunião.

A posição de Tarso como ministro da Justiça foi decisiva para que Lula optasse por manter Battisti no Brasil. O governador ressaltou que seu parecer foi técnico. “Minha relação com o caso Battisti não está balizada na militância histórica dele, que eu nem conheci. E sim com a aplicabilidade dos princípios dos direitos humanos internacionais e nos princípios constitucionais brasileiros para o caso de refugiados.” Ele classificou o governo italiano de Silvio Berlusconi de “corrupto e mafioso”.

A vinda de Battisti foi patrocinada pelo Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ).

Reunidos em Porto Alegre, comitês populares da Copa condenam remoção de famílias

Reunidos durante o Fórum Social Temático, em Porto Alegre, representantes dos comitês populares das 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 condenaram ontem a remoção de famílias pobres de locais que serão destinados a obras para o evento esportivo. A estimativa é que cerca de 150 mil pessoas sejam removidas.

Em dezembro, a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa entregou aos governos estaduais e municipais envolvidos no processo um dossiê com casos de violação de direitos humanos em obras urbanas para a Copa do Mundo de 2014.

Segundo a representante do Comitê Popular da Copa de Porto Alegre, Cláudia Fávoro, o momento, agora, é de definir estratégias para barrar a aprovação da Lei Geral da Copa.

“Queremos pautar de que forma essa lei incide sobre a soberania do Estado brasileiro, sobre as populações, sobre os direitos já conquistados pelo povo brasileiro. Vamos instaurar uma campanha e seguir com um calendário que vai se estender, pelo menos, até a Rio+20”, disse.

Ela citou casos como o de uma cadeirante que morava no Centro de Porto Alegre e foi removida para uma moradia sem adaptações para pessoas com deficiência física.

O dossiê lista também o banimento de carroceiros e o que chama de “privatização do lixo”. Nos próximos meses, o documento será desmembrado em temas específicos e, posteriormente, encaminhado para a Organização das Nações Unidas (ONU).

O representante do Comitê Popular da Copa de Curitiba (PR), Thiago Hoshino, explicou que megaeventos esportivos deixaram uma espécie de “rastro de violação de direitos” em cidades como Pequim, na China. Lá, dados não oficiais indicam que pelo menos 1,2 milhão de pessoas foram removidas para a execução de obras.
“É um processo de higienização social, de limpeza da cidade, de maquiagem urbana para a recepção de turistas”, avaliou.

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