Como manejar o percevejo na soja?
Inseto é um dos principais vilões da cultura da soja e responsável por quase metade de todas aplicações de defensivos

Na safra 19/20 o país cultivou 36,8 milhões de hectares de soja. Em um país tropical o desafio são as pragas, que acometem a cultura da oleaginosa de Norte a Sul. O entomologista do Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt), Jacob Crosariol Netto, falou sobre o percevejo durante uma live promovida pela Ihara.
O pesquisador começa explicando que em um sistema agrícola consolidado como o brasileiro (soja-milho-algodão) o manejo de pragas deve ser visto de forma integrada para dar bons resultados. Na soja as espécies de percevejos que acometem a cultura, causando dano direto, são o percevejo-marrom (Euschistus heros), o percevejo verde pequeno (Piezodorus guildinii) e o percevejo-verde (Nezara viridula) e também há os que atacam mais outras culturas como percevejo barriga verde (Dichelops furcatus), do milho.
A população de percevejos começa a aumentar no estágio reprodutivo da soja até atingir o pico, no final de ciclo. Depois o inseto migra para outras plantas hospedeiras ou outras culturas, causando prejuízos. “No caso do barriga verde o controle é extremamente importante porque se o produtor introduz uma safra de milho com alta infestação é prejuízo certo. Já o percevejo-marrom ataca principalmente a soja mas também acomete o algodão e o milho”, conta.
Cerca de 70% dos problemas da soja estão no percevejo-marrom, sendo a principal praga da cultura no Brasil, ocorrendo em todas as regiões. No outono hiberna parcialmente podendo ficar até sete meses sob extrato vegetal. Alimenta-se de várias plantas. “Quando o dano ocorre em estágios mais avançados da soja ele insere seu aparelho bucal e pica o grão. No meio do ciclo deixa os grãos chochos e quando ocorre bem no início, o grão não se desenvolve, havendo perda total pela toxina liberada pelo percevejo na alimentação”, explica. Também pode causar anomalias foliares, a chamada soja louca.
O percevejo verde pequeno é mais comum no Sul e Sudeste, prefere as fases de florescimento, ocorrendo um pouco antes dos demais percevejos e percevejo-verde prefere o Sul do país e costuma ter nível populacional menor.
Como controlar
Cerca de 49% das aplicações em soja são contra percevejos. Na safra 18/19 a grande maioria dos produtores (34%) precisou de três aplicações; 16% controlaram com apenas uma aplicação; 30% com duas e 5% precisaram de mais de cinco aplicações, segundo a Spark Consultoria.
Crosariol aponta que o principal ponto de combate é o monitoramento para que se tenha ideia do volume de população. Importante dividir em população migrante e população estabelecida. A migrante é mais fácil de controlar porque os insetos que vem de fora estão mais mal nutridos e são mais suscetíveis. Deve-se iniciar o controle do percevejo no estágio vegetativo para retardar o estabelecimento e manter a população mais baixa no final de ciclo.
No controle químico são usadas misturas prontas e organofosforados e o controle biológico também tem ganhado espaço, com uso de entomopatógenos e parasitóides como telenomus podisi e trisoulcos basalis, vespas que atacam os ovos e podem ser aplicadas. “É uma importante ferramenta para auxiliar na sobrevida dos químicos, complementando o controle químico, reduzindo populações resistentes. O produtor tem que saber que o biológico não tem efeito de aplica-cai (o chamado knock down). E um sistema construído com tempo”, conclui.