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Complexo soja concentra 70% das exportações


Os grandes números da balança comercial do Centro-Oeste, que no ano passado respondeu por 10,2% do superávit comercial brasileiro, mostram a Região batendo recordes nas duas pontas. As exportações, em 2002, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Secex/MDIC), saltaram para US$ 2,856 bilhões - 15,6% acima do resultado de 2001, uma velocidade quatro vezes maior do que o ritmo de crescimento verificado para as vendas externas no restante do País.

As importações, também contrariando uma tendência nacional, cresceram 9,9% e atingiram o valor igualmente recorde, para a Região, de US$ 1,515 bilhão. Como resultado, o superávit comercial (exportações menos importações) do Centro-Oeste superou US$ 1,340 bilhão, em um aumento de 22,7% na comparação com o saldo de US$ 1,093 bilhão registrado em 2001.

A participação das vendas externas originadas nos estados da Região e no Distrito Federal no total nacional alcançou o mais alto percentual em toda a série histórica de dados da Secex, saindo de 1,8% em 1991 para 4,7% no ano passado. No outro prato da balança, a participação das compras externas nas importações totais do País pulou da faixa de 1% para 3,2% no período.

Fronteira agrícola

No primeiro caso, a evolução guarda estreita relação com o avanço da fronteira agrícola, com especial destaque para a soja. No segundo, o crescimento acelerado das compras externas pode ser explicado pelo incremento das importações de gás natural da Bolívia e de equipamentos e máquinas destinados às termelétricas implantadas em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

Ainda que favoráveis em uma análise geral, os dados revelam uma crescente concentração das exportações, especialmente nos casos da soja e de seus derivados, e uma dependência em relação a produtos manufaturados importados. A soja em grão, sozinha, respondeu por 42,1% das vendas externas realizadas a partir do Centro-Oeste, somando US$ 1,204 bilhão - 17,2% a mais do que em 2001, quando a participação havia sido de 41,5%. Foram embarcadas 6,389 mil toneladas, um avanço de 10,7% .

Com os embarques de óleo e farelo de soja, as exportações do setor foram responsáveis por 68,9% das vendas externas, contra 64,7% em 2001. O aumento da produção de soja, a alta do dólar e a valorização dos preços internacionais ajudaram a impulsionar as vendas, que se concentraram entre julho e outubro, ao contrário de anos anteriores, quando o pico era entre abril e junho.

Contribuíram para puxar as exportações as vendas externas de miúdos de frango (US$ 73,681 milhões, mais 47,2% na comparação com 2001), ouro em barras (US$ 63,629 milhões, 18%), carne suína congelada (US$ 40,595 milhões, 257%), madeiras serradas (US$ 40,571 milhões, 19%) e compensadas (US$ 32,348 milhões, 70%), amianto (US$ 28,848 milhões, 36%) e carne bovina em conserva (US$ 20,5 milhões, 46%). As exportações de carne bovina congelada e resfriada mantiveram o terceiro lugar na pauta, mas despencaram, respectivamente, 41,8% e 31,8%, somando US$ 160,259 milhões.

O aumento das importações sofreu a influência do crescimento de 69% nas compras de gás natural da Bolívia (US$ 295,216 milhões), que representaram 19,5% do total. A participação sobe para 22,2% quando acrescidas compras de turbinas a gás (US$ 41,106 milhões), item que não constou da pauta em 2001. Os insumos para a indústria de fertilizantes surgem em segundo lugar, à exemplo do cloreto de potássio (crescimento de 42%, para US$ 88,208 milhões), seguidos por compras de sangue em fração (mais 288%, para US$ 37,550 milhões).

Velocidade das importações

Nos últimos dez anos, a velocidade de crescimento das importações na Região tem superado a de exportações, partindo de US$ 224,571 milhões em 1993 para US$ 1,515 bilhão em 2002 (mais 575%). O incremento foi liderado pelos produtos manufaturados (mais 783% no período), que passaram a ter um peso de 90%. A participação chegou a recuar para 55,5% no final do Governo Collor, o mais baixo nível da série. Mas voltou a subir a partir do final dos anos 90, com crescimento maior entre 1996 e 1999, quando cresceram 113%, coincidindo com a implantação do gasoduto e de termelétricas na Região. Desde 1999, as importações cresceram mais 26,7%. As vendas externas da Região, em dez anos, aumentaram 261%, movimento liderado pelas exportações de produtos básicos (mais 280%) e semi-manufaturados (mais 297%).

As vendas de produtos básicos, que respondiam por 61,8% das exportações em 1995, chegaram a 81,4% em 2002, abaixo dos 83,4% observados em 2001. As exportações de manufaturados recuaram de 11,2% em 1995 para 5,4% em 2002, o índice mais baixo da série - o que sugere um relativo insucesso das políticas de incentivo adotadas pelos governos locais nos últimos anos e reflete um processo de deterioração das relações internacionais de troca em prejuízo da Região.

A boa novidade em 2002 foi a abertura de novos mercados. As maiores taxas de crescimento das exportações foram registradas por Marrocos (653%), Rússia (518%), Japão (117%) e China (51%). Esses países representaram quase 17% dos embarques totais da região.

Lauro Veiga Filho - Goiânia/GO

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